No artigo “Democracia, idiocracia e fascismo”, o jornalista e filósofo Mário Pinheiro defende a democracia como o melhor modelo. Contudo, ele critica o atual chefe de Governo brasileiro, sem citar nominalmente Jair Bolsonaro (PL). “Quem opta em votar na idiocracia, aquela que assume o rancor, baba ódio no altar com Deus acima de tudo, até com marcha para Jesus, pode requisitar a pecha fascista como fariseu fora de hora”, afirma.
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“O Brasil elegeu a idiocracia e paga caro pelo erro, pelo crédito abusivo no complô judicial. Se o fascismo vestiu a farda racista, o habitante do Planalto abriu caminho para as pessoas assumirem o lado do mal, da exclusão, da violência, e paradoxalmente gritarem que são cristãos”, pontua.
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Ele também ressalta a volta da democracia após 21 anos da ditadura militar, iniciada após o golpe em 1964. “A democracia é o sistema político de vidro que renasceu no Brasil depois de quase três décadas de ditadura. Faltava liberdade, melhoria salarial, mais humanidade e empatia porque os porões da ditadura assassinaram gente que tinha cérebro e coragem de lutar. O mal estava incorporado nos militares, era impossível separar a fome pelo poder, a traição da farda, o coração estava amargo e dilacerado pela ordem”, diz.
“Por mais que ela possa ser frágil, nela está a magnitude da clareza, de projetos de grande e pequena importância. E quando ela descamba para a corrupção, a justiça age e não procura controlar o procurador geral como se fosse um cão adestrado”, conclui.
Pinheiro também cita o gasto com o cartão corporativo da presidência da República. Conforme a revista Veja, apesar de propagar vida simples e modesta, Bolsonaro tem gastado a mesma quantia que Michel Temer (MDB), o mais impopular presidente da história brasileira.
Confira o artigo na íntegra:
“Democracia, idiocracia e fascismo
Mário Pinheiro, de Paris
Na democracia reina o debate, a transparência que pune e não empurra a poeira debaixo do tapete, mesmo que alguns membros da PGR (Procuradoria-Geral da República) tenham engavetado denúncias contra presidentes como no caso de Collor, FHC, Temer e Bolsonaro.
Por mais que ela possa ser frágil, nela está a magnitude da clareza, de projetos de grande e pequena importância. E quando ela descamba para a corrupção, a justiça age e não procura controlar o procurador geral como se fosse um cão adestrado.
A democracia é o sistema político de vidro que renasceu no Brasil depois de quase três décadas de ditadura. Faltava liberdade, melhoria salarial, mais humanidade e empatia porque os porões da ditadura assassinaram gente que tinha cérebro e coragem de lutar. O mal estava incorporado nos militares, era impossível separar a fome pelo poder, a traição da farda, o coração estava amargo e dilacerado pela ordem.
A prática da tortura colocou milhares de corpos em covas comuns, um buraco neutro, sem nome, sem dedos, sem dentes, exatamente como alguém sem endereço, sem família, enterrado como indigente. O inviável se tornava viável.
Toda dor é um mal, segundo Aristóteles. O filósofo grego afirma que o prazer que temos em vista, é caracterizado pela ausência de sofrimento corporal e problemas mentais. Ora, o governo atual se faz de cego, de insensível e de humilde embora gaste horrores com cartão corporativo e enfia um decreto de sigilo sobre o que é ruim e mal, praticado por ele.
Naquela mítica aparição em Juiz de Fora, o teatro trágico pôs-se à vista com uma faca mágica, talvez de plástico ou de borracha, um comediante pago para interpretar o agressor. Este agressor, embora cercado de gente babando ódio e exibindo mais músculos que cérebro, não agrediu o sujeito agressivo, o que é o milagre da falsa rebeldia.
Hanna Arendt reafirma o pensamento aristotélico de que o homem é um animal social e político, cujo termo também foi usado por Sêneca e Tomás de Aquino. É direito e dever do povo fazer desembarcar do poder uma pessoa que desune, desgoverna, mantém a carga pesada sobre o lombo dos pobres ao governar para a elite e os latifundiários.
O Brasil elegeu a idiocracia e paga caro pelo erro, pelo crédito abusivo no complô judicial. Se o fascismo vestiu a farda racista, o habitante do Planalto abriu caminho para as pessoas assumirem o lado do mal, da exclusão, da violência, e paradoxalmente gritarem que são cristãos.
Quem opta em votar na idiocracia, aquela que assume o rancor, baba ódio no altar com Deus acima de tudo, até com marcha para Jesus, pode requisitar a pecha fascista como fariseu fora de hora.
Arendt enumera também, não que Platão e Artistóteles tenham ignorado e negligenciado a condição humana, mas que o homem moderno não pode viver à margem da sociedade, com características desumanas e que é necessário o mínimo de organização”.