No artigo “A burguesia controla o crime organizado”, o jornalista e filósofo Mário Pinheiro relembro o “Escândalo Banestado”, como ficou conhecido o envio de fortuna por meio das contas CC5 para o exterior por políticos corruptos, criminosos do colarinho branco e narcotraficantes. Apesar de uma extensa lista, ninguém foi punido em um dos maiores escândalos dos anos 90.
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“A investigação do Banestado começa em 1997, mas a farra vinha de 1991. O cadáver já fedia e o procurador da República era Celso Tres. Entre 1991 e 2002, investigava-se o desvio de 219 bilhões de dólares, e isto fez do Banestado uma lavanderia de dinheiro”, relembra.
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“O esquema funcionava como uma máquina. Os traficantes de dólares no mercado negro (e por quê não branco?) ligados a funcionários de bancos governamentais utilizavam uma rede de contas bancárias com nome falso em contas fantasmas para “lavar” dinheiro ilegal cuja origem era corrupção pública, fraude fiscal, crime organizado perpetrado pelo Banestado”, destaca.
“Apesar das provas tangíveis com os nomes dos ladrões, a investigação parou durante um ano. Nunca houve processo penal contra os criminosos, pois além de políticos influentes, havia homens de negócio e latifundiários. O Banestado tinha a relação de nomes conhecidos com contas offshore em paraísos fiscais como Cayman, Jersey, Suíça, Mônaco, Luxemburgo e Paquistão. Depois este dinheiro retornava ao Brasil como se fosse de investimento estrangeiro”, diz.
Confira o artigo na íntegra:
“A burguesia controla o crime organizado
Mário Pinheiro, de Paris
Se engana quem pensa que os grandes mafiosos brasileiros estão na favela e muito menos na cadeia. Eles estão presentes em vários setores, no meio empresarial, no judiciário e, sobretudo, na política. Às vezes eles podem ser chamados de gangster moderno, os que dominam o discurso, a influência religiosa e a dramaturgia, isto é, são capazes de afirmar e de negar, são camaleões que trocam de partido e de veste. Ética e moral da família são palavras que seguem o falso pragmatismo. Mas para não cair no completo esquecimento, resgatamos o maior caso de corrupção que o Brasil assistiu.
A investigação do Banestado começa em 1997, mas a farra vinha de 1991. O cadáver já fedia e o procurador da República era Celso Tres. Entre 1991 e 2002, investigava-se o desvio de 219 bilhões de dólares, e isto fez do Banestado uma lavanderia de dinheiro.
A possibilidade do envio ilegal em espécies havia sido criada pelo Banco Central ao criar o CC5 em 1969, em plena Ditadura Militar, cujo objetivo era facilitar a vida de brasileiros que viviam no exterior. Mas no início da década de 1990 o envio se torna assalto criminoso de grande escala com lavagem de dinheiro. No Brasil, a denúncia veio de Roberto Requião, então governador do Paraná e do procurador. A movimentação era muito estranha.
O esquema funcionava como uma máquina. Os traficantes de dólares no mercado negro (e por quê não branco?) ligados a funcionários de bancos governamentais utilizavam uma rede de contas bancárias com nome falso em contas fantasmas para “lavar” dinheiro ilegal cuja origem era corrupção pública, fraude fiscal, crime organizado perpetrado pelo Banestado.
A investigação patinava até que o delegado federal José Castilho constatou que a maioria dos fundos aterrissavam nas contas do Banestado em Nova York. Castilho examinou 137 contas nos EUA num montante de 14,9 bilhões de dólares. Os beneficiários no estrangeiro tinham o mesmo nome de políticos brasileiros que atuavam no Congresso, desde ministros e mesmo ex-presidentes.
O escândalo revela que os homens de negócio, ligados a empresários e políticos sangravam as contas públicas sem pudor, sem dó, com sonegação fiscal, que, por meio de bancos em Foz do Iguaçu, enviavam aos EUA para valorizar a moeda e torciam para que o dólar sempre subisse em relação ao real, era a especulação financeira. Pior, a população brasileira não desconfiava, derretia-se com as novelas globais enquanto os verdadeiros ladrões de colarinho branco passavam a imagem de incorruptíveis, de pessoas sorridentes que no final do ano faziam campanha pra ajudar as crianças miseráveis.
Bizarro é que tudo foi para a mídia por meio do site WikiLeaks e nem o Ministério Público fazia questão de esclarecer o caso, pois havia gente poderosa metida na carniça, protegidos pelo escudo da mentira e por fraternidades maçônicas.
Michel Foucault qualificava esta prática como arqueologia do conhecimento. Tudo era sofisticado entre Washington e o Brasil. Os procuradores de Nova York prepararam uma lista especial do Banestado para o delegado Castilho que voltou ao Brasil com uma papelada extensa de 400 folhas, mas o relatório final soma mais de mil páginas.
Apesar das provas tangíveis com os nomes dos ladrões, a investigação parou durante um ano. Nunca houve processo penal contra os criminosos, pois além de políticos influentes, havia homens de negócio e latifundiários. O Banestado tinha a relação de nomes conhecidos com contas offshore em paraísos fiscais como Cayman, Jersey, Suíça, Mônaco, Luxemburgo e Paquistão. Depois este dinheiro retornava ao Brasil como se fosse de investimento estrangeiro.
A sopa criminal endossa com a chegada de um juiz paranaense, Sergio Moro. Ele se torna figura midiática, capitão entre os capitães, que assume o caso Banestado, cujo dinheiro fugia ao estrangeiro numa lavagem feita no Paraná. Tudo que passava por suas mãos ia para o jornal nacional da Rede Globo.
A população jamais imaginaria que esta emissora enviou, de uma só vez, 1 bilhão e 500 mil reais. O Zero Hora fez duas remessas que somavam 300 milhões de reais. Era uma relação tóxica que moldurava o perfil de “falso justiceiro” ao mesmo tempo em que o culpado tinha que ser alguém da esquerda. O único objetivo do juiz era enviar um cidadão para a prisão e não aqueles que realmente sujaram as mãos. Os nomes citados na extensa lista do Banestado nunca foram condenados.
O desafio era provar como o “juizeco” resolveu a questão das fraudes e desvios ligados ao Banestado. Com uma desculpa jurídica muito confortável “sem pé nem cabeça” no procedimento penal do Brasil, o caso jamais foi esclarecido. Sem que Castilho soubesse, sua documentação e o relatório saíram das mãos do Ministério Público e pararam no Senado e no Congresso.
Era o início da Lava-Jato em que Castilho chamou de “operação abafa”, cujo objetivo era minimizar ao máximo para não chocar os membros da maçonaria. Por outro lado, o documento também serviu para extorquir alguns milionários citados na lista.
Mas o dinheiro lavado não era somente fruto de desvios, era também o resultado do tráfico de drogas e de armas. O caso do “helicoca” é um exemplo. Ninguém foi preso, o helicóptero foi devolvido ao dono e os 450 quilos de cocaína sumiram. O tráfico de armas e drogas colocou a CIA e o Mossade de olhos arregalados. Através das contas do CC5 era fácil lavar dinheiro sujo e fomentar o mercado de dólares.
Os documentos oficiais foram manipulados pelos membros da Lava-Jato. A verdadeira lista de nomes sem falsificação estava na Suíça. Enfim, as contas do CC5 eram usadas pela burguesia corrompida que contava com ajuda de políticos influentes e do setor judiciário. Paulo Guedes, por exemplo, é um cidadão que mantém conta milionária em paraíso fiscal”.