Mário Pinheiro, de Paris
Segundo Hegel, em “A Fenomenologia do Espírito”, “a religião representa o espírito absoluto não somente para a instituição, mas também para o pensamento e o conhecimento. Sua destinação capital é de levar o indivíduo ao pensamento de Deus, de provocar sua união com ele e de guardar esta união. A essência da verdadeira religião é o amor”.
Não são armas, nem a proliferação do ódio, muito menos o proselitismo seguido de acusações vazias contra cultos afros e outras religiões. Primeiramente, e antes de tudo, religião não salva ninguém se as atitudes não forem sedimentadas no amor.
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Hegel escapa da semântica idealizada por Kant. A maneira consciente e simples apresentada por Hegel se baseia na dialética. Kant trabalha a religião nos limites da razão. Na Crítica da Razão Pura, o “eu, o mundo e Deus” formam a base do postulado da razão prática.
Para Kant, a moral conduz à religião, mas esta moral pode também ser usada de forma inadequada. Por exemplo, a pessoa mentirosa, odiosa, repugnante, arrogante, negacionista, que diz “Deus no comando de tudo”, usa camiseta com estampa “Jesus”, mas vomita seus verbos cortantes e fuzilantes contra minorias, mulheres e jornalistas, caso do presidente que usa da fraqueza de espírito das pessoas que dizem ver nele o messias que reina no cercadinho de Brasília. Por ser favorável aos métodos da tortura, que é ausência de amor, afeto e compaixão, ele se torna representante do mal e alicerce da hipocrisia.
Jesus, em seu tempo, fez o milagre da multiplicação dos pães, ressuscitou Lázaro, surdos ouviram, coxos andaram, cegos viram, esteve com miseráveis, prostitutas e pecadores que, depois, deram testemunho do bem.
O mestre nunca incentivou seus discípulos a pegarem armas e jamais foi negativista. A única vez que o filho de Deus fez da corda um chicote, foi quando os vendilhões transformaram o templo em balcão de negócios. Este balcão virou exemplo de corrupção no Ministério da Educação e Cultura do atual governo, coordenado por pastores que usam a Bíblia como desodorante e a arma como muleta. Esta falsidade moral se encaixa tanto aos católicos quanto aos evangélicos.
Desta forma, para Kant, o argumento moral não é puramente especulativo, mas de orientação prática. O pensador alemão considera nossa predisposição ao bem e ao mal, assim como René Descartes. Ele afirma que o homem é mal quando ele subordina a lei moral aos motivos da sensibilidade. Para um político o caso se torna pior, porque ele se sente apto para a tirania. Kant desmistifica a doutrina cristã e aponta a falsa religião. No Brasil não tem somente falsa religião, há falsos pastores e falsos fiéis.
O método desenvolvido por Hegel é dialético, consiste em pensar as contradições e conduz para a síntese. A dialética hegeliana foi decisiva na história e influenciou Husserl, Marx na sua economia social e Sartre no existencialismo. Esta falsidade contra a verdade religiosa se faz presente na atualidade brasileira e a história é outra, a dos imbecis.
Multiplica-se, não os pães, mas o número de imóveis comprados com dinheiro vivo, celebra-se culto em pleno Planalto na intenção de expulsar o demônio, mas o próprio demo e senhor do mal ampara o pastor que abençoa a dinastia corrupta.
A opinião pública acabou se esquecendo das rachadinhas do senador ranhento, do cheque de R$ 89 mil para a primeira-dama e da influência da ex-mulher do presidente, e sem falar das falcatruas do Queiroz e da milícia, tudo funciona para a família.
O vazio de católicos e evangélicos sedimenta a falsidade do messias. O Brasil corre o sério risco de se tornar um país acéfalo, pseudo-religioso, de teocracia fundamentalista como de países islâmicos que adotaram a xaria.
A moral anda na frente com Deus acima de tudo e liberdade para a corrupção assinada com sigilo de 100 anos, as armas milicianas e a cocaína. Neste caso repetiríamos a frase de Marx “a religião é realmente o opium do povo”.