Ainda fora de controle, o incêndio já destruiu 4,117 milhões de hectares no Pantanal, considerado patrimônio natural da humanidade, e também vem avançando sobre áreas indígenas em Mato Grosso do Sul. Dos 538 mil hectares da Reserva Kadiwéu, 44% já foram consumidos pelo fogo neste ano. A maior tragédia ambiental da história sensibilizou até o Papa Francisco, que incluiu a região, os ribeirinhos e os voluntários no combate às chamas em suas orações.
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De acordo com monitoramento do Laboratório de Aplicações de Satélite Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a área queimada já supera em 147% a destruída pelos incêndios no ano passado. Foram 4,117 milhões de hectares neste ano, contra 1,664 milhões de ha no mesmo período do ano passado. No total, 27% da área do bioma já foram destruídos pelo fogo.
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Houve aumento de 42% na área devastada pelo fogo no Pantanal sul-mato-grossense este ano em relação ao ano passado, passando de 1,334 milhão para 1,902 milhão de hectares. No Mato Grosso, houve aumento de 573%, de 329,2 mil para 2,214 milhões de hectares.
De acordo com o coordenador da Ecoa – Ecologia e Ação, André Luiz Siqueira, a situação é dramática em todos os sentidos. “Todo o Pantanal continua queimando e o cenário é de devastação absoluta”, lamentou o ecologista. Até o ninho de tuiuiús, tradicional reserva ambiental, não escapou da destruição pelas chamas de 2020.
“O cenário é apocalíptico”, ressaltou Siqueira. Algumas regiões passaram a sofrer com a tempestade de cinzas, como é o caso da Barra do São Lourenço, considerada, até então, uma das regiões mais preservadas do bioma.
A expectativa de ambientalistas e de envolvidos no combate é de que somente chuvas torrenciais deverão acabar com os incêndios na região pantaneira.
Até reservas indígenas estão sendo consumidas pelo fogo. Maior reserva no Estado, a Kadiwéu, que abrange os municípios de Porto Murtinho, Corumbá e Bonito, teve 236,9 mil hectares destruídos pelo fogo. A área representa 44% do total. A Reserva Tereza Cristina teve 83,8% da área devastada.
Além do trabalho heroico de bombeiros e brigadistas voluntários, o resgate de animais no meio das chamas continua causando comoção na população. No domingo, tamanduá resgatado no Pantanal morreu durante o tratamento no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres.
Na tradicional oração do Angelus, o Papa Francisco lembrou do Pantanal. Além da seca, conforme o sumo pontífice, o fogo também é causado pela ação do homem. “Desejo expressar minha proximidade às populações atingidas pelos incêndios que estão devastando várias regiões do planeta, bem como aos voluntários e aos bombeiros que arriscam suas vidas para apagar os incêndios. Que o Senhor sustente aqueles que estão sofrendo as consequências dessas catástrofes e nos torne atentos para preservar a criação”, afirmou o líder da Igreja Católica.
Pressionado por ambientalistas, deputados e senadores, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou, em depoimento no Senado, que o Governo federal só é responsável por 6% dos 15 milhões de hectares do Pantanal. Ele disse que a responsabilidade por 94% da região cabe aos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
“Estamos falando de áreas que compreendem florestas destinadas, unidades de conservação, terras indígenas e assentamentos em um volume total de 902 mil hectares que corresponde a 6% dos 15 milhões de hectares”, disse Salles aos parlamentares.
O Governo de Jair Bolsonaro já tinha culpado as administrações estaduais de MT e MS pela demora na solicitação de ajuda para combater o fogo na planície pantaneira. A Força Nacional só teria sido acionada no final de setembro, quando a maior parte da região já estava consumida pelo fogo.
Depois de isentar o pantaneiro pelos incêndios, a ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina, causou polêmica ao defender a criação de gado na região. Ele afirmou que o boi era o maior bombeiro na região.
O número de focos na região é o maior da história, conforme monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Pelo menos alguns responsáveis pela tragédia podem ser punidos, já que a Polícia Federal indiciou cinco grandes produtores rurais por incêndio criminoso na região. Eles foram alvos da Operação Matáá.