No depoimento por uma hora e 15 minutos no julgamento histórico da Operação Coffee Break, na tarde desta terça-feira (25), o ex-prefeito Alcides Bernal (Progressistas) afirmou que os vereadores de Campo Grande atuavam como “cobradores das empresas” em vez de defender o interesse público. Entre as revelações, ele contou os pedidos feitos pelos políticos, como o atual presidente da Câmara Municipal, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB).
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Ao se negar a atender os pedidos dos vereadores e do poderoso empresário João Amorim, que ele apresentou como “dono de fato” da Solurb, Bernal acabou sendo cassado por 23 votos a seis na madrugada do dia 13 de março de 2014. Ele acabou retornando ao cargo de prefeito no dia 25 de agosto do ano seguinte por determinação do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
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O ex-prefeito foi a última testemunha a prestar depoimento ontem ao juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos. Durante a oitiva, o progressista chegou a bater boca com o advogado Arnado Puccini Medeiros, da Solurb e da LD Construções.
Ao ser questionado pelo promotor Adriano Lobo Viana de Resende, da 29ª Promotoria do Patrimônio Público, ele disse que Edil Albuquerque, réu por improbidade administrativa, procurou-lhe no gabinete para pedir a manutenção do contrato de limpeza dos postos de saúde com a Total. No cargo de vice-prefeito, Edil havia prorrogado o contrato com a empresa e elevado o valor pago pelo município de R$ 6,8 milhões para R$ 11 milhões. De acordo com Bernal, o aumento ocorreu apesar de não ter “sido comprada uma vassoura nova”, nem “sido construído novo posto de saúde”.
O atual presidente da Câmara, Carlão pediu a manutenção do contrato de limpeza e manutenção dos cemitérios com a Taíra. De acordo com o ex-prefeito, o pedido não foi aceito, porque “não concordo com coisa errada”. No entanto, ele aceitou pedido do socialista para doar uma área do município, que fica no triangulo entre as avenidas Eduardo Elias Zahran e Salgado Filho.
Ao ser questionado pelo promotor Humberto Lapa Ferri, ele disse que Ronan Edson Feitosa “era amigo íntimo e pastor da mesma igreja evangélica de Gilmar Antunes Olarte”. Ao descobrir que o então assessor estava dando golpe em “idosos e pequenos empresários”, Bernal disse que o proibiu de entrar no Paço Municipal.
A descoberta teria sido o estopim do fim da relação com Olarte, seu companheiro de chapa. “Foi o pior erro da minha vida”, afirmou, sobre o vice, que classificou como inescrupuloso, marginal e que se deixou seduzir pelo dinheiro e pelo poder. “Mandei o Olarte ficar em casa”, afirmou, revelando que estava ciente da articulação para lhe cassar o mandato.
Sobre o então vereador Waldecy Nunes, o Chocolate, que passou da condição de fiel escudeiro a favorável à cassação, Bernal não escondeu a mágoa. Ele disse que deu oportunidade ao “palhaço”, que era filho de doméstica e catador de lixo. Conforme o ex-prefeito, em conversa no gabinete do prefeito na Esplanada, Chocolate teria lhe revelado que recebeu R$ 100 mil de Mário César (MDB), presidente da Câmara Municipal na ocasião, para votar a favor da sua cassação.
Chocolate ainda contou que foi levado por Airton Saraiva (DEM) para conversar com o governador André Puccinelli (MDB). O poderoso emedebista lhe prometeu todo o respaldo em troca do voto pela cassação. Segundo Bernal, Chocolate foi “sequestrado” e levado para uma chácara, onde os 23 vereadores teriam ficado confinados até o início da sessão do dia 12 de março de 2014, que resultou na sua destituição da prefeitura.
João Amorim foi citado do início ao fim do depoimento. De acordo com Bernal, apesar de não ser o dono oficial, o dono da Proteco cobrava o pagamento da Solurb. “Quem fazia a cobrança da Solurb era o senhor João Alberto Krampe Amorim dos Santos”, ressaltou. Ele disse que os vereadores também lhe pressionavam a efetuar o pagamento da concessionária do lixo.
De acordo com o ex-prefeito, os parlamentares da época não estavam preocupados com o interesse público nem com as irregularidades reveladas pela auditoria, como o corte de grama na Rua Ceará, que é toda pavimentada e calçada. “Aprovaram até voto de repúdio”, relembrou, sobre a atuação dos vereadores.
Ele acusou a Proteco, de João Amorim, de comandar a operação tapa-buracos. Pressionado pelo suposto cartel de empresas a elevar o valor pago pelo serviço, ele acabou sofrendo desgaste. “A imprensa ajudava, mostrando como se a cidade estivesse como um queijo suíço, cheia de buracos”, afirmou.
De acordo com Bernal, logo após ser cassado, Olarte teria repassado R$ 22 milhões à concessionária do lixo. Ele insinuou que o dinheiro foi usado para pagar os vereadores. No entanto, não soube apresentar prova a respeito da acusação.
Sobre André Scaff, procurador da Câmara Municipal de Campo Grande, ele disse que “é o vereador sem voto mais influente da Câmara Municipal”. “Manda que uma beleza”, exclamou. Ele disse que deixou R$ 1 bilhão no cofre do município. Após Scaff comandar a Secretaria Municipal de Finanças, a cidade passou a ficar no vermelho e ainda sofreu com a greve dos professores, dos médicos e dos varredores de rua.
Ele também comentou sobre os autores do pedido de impeachment, Raimundo Nonato e Luiz Pedro Guimarães. O primeiro acusou de ser lobista político. Nonato teria feito a reunião em sua casa para acertar a cassação de Bernal entre Gilmar Olarte e o ex-prefeito Nelsinho Trad (PSD). Ele riu quando o promotor enumerou as qualidades do produtor rural, de que seria simples e educado. “São as qualidades do lobista”, afirmou Bernal, rindo.
Bernal disse que Puccinelli nomeou dois vereadores para comandarem o processo de cassação: Mário César e Edil Albuquerque. O primeiro foi eleito presidente da Câmara. Albuquerque presidiu a Comissão Processante. A audiência de instrução e julgamento continua nesta quarta-feira com os depoimentos, a partir das 9h, de Luciano Rodrigues da Silva, Carlos Roberto Santos e Merces Dias Júnior; a partir das 14h, Paulo Sérgio Batista de Oliveira, Afonso Luiz Taveira e Nilson Antonio Verga.