O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o ex-governador André Puccinelli (MDB) tiveram, na última sexta-feira (3), o primeiro encontro desde que viraram inimigos políticos. Na Assembleia Legislativa, eles conversaram, deram risadas e se deixaram ser fotografados. Qual a estratégia política da reunião justo no dia em que ambos tiveram grandes derrotas na Justiça?
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O governador não conseguiu impedir a retomada da investigação da Operação Motor de Lama, denominação da 7ª fase da Lama Asfáltica, que apura desvios milionários no Detran e pagamento de propina ao seu filho, o advogado Rodrigo Souza e Silva. A decisão do juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal, foi publicada no Diário da Justiça.
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Puccinelli não conseguiu trancar a ação penal por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo suposto recebimento de R$ 25 milhões em propinas da JBS. A ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, deixou claro que o processo não está lastreado apenas nas delações premiadas, mas em outras provas autônomas.
O encontro ocorreu justo neste dia. Reinaldo teria trocado a agenda para prestigiar a posse de Paulo Duarte (MDB) como deputado estadual. Ele garantiu a vaga do deputado ao nomear outro emedebista, Eduardo Rocha, marido da senadora Simone Tebet, como secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica.
O tucano espera a retribuição do favor de Duarte e Rocha, que devem apoiar a candidatura a governador do secretário estadual de Infraestrutura, Eduardo Riedel (PSDB). André espera a fidelidade dos companheiros para contar com eles no palanque na tentativa de retornar ao comando do Estado pela 3ª vez.
Quando a ida de Rocha foi anunciada, Puccinelli minimizou e pediu em um grupo de WhatsApp para que seguissem em frente. Na sexta-feira, foi à cerimônia, no famoso: ver para crer. A ida do ex-governador chamou atenção por todo enredo de suposta traição. Todavia, teve quem entendeu a situação como uma forma de marcar território e deixar claro para Rocha e Duarte que está no jogo e conta com apoio.
Se Paulo Duarte apoiar Riedel não será surpresa, visto que ele já foi oposição a Puccinelli no mandato de deputado. Já Eduardo Rocha é marido de Simone Tebet, a quem Puccinelli considera uma afilhada. Ele, inclusive, abriu mão da candidatura ao Senado em 2014 para ajudar Simone a realizar um sonho de ocupar a vaga que um dia foi do pai dela, Ramez Tebet.
A cerimônia colocou Puccinelli frente a frente com Reinaldo Azambuja e Eduardo Riedel. Puccinelli acusa a equipe de Reinaldo Azambuja de fazer de tudo para prejudicá-lo. O emedebista atribui aos tucanos a Operação Lama Asfáltica, que lhe custaram cinco meses de prisão junto com o filho, o advogado André Puccinelli Júnior, e uma penca de ações na Justiça. A sua volta ao governo se tornou uma questão de honra e criou uma rivalidade que, hoje, parece ser maior que a que tinha com Zeca do PT.
Com tantos capítulos e cenas curiosas, cabe agora ao tempo mostrar quem será quem neste jogo onde quem está no poder geralmente leva vantagem. Com a máquina na mão, Azambuja faz o que está ao seu alcance para alavancar Riedel e Puccinelli, hoje fora do poder, sente na pele o que já fez quando era governo e também tratorava os adversários.
A diferença é que há alguns anos Puccinelli era governador e o PSDB o apoiava, tendo o então deputado Reinaldo Azambuja em sua base na Assembleia.
O encontro de ambos pode ser apenas para marcar território. Por outro lado, também pode ser a retomada da antiga amizade do passado, quando os tucanos davam apoio e garantiam a governabilidade do MDB. E se for o início de uma nova aliança?
Se você briga ou pensa em brigar por política, pense bem. O inimigo de hoje pode ser o amigo de amanhã da pessoa que hoje você briga. E o eleitor corre o risco de ter deixado grandes amigos no passado por nada. Políticos se constroem na conveniência. A maior parte não segue princípios, ideologias nem programas, principalmente no Brasil, onde há uma salada de siglas, que mudam de posicionamento conforme o governante.