Uma briga envolvendo um professor e um coronel da Polícia Militar em um churrasco prestigiado por caciques políticos, como o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), foi parar na delegacia nesta semana e elevou a tensão entre os vereadores de Campo Grande. A turma do “deixa disso” não conseguiu por trégua e a briga deve chegar à Comissão de Ética do legislativo.
A celeuma envolve 2,5 mil assistentes de educação infantil da rede municipal de ensino, que possuem um salário de R$ 1,5 mil por mês. O vereador Alírio Villasanti Romero (União Brasil), conhecido como Coronel Alírio, 56 anos, prometeu viabilizar a criação de um sindicato para representar o grupo.
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Do outro lado, o vereador Juari Lopes Pinto (PSDB), o Professor Juari, 47, gravou um vídeo explicando que não é possível criar a entidade porque as funcionárias não possuem estabilidade. Sem saber que estava atacando o colega de legislativo, ele acusou Villasanti de realizar “promessas vãs” e atuar como “politiqueiro”.
O coronel não gostou e teria ficado furioso com o vídeo e decidiu ir ao churrasco, realizado pelo vereador Claudinho Serra (PSDB), na última quinta-feira (3) na Assomasul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul), para tirar satisfação. A confraternização contava com vários parlamentares, Gerson Claro e Reinaldo.
Na versão do Professor Juari, o Coronel Alírio entrou no local aos gritos e com dedo em riste. “Entrou surtado, gritando, tremendo, achei que era brincadeira”, lembrou o tucano, ao relatar o início da confusão na noite de quinta. “Estava em surto psicótico. Pedi para conversar lá fora por causa da música”, contou o tucano.
O vereador Marcos Tabosa (PDT) acompanhou a dupla com a intenção de acalmar os ânimos. Riverton Souza, o Professor Riverton (PSD) estava chegando e se uniu ao pedetista no esforço para acalmar Alírio. Apesar de ter porte, conforme Juari, o coronel não apontou nenhuma arma, como chegou a ser propagado em algumas rodas de conversa.
Tabosa confirmou a intervenção. “Acalmei a situação. (Alírio) foi para casa. Estava tudo certo. Foi um mal-entendido”, avaliou o vereador. No entanto, a confusão ganhou as páginas dos jornais ao longo da sexta-feira.
Juari tinha prometido registrar boletim de ocorrência e protocolar uma denúncia contra o colega na Comissão de Ética. As versões e a propagação de versões voltaram a acirrar os ânimos. Por volta das 15h de ontem, o tucano procurou a 3ª Delegacia de Polícia e registrou boletim de ocorrência contra o Coronel Alírio por injúria e agressão verbal.
Professor Juari ficou irritado com a versão do coronel de que tudo não passou de uma simples discussão. “Foi apenas uma discussão. Não sei porque tomou essa proporção aí, história de ameaça, de arma. Não é do meu perfil, quem me conhece sabe disso”, contou no coronel ao jornal Midiamax.
A versão deixou o tucano mais preocupado, conforme afirmou neste sábado. “Da maneira surtada com que invadiu (o local do churrasco). Estou preocupado. Ele deveria se retratar, pedir desculpas”, avaliou Juari.
“É um desiquilibrado armado. Estou com medo de levar um tiro”, dramatizou o tucano. Ele pretende pedir a suspensão do porte de arma do vereador e ainda a punição pela Comissão de Ética da Câmara Municipal de Campo Grande.
Em entrevista ao Midiamax, Alírio tranquilizou o colega. “Tenho 32 anos de serviço na corporação, uma carreira, com todo respeito, sem nada de desabono na minha conduta em 32 anos de corporação”, ressaltou.
“Eu sou de direita, sou conservador, mas tenho uma boa convivência com Ayrton Araújo, respeitosa. A divergência ideológica existe, mas a gente se respeita”, citou, sobre a boa convivência com o petista. “Não é do meu perfil”, garantiu, sobre a discussão que ganhou ares de confronto.
“Nem armado eu ando, a lei me permite andar armado, mas eu não ando. Só em situações especiais, aí tudo bem”, explicou. “No dia a dia não tenho muito esse hábito, nunca ninguém me viu armado. Só em situações excepcionais, quando viajo com a família, mas fora isso não tenho esse hábito”, garantiu.
Em nota, ele rebateu a questão da suspensão do porte. “Não tem o que se falar em suspensão do porte de arma, até porque não utilizo arma de fogo habitualmente, apesar de ter direito e não teve utilização de arma de fogo no fato ocorrido. O porte de arma de oficial da PM é regido por legislação federal e estadual. Tenho 32 anos de serviço na PM sem nenhuma mácula e punição. Tenho todas as condecorações da instituição e de outras forças, como a Marinha, por exemplo”, destacou Alírio.
Tabosa acredita que a paz entre os dois será selada na próxima semana com a volta do presidente do legislativo. O vereador Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), está viajando e deve priorizar um acordo no retorno.
“Sobre o boletim de ocorrência não tenho conhecimento e que se tiver sido registrado não tem muito a ser discutido por não ter passado de um discussão e divergência política”, minimizou o coronel.