Enquanto a classe política sul-mato-grossense ficou ofendida e reagiu com bombardeio à revelação em rede nacional de que os índios passam fome em Dourados, o grupo comandado pelo economista Eduardo Moreira faz a diferença e doa 2,5 mil cestas básicas completas para 500 famílias indígenas. Os alimentos foram comprados após vaquinha na internet, que arrecadou cinco vezes o previsto.
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A polêmica começou com a repercussão da entrevista de Moreira a jornalista Leda Nagle, na qual contou que pessoas estavam passando fome e comendo restos de comida em Dourados. Alheios à realidade, políticos locais, como o prefeito Alan Guedes (PP), o presidente da Câmara, Laudir Munaretto (MDB), e o deputado estadual Marçal Filho (PSDB) reagiram com fúria e condenaram as declarações.
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O pequeno detalhe é que o pesquisador, coordenador do projeto “Brasil de Verdade”, referia-se à situação dos índios. “Foram ofensivas, grosseiras e levianas, pois não refletem a realidade dos mais de 225 mil habitantes que vivem na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul”, reagiu o tucano.
Moreira transformou o limão em limonada. Em live nas redes sociais, ele abriu vaquinha para arrecadar R$ 100 mil para comprar cestas básicas para os índios. A repercussão fez com que o grupo ultrapasse a meta e arrecadasse R$ 500 mil.
O advogado Tiago Botelho, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul) e coordenador do curso de Direito da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), ficou encarregado de colocar o projeto em prática. Um comitê gestor, formado por índios, discute a melhor forma de aplicar o dinheiro.
Nesta primeira fase, o grupo beneficiou 500 famílias, sendo 100 na Aldeia Yvu Verá e 400 nas reservas Jaguapiru e Bororó, a maior de Dourados. Cada família recebeu cinco cestas básicas, que incluem alimentos não perecíveis, verduras, legumes, produtos de higiene, ovos, frutas e frango. Foram aplicados apenas R$ 150 mil. Cada família ainda recebeu mudas de árvores.
A próxima etapa será a implementação de projetos estruturantes, como construção de galinheiros, hortas e poços. “Na minha percepção como advogado é que essa ação mostra para o município, Estado e para o Brasil que existem pessoas que apoiam a causa indígena e sim, existem pessoas que passam fome”, destacou Botelho.
“É um recado para os representantes e para os políticos de que é preciso fazer algo. Primeiro, é preciso demarcar à terra indígena. Não há o que se falar de fome sem falar em demarcação das terras indígenas. E depois garantir os demais direitos que é: o direito a alimentação, o direito a água, a cultura, a escola. Comer é um direito de todos! E os indígenas estão tendo esse direito negado. Em Dourados os indígenas passam fome aos olhos nus. As pessoas sabem disso, os indígenas reviram o lixo. A ação de ontem, é uma ação de denúncia e mostra ao Estado que ele precisa se atentar e cuidar dos direitos dos povos indígenas”, ressaltou, tocando no orgulho dos políticos da região.
Eduardo Moreira festejou o início promissor do programa. “Que alegria ver esse pontapé inicial de maneira estruturada, grande e entusiasmada que começaram o projeto”, afirmou. Ele destacou os voluntários, a organização, a representatividade do comitê e a participação dos movimentos sociais e da OAB.
Não sem tem notícia do que os políticos fizeram pelos índios além da fúria por divulgarem em rede nacional que há fome em Dourados, a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul e dos principais polos do agronegócio no País.