Acusados de causar prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos em cinco anos, 21 integrantes da Máfia do Cigarro foram condenados a 547 anos e 10 meses de prisão em regime fechado. Os chefões de uma das mais sofisticadas organizações criminosas especializadas no contrabando de cigarro foram presos durante festa de casamento em resort de luxo de Alagoas em setembro de 2018.
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A sentença histórica, por ser um dos maiores golpes no crime organizado na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, é do juiz Ney Gustavo Paes de Andrade, titular da 2ª Vara Federal de Ponta Porã. A condenação foi publicada na sexta-feira (22) e os réus poderão recorrer ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
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Chefões da Máfia do Cigarro foram presos em festa de casamento em resort
O magistrado declinou competência para a Auditoria Militar de Campo Grande a denúncia contra os policiais militares Aparecido Cristiano Fialho, Joacir Ratier de Souza, Alisson José de Carvalho de Almeida e José Roberto de Santos. Esta é mais um golpe na corrupção praticada por policiais, que recebiam propina para manter a rota livre para o cigarro paraguaio.
De acordo com a assessoria da Justiça Federal, a Máfia do Cigarro pagava de R$ 70 mil a R$ 120 mil por mês aos policiais corruptos. Em setembro de 2018, ao deflagrar a Operação Nepsis, a Polícia Federal prendeu 12 policiais ligados ao esquema, sendo seis da Polícia Rodoviária Federal, quatro da PM e da Polícia Civil.
Na época, os chefões da organização criminosa foram presos durante festa de casamento realizada em resort de luxo em Alagoas. Conforme a PF, na ocasião, eles foram alvo de outra operação em 2008 e passaram a residir no Paraguai, de onde comandavam o contrabando de cigarro para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste do País.
Na sentença, o magistrado destaca que o grupo teria enviado mil carretas com cigarro para o Brasil de janeiro a dezembro de 2017. Estima-se que a sonegação de tributos em cinco anos foi de R$ 1,5 bilhão, o equivalente a quatro meses da receita do município de Campo Grande, com 900 mil habitantes.
“É uma das organizações mais complexas do País”, explicou o delegado Felipe Menezes, responsável pela Operação Nepsis. Eles teriam feito um consórcio para garantir o bilionário esquema criminoso.
Para evitar a interceptação das ligações pelos policiais, os chefes só se comunicavam por meio de aplicativos. Os motoristas dos caminhões recebiam telefones específicos para cada viagem, que eram descartados após a entrega da carga. Também usavam rádios para manter a comunicação entre os integrantes do esquema.
Entre os 21 condenados, a maiores penas foram aplicadas aos chefões. Valdenir Pereira dos Santos foi condenado a 66 anos e oito meses de prisão em regime fechado, enquanto Ângelo Guimarães Ballerini, a 64 anos, 10 meses e 12 dias. José Carlos Guimarães Ballerini foi sentenciado a 37 anos, 7 meses e 6 dias. A pena dos demais variou entre 13 e 34 anos de reclusão em regime fechado.
Confira a sentença de cada
Nome | Pena |
Ângelo Guimarães Ballerini | 64 anos, 10 meses e 12 dias |
Valdenir Pereira dos Santos | 66 anos, 8 meses e 19 dias |
Oziel Vieira de Souza | 26 anos e 4 meses |
Cleberson José Dias | 26 anos, 7 meses e 6 dias |
André Luiz Casalli | 25 anos, 9 meses e 6 dias |
José Marcos Antônio | 31 anos, 7 meses e 6 dias |
Diogo Machado dos Santos Leite | 34 anos, 7 meses e 6 dias |
Valdecil da Costa Loyo | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Josemar dos Santos Almeida | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Erico Pereira dos Santos | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Adel Pereira Costa | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Sidnei Lobo de Souza | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Jean Felix de Almeida | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Altair Gomes de Andrade | 13 anos, 3 meses e 6 dias |
Rogério Rodrigues de Lima | 14 anos, 8 meses e 12 dias |
Fábio Garcete | 28 anos, 9 meses e 6 dias |
José Carlos Guimarães Ballerini | 37 anos, 7 meses e 6 dias |
Gilvani da Silva Pereira | 23 anos, 8 meses e 12 dias |
Élcio Alves Costa | 27 anos, 8 meses e 12 dias |
Cleverson da Cunha Pestana | 24 anos, 1 mês e 6 dias |
Aparecido Mendes Luz Júnior | 24 anos, 1 mês e 6 dias |
Conforme a assessoria da Justiça Federal, os patrões eram responsáveis por articular o controle do sistema logístico em nível estratégico e tático, estabelecendo rotas pelas quais funcionariam o “corredor logístico de passagem”, contratando e demitindo gerentes e motoristas, indicando o valor que seria pago para os demais integrantes da organização criminosa, os dias de trabalho e de paralisação do transporte e determinando as ações que os gerentes devem adotar em situações consideradas críticas.
Os gerentes eram o elo entre os chefões e os demais integrantes da organização criminosa. Eles recrutavam os olheiros, mateiros e motoristas. Os garantidores-pagadores recebiam valores mensais para garantir a passagem de cigarros contrabandeados em determinada rota, agenciam outros policiais de sua região para a organização, informavam o monitoramento das atividades de fiscalização na região, serviam como ligação entre a organização e outros policiais. Eles informavam os policiais subornados e ainda tentavam atrapalhar investigações secretas da polícia.