Mário Pinheiro, de Paris
No final do século 19, a Europa foi marcada pelas ideias liberais do progresso científico por pessoas capacitadas, sábios, juristas e filósofos com olhar otimista na garantia da liberdade, paz e prosperidade. As sociedades europeias se engajaram num processo de civilização para melhorar as condições sociais das pessoas.
Aos trancos e barrancos a democracia tomava rumo, discutia, avançava, debatia e realizava projetos de restauração. O problema é que o nacionalismo ligado ao que havia de mais conservador no âmbito religioso veio criar o egocentrismo arcaico com uma moral doentia. O século 20 ficou marcado pela onda nacionalista de Espanha, Itália e Alemanha.
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Franco, que se dizia católico apostólico romano, incendiou a Espanha com a guerra civil cujo resultado apresenta 145 mil mortos, 134 mil fuzilados e 400 mil exilados. Franco se dizia do bem, pela pátria e a família, apoiado à partir de 1.936 pela Opus Dei fundada por José Balaguer, canonizado por Joao Paulo II em 2000.
Benito Mussolini é mostrado como o pai do fascismo, doador dos 43km² que formam o Vaticano em 1929. Ele criou o grupo paramilitar, a milícia, no intuito de formar a juventude para somar forças no fascismo, algo como desejava o clã Bolsonaro em união com evangélicos e os mais diversos tipos de pessoas semialfabetizadas.
Então, Mussolini fez reinar o nacionalismo italiano e abriu diálogo com Adolfo Hitler. Hitler, espero, uma grande parte dos leitores conhecem sua trajetória catastrófica. Eram todos de direita ferrenha, com discursos de ódio, homofóbicos, xenofóbicos. No Brasil, Bolsonaro tenta usar da ingenuidade de católicos e evangélicos.
Estes adjetivos foram calculados e vivenciados pelo clã Bolsonaro. A diferença é que Mussolini e Hitler tiveram final infeliz ainda em 1945, com exceção de Franco 30 anos depois. Para a realidade espanhola, o pintor Picasso fez o quadro da tragédia intitulada: Guernica.
Para ir além destes adjetivos de maltrato ao ser humano, o atual chefe da política brasileira incluiu o racismo, o ódio, a tortura, ajudou as pessoas a assumirem o monstro que mora em cada um. Deus queira que esse pesadelo acabe dia 2 de outubro, que o lixo possa ser recolhido das ruas e a água suja volte para o esgoto.
A direita jamais se preocupou em diminuir a desigualdade porque ela é o fator de riqueza e propensão social dela. O quesito conservador do nacionalismo coloca a moral em primeiro plano, seus valores imorais ao usar Deus para colocar em prática o proselitismo.
O que já foi ruim na Igreja Católica hoje migrou aos evangélicos que levam a pecha de alienados, de escória ao presidente que concorre à reeleição. O lema do fascismo italiano é o mesmo da ditadura brasileira e do ex-capitão, nada mais a acrescentar nos poucos neurônios que eles possuem é Deus acima de tudo, Pátria e família, uma trilogia do atraso.
O totalitarismo é a reflexão de experiências insanas, desumanas, e que para compreendê-la é preciso escola, educação e consciência crítica, coisa que o mandato bolsonarista abomina. Ora, rir da morte do outro, imitar o doente que sofre falta de ar, zombar e gargalhar da situação alheia em plena pandemia, é sociopatia. Se 700 mil mortes não sensibilizam uma pessoa, a razão é que não existe sentimento, empatia, aptidão.
A eventual vitória de Lula nas eleições de outubro significa um basta ao “chucrismo”, ao boçalismo, ao ignorantismo e a devassa da família que acha que tudo é possível, até impor sigilo de um século para compras e atos inescrupulosos. Não deu certo colocar militares em primeiro plano com próteses penianas, lambança com leite condensado e a primeira dama se ocultando sob o checão recebido do Queiroz. Basta!
Que eles possam responder judicialmente a origem macabra de tanto dinheiro vivo gasto com imóveis. Deus, Pátria e família não pode dar certo num país subordinado a suportar a fome, os maus-tratos e a voracidade de falsas informações. É o atraso da ideologia do terror adepto direto da tortura e da guerra civil.
O Brasil deixou de ser pacífico graças à ignorância e truculência do chefe do Planalto amante do totalitarismo, mas ele mesmo desconhece o termo e prefere ditadura. Aos leitores desatentos, totalitarismo se resume em tirania, é o regime da banalidade do mal.
Hannah Arendt, filósofa judia exilada nos Estados Unidos em 1941, faz a melhor descrição deste regime que envolve terror, sevícia, extermínio, e permite aos dirigentes a eliminação sumária dos opositores. Ela descreve que há diferença entre totalitarismo e regime ditatorial, mas o conteúdo é parecido. O estilo Bolsonaro tem que ser parado antes que a tragédia aumente e fique ainda mais insuportável.
Afinal, dar liberdade ao ditador é o mesmo que criar um filhote de serpente venenoso que depois de crescido fica perigoso, difícil controlá-lo. Generais, capitães, cabos e milicos jamais foram adestrados para compor a política, mas para assegurar e vigiar a segurança nacional, nada mais.