O ex-comandante da Polícia Militar e ex-deputado estadual, coronel José Ivan de Almeida (MDB), fez ameaças para obrigar o empresário a assinar promissória de R$ 450 mil, doar terreno em residencial de luxo e dar parte da participação na empresa de hidráulica. O oficial ainda ameaçou pendurar o engenheiro, a sua esposa e filha para força-lo a dar a caminhonete como parte do pagamento da dívida com o arquiteto Patrick Samuel Georges Issa, 43.
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Em depoimento no Garras (Delegacia Especializada na Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), o empresário de 46 anos contou detalhes da extorsão armada praticada pelo coronel e pelo policial civil aposentado Reginaldo Freitas Rodrigues, 62. Ele também afirmou que o devedor poderia enfrentar a fúria de Fahd Jamil, conhecido como “Rei da Fronteira”, e do filho, Flávio Jamil Correia Georges, o Flavinho, que está foragido na Operação Omertà.
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Inicialmente, conforme o depoimento, o policial militar se apresentou como “Diogo” e advogado de Patrick. Ele estava acompanhado por Reginaldo e um terceiro agente da Polícia Civil, conhecido como Charles Bronson, que está internado com covid-19. Na ocasião, o coronel exigiu o pagamento e fez ameaças contra a vítima.
“Defunto também paga conta”, teria dito o ex-comandante da PM. Como o empresário alegava não ter dinheiro, o policial exigiu a cessão de créditos da empresa e garantia de pagamento. Ele marcou o retorno para o dia 25 deste mês.
Aterrorizado, o empresário procurou um advogado e pediu socorro ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que acionou o Garras. A equipe do delegado Fábio Peró contou com a ajuda do empresário para armar o flagrante. Como Ivan não apareceu na terça-feira (25), os policiais mantiveram a campana e fizeram o flagrante ontem.
A prisão foi o ápice de um negócio feito em março de 2019, quando o sócio, um empresário de 40 anos, pediu R$ 80 mil emprestado de Patrick para montar uma loja de roupas. O negócio não deu certo. Em março do ano passado, antes de ser alvo da Operação Omertà, Flavinho se reuniu com o empresário e lhe aconselhou a quitar a dívida com o primo, porque este era “doido” e “alguém poderia levar um tiro”.
Patrick teria sido mais claro, se o empresário não assinasse a nota promissória de R$ 281 mil, ele poderia ser morto e estaria proibido de retornar a Ponta Porã, onde tinha negócios com a prefeitura.
Os empresários passaram a efetuar pagamentos mensais para o arquiteto. Ele ligava todo mês e repetia as ameaças, conforme os depoimentos ao Garras, como toma o gado ou a caminhonete. Juntos, eles repassaram R$ 250 mil. Patrick não ficou satisfeito e exigiu o pagamento de mais.
Coronel Ivan entrou para resolver a parada. Entre as ameaças, o oficial da PM dizia que os empresários poderiam enfrentar a fúria do “povo bravo da fronteira”. “Você sabe o que acontece com as pessoas que mexem com essas pessoas”, avisou.
De acordo com o delegado Fábio Peró, do Garras, no total, Patrick exigiu mais de R$ 600 mil para dar como quitado o empréstimo de R$ 80 mil. Acompanhado pelo advogado Ronaldo Franco, o ex-deputado recorreu ao direito constitucional de ficar calado e não respondeu a nenhuma pergunta feita pelos policiais.
Reginaldo respondeu a todas as perguntas, mas negou que ele ou o coronel tenham feito ameaças ou usado da violência para cobrar a dívida.
Patrick também negou que tenha feito ameaças ou usado da violência para receber. Ele contou que emprestou em torno de R$ 245 mil aos empresários. Como o pagamento foi feito em cheques, ele usou para trocá-los em casa de câmbio. No entanto, os cheques não tinham fundos e acabou se endividando para pagar os juros. Issa alegou que vem passando dificuldades por não receber o dinheiro do engenheiro e seu sócio na Capítal.
Em depoimento ao Garras, o arquiteto alegou que ainda tem R$ 360 mil para receber dos empresários. Ele disse que pediu ajuda do Coronel Ivan porque ele teria alegado conhecer o pai de um dos devedores. Sobre a cobrança, Patrick Issa disse que foi um “ato de desespero”.
O juiz F.V. de Andrade Neto, durante a audiência de custódia nesta quinta-feira (27), negou pedido de prisão preventiva feita pelo Ministério Público Estadual. Ele determinou a soltura dos três acusados.
Coronel Ivan e Reginaldo vão ser monitorados por tornozeleira eletrônica por 180 dias. Eles e Patrick não poder manter contato com as duas vítimas.
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