O livro “O Lendário Forte do Iguatemi – A Tragédia do Espadim e os Pioneiros de Paranhos” conta mais de 250 anos de história da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Ao longo de 400 páginas, o escritor José de Abreu destaca as tragédias que marcaram a região, como a chacina de Natal em 1960, quando guerrilheiros contra a ditadura de Stroessner foram executados em Paranhos.
Da Guerra do Paraguai, Abreu destaca o episódio envolvendo 10 mil mulheres, que foram punidas por serem esposas dos traidores da pátria e obrigadas a marchar para acompanhar o Exército paraguaio.
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Elas padeceram “todo tipo de humilhação, sem falar das MILHARES que, exaustas, caiam pelo caminho, e sobre ordens do General Francisco Solano López, eram lanceadas pelos sicários”, destacou.
Confira alguns destaques do livro que será lançado nesta quinta-feira, a partir das 19h, no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, a partir das 19h, na Avenida Calógeras, 3.000, no Centro de Campo Grande.
Confira a apresentação feita por José de Abreu:
“O livro: “O Lendário Forte do Iguatemi – A Tragédia do Espadim e os Pioneiros de Paranhos” recentemente lançado em Paranhos, na data de 17/11/23, e com lançamento previsto para 14/12/23, no Anfiteatro do (IHGMS) em Campo Grande MS, é dividido em 4 partes: fazendo um apanhado histórico que abrange mais de 250 anos de história, destacando as seguintes narrativas:
- OS ENIGMAS DO IGUATEMI
Desde a saída dos paulistas (povoadores), partindo do Porto de Araritaguaba, hoje, Porto Feliz (SP), chegando até às margens e barrancas do Iguatemi, onde, desventuradamente fundaram a pomposa Fortaleza, a lendária vila dos confins; um aglomerado de quase 3 mil almas, num clima cercado por toda sorte de sofrimentos: doenças/ pragas / medo / fome / peste / abandono e muitas mortes.
O Forte Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, foi palco de muitas cenas inesquecíveis. As monções que partiam do Porto Araritaguaba, com destino até aqueles ermos isolados no sul da Província de Mato Grosso, conduzindo homens, mulheres, crianças, armamentos, além de sementes e criações, findaram seus derradeiros dias de vidas naquele sertão.
- A GUERRA COM O PARAGUAI – 1864-1870
Episódio que, em fevereiro de 1868, desfechou num ULTIMATO sob pena de morte, especialmente contra os que afrontassem às ordens, pois, a cidade de Assunção deveria ser evacuada num prazo de 48 horas.
Foi deste desatino que surgiu as DESTINADAS, mais de 10 mil mulheres, tidas como esposas dos traidores da pátria, cujos maridos se achavam presos. Sentenciadas, receberam como pena, punição ou castigo, a ordem de marcharem acompanhando o Exército paraguaio pelo interior do país, padecendo todo tipo de humilhação, sem falar das MILHARES que, exaustas, caiam pelo caminho, e sobre ordens do General Francisco Solano López, eram lanceadas pelos sicários.
Desta forma, as estradas ficavam juncadas de cadáveres; mulheres, crianças e pessoas idosas.
Destas INFELIZES, quase 3 mil conseguiram chegar até o deserto do Espadim, (hoje território brasileiro), tornando esse lúgubre lugar um DEGREDO de sofrimentos / um campo de extermínio / um CEMITÉRIO esquecido e mal lembrado, onde sepulta mais de 1.500 mulheres.
- REDEFINIÇÃO DA FRONTEIRA …, ENTRA EM CENA THOMAZ LARANJEIRA
Os trabalhos de demarcação da fronteira iniciaram-se no mesmo ano do Tratado de Limites em 1872, e foram concluídos em 1874. As atividades em campo executados pela CML, (Comissão Mista de Limites), do lado brasileiro, contavam com a eficiência do coronel Engenheiro Rufino Enéas Gustavo Galvão. Do lado paraguaio, a Comissão era representada pelo capitão de fragata Domingos Antônio Ortiz e o sr. José Dolores Espinoza.
O trabalho de campo por onde deveria correr a linha demarcatória, hoje conhecida como Linha Internacional, entre um país e outro, teve seu início a partir de 16 de agosto de 1872. Logo ao ser empossado nessa nova função, o então oficial brasileiro encarregado desta missão, tendo conhecimento da eficiência de Thomaz Larangeira, e dos seus serviços já prestados ao longo da guerra, o convidou para integrar na atual Comissão no exercício de secretário civil.
Após o encerramento desta missão ao longo da fronteira, em 1874;
Thomaz Laranjeira, em 1877, inicia a exploração de erva-mate de forma clandestina no sul da província de Mato Grosso, uma vez que ainda não possuía contrato de arrendamentos de terras devolutas com o Estado, o que só aconteceu, oficialmente, através do Decreto Imperial n. 8.799, de 9 de dezembro de 1882, concedendo ao já comendador e ex-fornecedor de mantimentos, a concessão para colher e industrializar a erva em Mato Grosso, renovando-o com a Proclamação da República, sendo que os referidos contratos foram, ao longo do tempo, prorrogados até 1946.
A Companhia Matte Larangeira, além do monopólio das áreas dos ervais, chegou a ter a quantia de 5 milhões de hectares de terras arrendadas, constituindo-se em uma das maiores arrendatárias de terras devolutas do Brasil.
A Companhia chegou a ter dois centros urbanos com estrutura de cidade, a conhecida Fazenda Campanário e Guaíra, às margens do rio Paraná. Nestas cidades de apoio, a Companhia dispunha de infraestrutura, tais como: prédios, oficinas, carpintarias, serrarias, carretas de bois, (chegou a ter 500 carretas e 18 mil bois para esta finalidade), escolas, hospitais, farmácias, telefone, luz elétrica, chatas, lanchas a vapor e até estradas de ferro. Para se ter uma ideia do seu poder econômico, no seu auge, a Companhia tinha um lucro seis vezes superior à arrecadação de impostos de Mato Grosso inteiro.
- PARANHOS ENTRA NA HISTÓRIA
Nesta parte do livro, baseado em depoimentos dos dois únicos (sobreviventes), da chacina ocorrida em dezembro de 1960, extraído do livro: “Masacrados en Nochebuena” 2002, de Efraín Martinez Cuevas. Desta forma relatam os sobreviventes o notável episódio que se deu naquela fatídica noite natalina de 1960, na região de Paranhos, deixando sua população estarrecida e perplexa.
Tratava-se, pois, da prisão de oito jovens paraguaios em pleno território brasileiro, cujos elementos pertenciam ao Movimento 14 de Maio, uma organização formada por jovens membros do Partido Liberal, e do Partido Revolucionário Febrerista, cuja finalidade, era destronar do poder o Governo paraguaio, o General Alfredo Gustavo Stroessner.
As forças policiais à mando do General Stroessner, já havia reprimido com rigor centenas de manifestantes, opositores, guerrilheiros, em vários pontos do país. Muitos revoltosos se puseram em fuga indo para outras localidades, especialmente para a Argentina.
Na a intenção de chegarem até a fronteira do Brasil, oito (guerrilheiros), ligados ao Movimento 14 de Maio, retornaram, partindo da cidade de Puerto Iguazú (Argentina), caminhando embaixo de uma tempestade de fogo, expelido pelas armas dos policiais do General Stroessner, avançaram com dificuldades por terrenos íngremes, pântanos e matas, até alcançarem a fronteira onde foram acolhidos pelo capataz da fazenda Santa Rosa do lado brasileiro.
A partir deste ponto, iniciou-se a trama que envolveram autoridades paraguaias e brasileiras, agindo pela avareza, e com o fim de beneficiar-se dos oito indefesos paraguaios que procuravam guarida em território brasileiro, tramaram as negociações.
As autoridades, brasileiros e paraguaios, ao tomarem conhecimentos de que oito (guerrilheiros), achavam-se nas dependências da fazenda Santa Rosa, tomaram medidas imediatas para prendê-los, e trazê-los até uma região denominada Aguará, numa propriedade pertencente a família dos Lopes. Enquanto isso, as negociações para entregar os presos para as autoridades paraguaias, mediante uma alta soma de dinheiro foram sendo costuradas. No dia aprazado conforme ficou então combinado entre os algozes, isto é, na noite de 24 de dezembro de 1960, já por volta das 23 horas, os presos, uma vez ludibriados e enganados pelo subdelegado e seus capangas, disseramlhes, que seriam levados até Ponta Porã, com o fim de legalizar-lhes suas situações perante as autoridades daquele lugar.
Numa trama macabra e articulada nos mínimos detalhes, os presos foram maniatados um ao outro, e amarrados na carroceria de um caminhão, e conduzidos até o local da execução. Na verdade, era uma emboscada armada contra eles nas margens de uma estrada solitária, local onde os algozes, armados com rifles e fuzis já os esperavam para aquele momento sangrento ocorrido nas primeiras horas daquele fatídico dia 25 de dezembro de 1960.
Deste horrível massacre, apenas dois sobreviventes escaparam com vida. Os seis corpos crivados de balas de vários calibres, se espalhavam pela relva úmida, tingindo com o sangue inocente a terra embranquecida daquela estrada solitária.
Numa cova rasa e coletiva feita às presas nas margens daquele caminho, findou-se os derradeiros dias daquelas almas desprotegidas que, em busca de sonhos e proteção em nosso solo, encontraram a morte. Não demorou e as notícias daquele diabólico plano estampou nas manchetes dos jornais da época, condenando aquela sanha contra oito jovens indefesos executado em território brasileiro.