Acusado de usar o cargo para fortalecer o Podemos e enfraquecer o PSDB, o empresário Sérgio Murilo Mota pediu demissão do cargo de secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica. A saída do “secretário relâmpago” fortalece o chefe da Casa Civil e presidente regional do PSDB, Sérgio de Paula, principal articulador político de Reinaldo Azambuja (PSDB).
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Nomeado em fevereiro deste ano no lugar de Eduardo Riedel, que foi acomodado na Secretaria Estadual de Infraestrutura como parte da estratégia de torna-lo conhecido para ser o candidato a governador em 2022, Sérgio Murilo chegou anunciando desfalques no ninho tucano.
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Em entrevista ao Correio do Estado, ele anunciou que os deputados e irmãos, Professor Rinaldo e Rose Modesto, vão trocar o PSDB pelo Podemos na abertura da janela partidária em março do próximo ano. O anúncio acendeu o sinal de alerta entre os caciques tucanos, que trabalham diuturnamente pelo projeto de poder da sigla, que inclui continuar no comando do Estado e eleger Reinaldo para o Senado ou uma vaga na Câmara dos Deputados.
A situação piorou no mês passado, quando Sérgio Murilo usou aeronave do Estado para visitar obras em Corumbá e acertar a filiação do prefeito da cidade, Marcelo Iunes, no Podemos. Com a decisão de Iunes, o PSDB perdeu o 3º maior colégio eleitoral sul-mato-grossense. Na ocasião, o secretário negou o uso da aeronave para fazer política partidária.
A situação pirou com o assédio sobre o prefeito de Dourados, Alan Guedes (PP). O progressista teria ligado para o governador e reclamado que Sérgio Murilo exigiu a nomeação do vereador do Podemos para uma secretaria municipal em troca de verbas. O secretário de Governo negou a acusação, mas o assunto acabou sendo tema de reunião tensa na Governadoria.
Na ocasião, tucanos de alta plumagem davam como certa a saída de Murilo do cargo de secretário. No entanto, o governador acabou não anunciando a demissão e Sérgio Murilo acabou ficando por mais um mês no cargo.
Ontem, após participar de solenidade do pacote da retomada, ele confirmou que pediu demissão do cargo de secretário estadual de Governo. Sérgio Murilo negou qualquer relação com a crise com os cabeças coroadas do PSDB.
“Vou para um projeto maior com o partido Podemos”, afirmou o secretário. A legenda cogita lançar novamente o senador Álvaro Dias para a presidência da República em 2022. A presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, também solicitou ao empresário que faça parte do projeto do partido.
Uma opção para o Podemos no Estado, com a saída de Murilo, pode ser o lançamento da deputada federal Rose Modesto, ainda no PSDB, para disputar a sucessão de Reinaldo. Ela vem percorrendo o Estado e teve participação ativa na eleição dos três vereadores da sigla em Campo Grande: Zé da Farmácia, Ronilço Guerreiro e Clodoilson Pires.
A saída de Sérgio Murilo fortalece o chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula. Ele é o principal articulador político do PSDB desde a primeira vitória de Reinaldo em 2014 e comanda as articulações para fortalecer o nome de Riedel.
Outro projeto de Sérgio de Paula é garantir a eleição de Reinaldo, seja como senador ou deputado federal em 2022. O tucano precisa manter o foro privilegiado para não repetir a trajetória do antecessor, André Puccinelli (MDB), que acabou preso com o filho, André Puccinelli Júnior, na Operação Lama Asfáltica.
Caso seja eleito para o parlamento, Reinaldo poderá levar a Ação Pena 980 para o Supremo Tribunal Federal. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal de receber R$ 67,791 milhões em propinas da JBS em esquema que teria causado prejuízo de R$ 209,5 milhões aos cofres estaduais.