O aumento de 20% na verba indenizatória dos vereadores de Campo Grande, que passou de R$ 25 mil para R$ 30 mil, é “uma medida cruel, contraproducente” e indica “a necessidade de renovação completa da Câmara Municipal em 2024. A opinião é do jovem advogado Douglas Barcelo do Prado, autor da ação popular que suspendeu o reajuste de 66% no salário da prefeita da Capital, Adriane Lopes (PP), no início deste ano.
O aumento no salário do chefe do Executivo de R$ 21.263,62 para R$ 35.462,22 no mesmo mês em que o município recusou a proposta de aumento nos salários dos guardas municipais e rejeitou pagar o adicional de insalubridade aos profissionais de enfermagem foi defendido pelo presidente da Câmara, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB).
Veja mais:
Apesar da Capital a beira do caos: vereadores elevam verba indenizatória em 20% e vão ganhar R$ 30 mil
Sem crise! Vereador da Capital eleva verba indenizatória em 48% e vai torrar R$ 4,3 mi por ano
Carlão ignora 13 vereadores e sepulta CPI do Consórcio Guaicurus após ouvir procurador
A farra com o dinheiro público com o pagamento de verba indenizatória também é defendida por Carlão. A Prefeitura de Campo Grande passa por uma das mais graves crises financeiras da sua história, comprometendo 55,14% da receita com o pagamento de pessoal e sem dinheiro para pagar o piso nacional para jornada de 20 horas aos professores, conforme acordo firmado há 11 anos, com postos de saúde sem 45 tipos de medicamentos e a saúde pública a beira do colapso com o desligamento dos maiores hospitais.
Enquanto a população sofre as consequências da crise, os vereadores não economizam para torrar o dinheiro público. “Vejo com estranheza que vereadores que estão às vésperas de sua candidatura à reeleição, vendo a população sofrer com os amargores decorrentes das maiores crises financeiras e de saúde pública já enfrentadas pelo Município de Campo Grande, se preocupando em praticamente triplicar a sua remuneração com o cargo, já que a verba indenizatória equivale a praticamente o dobro do salário dos vereadores da cidade”, lamentou Prado.
O advogado considerou a verba indenizatória de R$ 30 mil, que é paga em duas parcelas e todos os meses, e mais o subsídio de R$ 18,9 mil. Na prática, cada parlamentar custa quase R$ 50 mil por mês ao contribuinte.
“Esse aumento da verba indenizatória é uma medida cruel, contraproducente e que indica a necessidade de renovação completa da Câmara Municipal na próxima legislatura”, propôs o advogado, desafiando a sociedade a dar o troco nas eleições aos vereadores que ignoram a crise e o sofrimento do povo.
“A população de Campo Grande não pode tolerar que indivíduos que pensam tão somente em seus anseios representem uma comunidade que há tempos clama por respeito e por um serviço público eficiente”, afirmou.
“Ainda no que tange ao quesito crise de saúde, além da recente falta de medicamentos nos postos de saúde, há de se falar que os munícipes vem enfrentando enorme dificuldade em agendamento de consulta com especialistas, e amargam por anos à espera de sessões de fisioterapia, precisamos dar um basta nesse descalabro que estão fazendo com a nossa cidade”, lamentou.
Douglas Barcelo do Prado também foi o responsável por suspender na Justiça a farra de outros políticos. O prefeito de Três Lagoas, Ângelo Guerreiro (PSDB), teve reajuste de 64% cancelado pela Justiça. Ele pretendia ganhar R$ 34,5 mil por mês.
O prefeito de Bataguassu, Akira Otsubo (MDB), chegou a ir ao Tribunal de Justiça para defender o reajuste de 51% no próprio salário. O aumento ocorreu pouco antes do emedebista baixar um pacote de medidas de redução de custeio, inclusive cortando gratificações dos servidores e promovendo demissões.
Por mês, o pagamento de verba indenizatória vai custar R$ 870 mil aos cofres públicos. Sem considerar o gasto de quase meio milhão de reais com salários.