A investigação do Ministério Público Estadual sobre o desvio de R$ 1,019 milhão na 2ª etapa da Orla Morena descobriu que o ex-vereador e atual assessor da Câmara Municipal de Campo Grande, Pércio Andrade Filho, usou sacola de dinheiro para comprar um apartamento. Sortudo, o político teria ganho três vezes na loteria no período de um mês em 2014, coincidentemente, o mesmo ano em que teriam ocorridos nos desvios na obra.
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No mês passado, o juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, determinou o bloqueio de R$ 1,628 milhões do ex-parlamentar, do filho, Leonardo Barbosa Andrade, do irmão, Márcio Luiz Câmara de Andrade, e da GT Serviços e Engenharia, responsável pela obra, que dos quais o ex-assessor da Câmara Municipal seria sócio oculto.
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Pércio Andrade foi nomeado para cargo comissionado por João Rocha (PSDB), quando presidia o legislativo municipal. O atual presidente, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), manteve o político no cargo de assessor com salário de R$ 12.628,12, conforme o Portal da Transparência da Câmara Municipal.
A quebra do sigilo bancário e fiscal em 2018 mostrou movimentações atípicas nas contas de Pércio Andrade. Uma das suspeitas da promotoria é de que a empresa repassou o dinheiro para o sócio oficial, Orlando Torres da Silva e ele repassava para o ex-vereador. Entre agosto de 2014 e novembro de 2015, a GT repassou R$ 1,073 milhão a Orlando, que efetuou saques em altos valores logo após o depósito.
Pércio usou a mulher, Ana Maria Kemop Falcon para comprar apartamento no prédio Pablo Picasso, da Plaenge. O casal declarou ter pago R$ 360 mil. No entanto, o dono do imóvel, Honório Rodrigues Terra contou que vendeu por R$ 650 mil. A entrada, no valor de R$ 250 mil, foi paga em cash, dinheiro vivo em uma sacola. “Eu nunca tinha visto uma quantia desse tamanho em nota”, contou o antigo proprietário. Com medo, ele pediu para o ex-vereador ir ao banco com ele e depositar o dinheiro.
Ainda houve o repasse de R$ 150 mil da GT Serviços e Engenharia, que oficialmente pertencia a Orlando, para o dono do apartamento. Para o promotor Adriano Lobo Viana de Resende, o repasse é mais um indício de que Pércio Andrade era o sócio oculto da empresa para desviar dinheiro dos cofres públicos.
“Sua movimentação bancária é intensificada no período da obra aqui analisada, mas os valores, embora significativos, não são o principal ponto. Na conta, também chama a atenção o fato de ter recebido três prêmios de loteria, três vezes em menos de trinta dias. Embora não sejam valores expressivos, o fato denota situação deveras atípica e que nunca mais se repetiu durante o período de afastamento do sigilo”, pontuou o promotor.
O primeiro prêmio, no valor de R$ 32,9 mil, foi pago pela Caixa Econômica Federal, no dia 17 de outubro de 2014. O segundo, de R$ 5,4 mil, foi pago no dia 11 de novembro do mesmo ano. Dois dias depois, no dia 13, Pércio ganhou pela 3ª vez na loteria, R$ 42.011,26. Pelo menos no período analisado, ele não voltou a ter a mesma sorte.
O MPE também descobriu a compra de motor com 200 cavalos na Tecmar Motores Marítimos, no valor de R$ 85 mil, que foi pago pela GT por meio do seu irmão, Mário Luiz Câmara Andrade. Em depoimento ao promotor, o ex-vereador confirmou que a empresa pagou pelo motor. Já por meio do filho, ele comprou um colchão de R$ 9,8 mil para a esposa.
“Os valores não são compatíveis com a renda declarada, tratando-se de enriquecimento sem justa causa”, concluiu o promotor. “Em conclusão, os requeridos PÉRCIO ANDRADE FILHO, LEONARDO BARBOSA ANDRADE e MARIO LUIZ CÂMARA DE ANDRADE uniram-se informalmente a ORLANDO TORRES DA SILVA, ocultando a real sociedade estabelecida para fins de, mediante fraude à execução do contrato administrativo, desviaram dinheiro público”, afirmou, na denúncia protocolada em maio deste ano.
O ex-vereador, o filho e o irmão poderão recorrer contra o bloqueio e apresentar a defesa sobre as acusações. Orlando Torres da Silva morreu durante as investigações.