No artigo “O ministro da Educação e a defesa do estamento social”, o economista e ensaísta Albertino Ribeiro critica Milton Ribeiro, que defendeu limitar o acesso à universidade para poucos. “Engana-se quem acha o ministro da Educação um conservador. Trata-se de alguém reacionário e com o mesmo ranço do ministro Paulo Guedes. Ambos são craques em dizer frases preconceituosas quando se referem aos pobres”, afirma.
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“Parece-me que o sonho do ministro é retorno à sociedade estamentária, como era na alta idade média (entre os séculos V e X ), quando sociedade era organizada em estamentos, uma forma de estrutura social em que as pessoas deveriam permanecer na classe social em que nasceram. Dito de outro modo, aquele que nascia pobre deveria permanecer como sempre fora”, critica.
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Ao contrário do ministro, o articulista vê na universidade como meio de pobres terem melhores salários e outra vida. “Na década passada muitas pessoas conquistaram a mobilidade social porque tiveram acesso à universidade. E não é somente estatística, todo mundo tem alguém no seu meio social que conseguiu empregos melhores depois de concluir a faculdade”, lembra.
“No meu círculo social, por exemplo, tenho uma amiga que foi empregada doméstica (todo respeito às empregadas domésticas), mas que ousou dizer: ‘a universidade é para mim também’. Hoje é professora com especialização e está muito feliz porque trabalha com aquilo que mais gosta”, conta.
Sobre os universitários desempregados, Albertino Ribeiro diz que deve ser visto como um desafio a ser superado como parte do processo de desenvolvimento do País e não um problema a ser resolvido com a exclusão dos pobres da universidade.
“O ministro da Educação e a defesa do estamento social
Albertino Ribeiro
“A universidade deve ser para poucos” – Milton Ribeiro, ministro da educação
A nossa construção histórica elitista e escravocrata está bem sedimentada na mente de muitas pessoas e seu atavismo social tornou-se bandeira para os membros do atual governo, que não desistem de impor ao Brasil a marcha do retrocesso.
Engana-se quem acha o ministro da Educação um conservador. Trata-se de alguém reacionário e com o mesmo ranço do ministro Paulo Guedes. Ambos são craques em dizer frases preconceituosas quando se referem aos pobres. Quem não lembra estupefato as pérolas do ministro da Economia, dentre elas, a indignação pelo filho do porteiro estar cursando a universidade?
“A boca fala do que o coração está cheio”, não é mesmo, pastor?
Parece-me que o sonho do ministro é retorno à sociedade estamentária, como era na alta idade média (entre os séculos V e X ), quando sociedade era organizada em estamentos, uma forma de estrutura social em que as pessoas deveriam permanecer na classe social em que nasceram. Dito de outro modo, aquele que nascia pobre deveria permanecer como sempre fora.
Universidade para todos
Na década passada muitas pessoas conquistaram a mobilidade social porque tiveram acesso à universidade. E não é somente estatística, todo mundo tem alguém no seu meio social que conseguiu empregos melhores depois de concluir a faculdade.
No meu círculo social, por exemplo, tenho uma amiga que foi empregada doméstica (todo respeito às empregadas domésticas), mas que ousou dizer: “a universidade é para mim também”. Hoje é professora com especialização e está muito feliz porque trabalha com aquilo que mais gosta. Aliás, este exemplo contradiz mais uma frase preconceituosa do ministro da Educação: “Hoje, ser um professor é quase ter a declaração que não conseguiu fazer outra coisa”.
Existem muitas pessoas com diplomas e que, infelizmente, estão desempregadas, porém não faz sentido fechar a porta das universidades para os pobres sob a alegação de que eles ficarão desempregados; é necessário buscar soluções mais inteligentes.
Segundo o site da revista Época Negócios, o Brasil está entre os países que menos formam profissionais nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Aprofundar esse problema desestimulando o ensino superior, seria condenar o País ao atraso definitivo.
Destarte, para que o ensino superior produza empregos de qualidade é necessário que nossos governantes assumam o protagonismo e tenham coragem de fazer política industrial de verdade, em sintonia com as universidades brasileiras. Existe um problema crônico em nosso tecido produtivo, pois o País está em processo de desindustrialização e torna-se, cada vez mais, dependente das atividades extrativistas – um retorno ao passado.
Se os nossos dirigentes não enfrentarem essa realidade – sem maniqueísmos ideológicos – nossos jovens não terão mobilidade social e estarão fadados a empregos de pouca qualificação e baixos salários.”