No artigo “Banco Central: diagnóstico certo e remédio errado”, o economista e ensaísta Albertino Riberio condena a política de elevar a taxa básica de juros para conter a inflação no Brasil. Na sua avaliação, há algo errado na política de Roberto Campos Neto para combater o aumento do custo de vida com ações que podem agravar a crise econômica, a dívida pública e o desemprego.
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“O economista Jose Luís da Costa Oreiro disse, em artigo publicado ontem pelo jornal Brasil 247, que ‘o Banco Central está aumentando os juros para atender o interesse dos rentistas’”, pontua Ribeiro, ao citar outros economistas, que também criticam a atual política de combater o dragão com a alta dos juros.
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“Por que usar um remédio contra o excesso de demanda, em um contexto de baixa atividade econômica? Qual seria o objetivo do BC nesse caso? Procuro, obviamente, buscar respostas e colocar-me no lugar do presidente do Roberto Campos Neto, mas não consigo encontrar uma reposta lógica”, pondera.
“Os maiores vilões da inflação – segundo o próprio Banco Central – foram a energia elétrica e o preço dos combustíveis. Além disso, várias commodities, como alimentos, tiveram aumento pressionados pela alta do dólar. Pode-se notar que todo o cenário aponta para inflação de custos e não de demanda. Numa situação como esta – pergunto mais uma vez – qual seria a justificativa para aumentar a taxa de juros?”, questiona.
Confira o artigo na íntegra:
“Banco Central: diagnóstico certo e remédio errado
Albertino Ribeiro
O economista Jose Luís da Costa Oreiro disse, em artigo publicado ontem pelo jornal Brasil 247, que ‘o Banco Central está aumentando os juros para atender o interesse dos rentistas’. O argumento do professor de economia da Universidade de Brasília segue a mesma linha de economistas desenvolvimentistas como Paulo Gala, da Fundação Getúlio Vargas, e André Roncaglia, do Departamento de Economia da USP.
O Banco Central tem usado tanto o mesmo remédio que – para os leigos que gostam de ler sobre economia – o único que pode ser utilizado para combater a inflação é o aumento da taxa de juros. Esta virou panaceia, como se existisse apenas uma causa para despertar do dragão, ou seja, excesso de demanda. Ora, um economista do nível daqueles que ocupam o CMN (Conselho Monetário Nacional), não podem agir como se fossem leigos.
Por que usar um remédio contra o excesso de demanda, em um contexto de baixa atividade econômica? Qual seria o objetivo do BC nesse caso? Procuro, obviamente, buscar respostas e colocar-me no lugar do presidente do Roberto Campos Neto, mas não consigo encontrar uma reposta lógica.
Uma das causas da inflação de demanda ocorre quando a taxa de desemprego está na curva ou, pelo menos, próxima a curva do pleno emprego. Segundo consenso entre os economistas, considera-se pleno emprego taxa de desemprego entre 3% e 6%, bem longe da taxa atual que é de 12,1%. Como se não bastasse, o rendimento médio do trabalhador encolheu 11,1% em 2021.
Os maiores vilões da inflação – segundo o próprio Banco Central – foram a energia elétrica e o preço dos combustíveis. Além disso, várias commodities, como alimentos, tiveram aumento pressionados pela alta do dólar. Pode-se notar que todo o cenário aponta para inflação de custos e não de demanda. Numa situação como esta – pergunto mais uma vez – qual seria a justificativa para aumentar a taxa de juros?
Ademais, aumentar a taxa de juros, além de não resolver o problema da inflação, provoca efeitos colaterais deletérios à economia, pois o aumento de um ponto percentual na taxa de juros, significa um acréscimo de R$ 50 bilhões no serviço da dívida pública, um efeito que tende a aumentar, segundo os próprios economistas ortodoxos, a desconfiança do mercado em relação à solvência do Governo Federal.
Não quero, a exemplo do professor da UNB, fazer fortes afirmações sobre as motivações do Banco Central, mas que existe algo de errado “no ar”, isso é uma constatação.”
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