Sem emprego desde que foi demitido pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) em 17 de julho deste ano, o ex-policial civil Tiago Henrique Vargas, 32 anos, vai ser candidato a vereador de Campo Grande pelo PSD. Famoso por criticar políticos envolvidos em denúncias de corrupção, inclusive o tucano, vai disputar uma das 29 vagas na Câmara Municipal com o seu algoz, o vereador Lívio Leite, o Dr. Lívio (PSDB).
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Esta será a terceira vez que Vargas participa das eleições. Em 2018, ele foi candidato a deputado federal pelo PDT e ficou como suplente ao obter 9.098 votos. Em 2016, quando concorreu a um cargo eletivo pela primeira vez, ele foi candidato a vereador pelo PROS e não conseguiu ser eleito ao obter 1.405 votos.
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Formado em história e filho de empregada doméstica, Tiago ingressou na Polícia Civil no dia 1º de agosto de 2014 após ser aprovado em concurso público. Ele passou a ganhar os holofotes e ser perseguido pela gestão tucana ao comprar briga com políticos.
Em 2017, no auge das denúncias da JBS contra o então presidente da República, Michel Temer (MDB), acusado de ganhar propina de R$ 500 mil por mês da JBS e de comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB), ele foi transferido ao cobrar coerência de Elizeu Dionízio. O então deputado assinou o pedido de impeachment de Temer, mas acabou salvando o presidente em duas votações na Câmara ao impedir o prosseguimento de ação criminal no Supremo Tribunal Federal.
Na época, Dionízio reclamou das críticas feitas nas redes sociais e Reinaldo decidiu punir o policial com a transferência de Campo Grande para Pedro Gomes. O Governo estadual abriu 10 procedimentos administrativos contra Tiago, sendo a maior parte por críticas a políticos, como o governador, o secretário estadual de Segurança Pública, Carlos Videira, e até o então ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Ele acabou demitido em decorrência da denúncia feita pelo Dr. Lívio. Conforme o boletim de ocorrência e denúncia protocolada na Justiça pelo Ministério Público Estadual, o vereador fazia parte da junta médica psiquiátrica para avaliar a sanidade mental de Tiago Vargas. Ao ver o tucano, ele “surtou”.
Conforme a queixa do parlamentar, Tiago ofendeu a equipe médica, fez ameaças e teria quebrado uma mesa. O ex-investigador diz que só reagiu porque o tucano teria lhe mostrado um vídeo criticando o governador e lhe censurado. Dr. Lívio nega esta versão.
Apesar do julgamento de Vargas na Justiça estar marcado para o dia 21 de maio de 2021, conforme despacho da juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal, a Polícia Civil concluiu a sindicância e determinou a demissão de Vargas.
Ele ingressou com pedido na Justiça para suspender a demissão e as 10 sindicâncias. No entanto, o pedido foi negado duas vezes pelo juiz Ricardo Galbiati, em substituição na 3ª Vara de Fazenda Pública. O desembargador Marcelo Câmara Rasslan, do Tribunal de Justiça, também negou a concessão de liminar para suspender a demissão.
Desempregado desde 17 de julho deste ano, Tiago Vargas manteve o tom crítico ao governador. Logo após a notícia do indiciamento do governador pela Polícia Federal na Operação Vostok, pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro, ele gravou outro vídeo para repisar as críticas a Reinaldo.
A demissão causou comoção nacional, inclusive a solidariedade de celebridades, como o apresentador Sikêra Júnior, da Rede TV. O vídeo nas redes sociais foi visto por mais de 4 milhões de pessoas. O desafio será converter isso em voto.
A surpresa é que Vargas será candidato a vereador pelo partido de Marquinhos Trad, que tem um amplo leque de alianças, inclusive o PSDB de Reinaldo e Dr. Lívio. “Não subirei”, afirmou, sobre a hipótese de subir no mesmo palanque do governador.