Menos de dois meses após a exoneração de três assessores, o vice-governador Murilo Zauith (DEM) pediu demissão do cargo de secretário estadual de Infraestrutura e abandonou o Governo de Reinaldo Azambuja (PSDB). A exoneração ocorre em meio a boatos de atrito entre os dois e de mudança na estratégia do PSDB para se calibrar visando as eleições de 2022.
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Os tucanos querem continuar no poder apostando na candidatura do secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel, à sucessão estadual e de Reinaldo a senador ou deputado federal. Denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e chefiar organização criminosa, o governador busca meios de manter o foro privilegiado para não repetir o antecessor, André Puccinelli (PSDB), preso dois anos após deixar o cargo.
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A exoneração de Murilo foi publicada nesta segunda-feira (11). De acordo com a assessoria do Governo, o democrata pediu demissão. No entanto, ele continua substituto natural de Reinaldo. Caso ele seja afastado pelo Superior Tribunal de Justiça, o democrata assume o Governo e poderá disputar a reeleição no próximo ano. Isso também poderá ocorrer caso o tucano queira ser candidato a qualquer cargo.
Em 20 de novembro do ano passado, quando houve a exoneração de três assessores, Murilo já esperava ser demitido. “Ainda estou secretário?”, brincava, ao ser procurado para falar das demissões de dois assessores diretos, José Jorge Filho e Sebastião de Almeida Filho. Outro demitido foi o engenheiro Gamaliel Jurumenha de Oliveira, coordenador do Aquário do Pantanal.
A retaliação teria ocorrido por causa da vitória de Alan Guedes (PP) como prefeito de Dourados. O vereador derrotou o deputado estadual José Carlos Barbosa, o Barbosinha (DEM), que tinha sido ungido prefeito de Dourados pela cúpula do Governo. A população não aceitou o acordão nos bastidores e deu a vitória ao vereador.
O primeiro secretário da Assembleia, Zé Teixeira (DEM), não teria gostado da reunião de Murilo com o prefeito eleito de Dourados. A irritação do democrata se juntou a outros caciques tucanos, forçando a retaliação ao vice-governador.
Nesta segunda-feira, Murilo não atendeu nem retornou às ligações para falar da “exoneração a pedido”. No entanto, o secretário interino de Infraestrutura é aliado do democrata. Luís Roberto Martins de Araújo foi secretário municipal de Planejamento na gestão de Murilo como prefeito e também é empresário em Dourados.
O novo presidente da Agesul, Márcio Wagner Katayama, também é de Dourados e um dos aliados do vice-governador.
Araújo foi nomeado como interino. Reinaldo poderá nomear um tucano que precisa ganhar musculatura eleitoral para se candidato nas eleições de 2022. A Secretaria de Obras tem cacife de transformar desconhecidos em candidato bom de voto, como Delcídio do Amaral, eleito senador após se filiar ao PT e assumir a pasta em 2001.
A pasta serviu de vitrine para a candidatura a deputado federal de Vander Loubet (PT), quando deixou de ser conhecido apenas o sobrinho de Zeca do PT. Outro beneficiado foi Paulo Duarte, que se elegeu deputado estadual. Edson Giroto também ganhou eleição em 2010 após comandar a poderosa pasta.
O último a se beneficiar da “notoriedade” do cargo foi Marcelo Miglioli (SD), que quase se elegeu senador da República na primeira eleição em 2018. No ano passado, longe da estrutura da pasta, ele naufragou como candidato a prefeito de Campo Grande.
Caso não decida manter a Secretaria de Infraestrutura sob o comando do Democratas, Reinaldo poderá nomear Riedel, que vem percorrendo o Estado para ganhar visibilidade na disputa do Governo pelo PSDB. O presidente regional do PSDB, Sérgio de Paula, é outro cotado para a função.
O empresário Sérgio Murilo, presidente estadual do Podemos, é outro cotado para o cargo. No entanto, ele é muito ligado a deputada federal Rose Modesto (PSDB). Esse hipótese é pequena, principalmente, porque o PSDB estaria passando uma máquina de votos para a professora. Rose ignorou a decisão do partido no ano passado, de apoiar a reeleição de Marquinhos Trad (PSD) e embarcou na candidatura da delegada Sidnéia Tobias (Pode).
Até o momento, o Governo não divulgou o nome do novo coordenador do Aquário do Pantanal, obra emblemática, caríssima e marcada por denúncias de corrupção. Previsto para custar R$ 84 milhões, o empreendimento custou R$ 250 milhões e ainda não há previsão de ser concluído.
Murilo pretendia concluí-lo neste ano, mas a pandemia acabou atrasando entrega de peças e parte das obras foram suspensas por quase dois meses.
Até o momento, Reinaldo não definiu um novo coordenador para o Aquário do Pantanal, apesar do montante de recurso envolvido. Apesar do Governo ter mantido a equipe técnico, o megaprojeto parece estar a deriva.