José Jacinto de Luna Neto, 50 anos, construiu a fama atrás do balcão de farmácia, atividade que exerce há 38 anos, e lhe rendeu o apelido Zé da Farmácia, com o qual se tornou o 3º vereador mais votado em Campo Grande. Com 4.680 votos pelo Podemos e morador da Moreninha II, ele derrotou o líder do prefeito Marquinhos Trad (PSD), Chiquinho Telles, que não conseguiu se reeleger neste ano.
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Dono de 48 gatos, que cria junto com a esposa, Edna, e filho adotivo, Robson, 25, Zé da Farmácia se elegeu ao disputar a segunda eleição da sua vida. A primeira, em 2016, ele obteve 2.777 votos pelo PROS, ele acabou perdendo a vaga pela regra do quociente eleitoral.
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Ao contrário da maior parte dos candidatos, que gastaram uma fortuna em redes sociais, o atendente de farmácia não conseguiu impulsionar nada no Facebook porque só se atentou para a estratégia fora do prazo. “Não criamos o site, pisamos na bola”, admitiu.
Para garantir a eleição, Zé da Farmácia diz que apelou ao modo antigo de fazer política, apesar da pandemia da covid-19: sola de sapato e batendo de porta em porta na região das Moreninhas, composto também pelos bairros Nova Jerusalém, Nova Capital, Santa Felicidade, Novo Século e José Maksoud. Ele se afastou do trabalho por 30 dias para fazer campanha.
Dos 4,6 mil votos, 3,3 mil vieram das Moreninhas, onde Neto trabalha como atendente de farmácia há mais de três décadas. Ele atribuiu a expressiva votação ao atendimento diferenciado, a boa vontade e aos remédios indicados aos moradores. O bom atendimento também lhe rendeu os apelidos de “ícone” e “dotorzinho” da Moreninha.
Os outros 1,3 mil votos vieram dos parentes de Vicentina, de onde é natural, que residem em outros bairros e do apoio fundamental da deputada federal Rose Modesto. Apesar de ser do PSDB, a tucana “adotou” o Podemos após ser preterida na disputa pela prefeitura. Ela fez sucesso, porque conseguiu eleger uma bancada de três vereadores e impulsionou a candidatura a prefeita da delegada Sidnéia Tobias (Pode). “A Rose abraçou minha campanha”, diz, agradecido.
Zé da Farmácia é católico, mas também frequente outras igrejas evangélicas. Casado com a boleira Edna Fernandes, ele cria 48 gatos. Do salário mensal de R$ 4,5 mil, em média, em torno de R$ 1,2 mil é destinado para comprar ração, areia e remédios para os bichanos. Ele garante que os animais não incomodam a vizinhança, porque são castrados.
Como o casal não conseguiu ter filhos biológicos, eles acabaram adotando o sobrinho ainda bebê. Atualmente, Robson, o único filho, tem 25 anos e ainda reside com os pais nas Moreninhas.
Zé da Farmácia diz que ainda não caiu a ficha sobre a mudança radical no estilo de vida. Do salário mensal de R$ 4,5 mil, ele vai passar a receber R$ 18,9 mil a partir de fevereiro de 2021. O salário do vereador terá reajuste de 26% em relação aos R$ 15.831 pagos neste ano. O aumento foi aprovado no final de 2018 pelos atuais vereadores.
“Não sou materialista, gosto do que faço com carinho. Às vezes, deixo de comprar para mim para não faltar para eles”, diz, sobre o rebanho de gatos na residência. Sobre a estrutura, como assessores e verba indenizatória, ele pretende destiná-los para ajudar os moradores mais carentes.
Sobre a prioridade como vereador, Zé da Farmácia diz que será a saúde. Habituado a ouvir queixa dos moradores das Moreninhas sobre o atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e nos postos de saúde, ele promete acompanhar de perto a situação e cobrar qualidade e melhoria no atendimento à população.
“A saúde pública é complicada”, avalia, com base nas reclamações feitas com frequência no balcão da farmácia. No mais, ele promete cumprir o papel de vereador, que é fiscalizar e legislar. “Os bairros estão muito abandonados pelo poder público”, comentou.
Zé da Farmácia promete não repetir um erro, que considera ter sido cometido pelo concorrente. Na sua opinião, Chiquinho Telles ficou muito ausente do bairro. “A ausência dele atrapalhou”, avaliou, sobre a derrota do conterrâneo.
O novo vereador não é modesto quanto ao resultado da eleição. Zé conta que desde o início tinha certeza que seria eleito vereador neste ano. “Senti. Sempre acreditei”, comentou.