A disparada nos preços dos combustíveis não preocupa apenas o presidente Jair Bolsonaro (PL), que até trocou o presidente da Petrobras visando as eleições deste ano. A alta encareceu os alimentos, obrigando o consumidor a deixar de comprar produtos tradicionais, como o tomate, e passou a exigir “milagre da multiplicação” na hora do supermercado. A inflação oficial chegou a 1,73% em março em Campo Grande, o maior valor para o mês em 28 anos, desde a implantação do Plano Real em 1994, de acordo com o IPCA do IBGE.
[adrotate group=”3″]
O descontrole dos preços faz o consumidor mais velho reviver os tempos de inflação, marca do cotidiano brasileiro até as administrações de José Sarney e Fernando Collor de Mello. A situação é ainda pior em Campo Grande. De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica acumula alta de 29,44%, a maior do País, no mês de março.
Veja mais:
Preço do arroz dobra em MS, pacote sai até a R$ 30 e ajuda a salgar preço da cesta básica
Servidores acumulam perdas de 36,24% na gestão Reinaldo; cesta básica subiu 60% em 6 anos
Cesta básica tem 3º maior alta no País e alimentos mais caros penalizam campo-grandense
Preços do arroz e óleo disparam e cesta básica sobe 39,57% em um ano, a maior em 26 anos
A cesta básica está custando R$ 715,81 na Capital, o 5º maior valor do País, só atrás de São Paulo (R$ 761,19), Rio de Janeiro (R$ 750,71), Florianópolis (R$ 745,47) e Porto Alegre (R$ 734,28).
Na hora de ir às compras, o consumidor já se deparou com o tomate a R$ 25 o quilo na cidade. A presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a estampar todas as capas de revistas quando o quilo chegou a custar R$ 10 em 2014. Na promoção, o produto custa entre R$ 9 e R$ 10,90, três vezes o valor de R$ 3,72 em março do ano passado. A cenoura também triplicou e pode ser encontrada até por R$ 15 o quilo.
O aumento do custo de vida assustou a dona de casa Claunice Alves Dauzacker. Atualmente, ela conta que gasta R$ 1,4 mil na compra mensal de supermercado. Em relação ao gasto no ano passado, quando deixava R$ 600 na compra do mês, houve aumento de 133%. “Os alimentos estão muito caros”, conta.
Claunice diz que trocou a carne bovina pelo frango, que está mais em conta. Até o peixe deixou de ser opção. Ela relata que a costelinha de pacu custa R$ 40, aumento de 207%, já que custava R$ 13.
O óleo de soja subiu 14,4% apenas em março, de acordo com o DIEESE. Claunice conta que reduziu a quantidade de óleo na panela para economizar. Agora, um litro chega a durar 15 dias – antes era de 10 dias. O mesmo ocorre com o botijão de gás.
A dona de casa trocou o supermercado pelo atacarejo como parte da estratégia para economizar. A economia é necessária, porque houve aumento no gasto com energia (passou de R$ 180 para R$ 298) e água (de R$ 250 a 300 para R$ 460).
Já a aposentada Zenaide Rosa de Jesus Watanabe trocou a carne bovina pela suína, frango e ovo. Ela ainda compra o tomate, mas reduziu as compras pela metade. “Agora é um quilo e olhe lá, porque não dá para ficar sem”, comentou. Antes, ela tinha o hábito de comprar dois quilos.
“Quem ganha um salário mínimo não vive”, lamenta Zenaide, que culpa Boslonaro pelo encarecimento dos preços. Ela cita o caso do arroz, que custa entre R$ 8 e R$ 9. Atualmente, o pacote de cinco quilos não custa menos de R$ 15.
Para Andréia Ferreira, supervisora do DIEESE em Mato Grosso do Sul, o aumento dos alimentos reflete a alta nos combustíveis. Esse é o principal motivo dos hortifrúti estarem mais caros, porque 85% vem de fora da Capital.
“Temos observado um agravamento das condições climáticas e de oferta dos produtos – a redução de área plantada de algumas culturas, como arroz, por exemplo, não foi revertida”, explica a economista, acrescentando outros fatores.
Outro motivo é o dólar valorizado. “Mesmo com a redução, o dólar continua tornando mais atraente para o grande produtor rural exportar – daí, além destes itens que são pauta de exportação aqui em MS, temos a carne com o preço sustentado em alta”, acrescenta.
A expectativa é de que a inflação continua acima dos dois dígitos nos próximos meses. O sul-mato-grossense ainda vai ter o aumento na conta de luz, que deverá subir entre 14% e 16% no fim deste mês. A data-base era esta sexta-feira (8), mas a Energisa, que reteve lucro recorde de R$ 601 milhões no ano passado, pediu para adiar o reajuste por 22 dias.