O maior incêndio da história, causado pela inédita estiagem e pela ação criminosa de produtores rurais, destrói o Pantanal, considerado patrimônio natural da humanidade e um dos mais belos biomas no mundo. A comoção mundial com o sofrimento de aves, mamíferos e répteis obrigou os governantes a ampliar investimentos e ações emergenciais de combate ao fogo. Além de atuar como voluntários, centenas de pessoas estão colocando a mão no bolso para ajudar a região por meio de doações.
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A suspeita de que fazendeiros atearam fogo na região para ampliar as áreas de pastagens entrou na mira da da Polícia Federal, que deflagrou Operação Matáá na última segunda-feira (14). Pelo menos cinco produtores seriam responsáveis pela destruição de 25 mil hectares na região, reduto das belezas naturais sul-mato-grossense.
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Até o milionário Ivanildo da Cunha Miranda, delator na Operação Lama Asfáltica, entrou na mira dos federais por estar destruindo o Pantanal. Indiciado na Operação Vostok, que apura o suposto pagamento de R$ 67,7 milhões em propinas pela JBS ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), ele é dono da Fazenda São Bento, de 26.610 hectares e avaliada em R$ 68 milhões.
Só que a tragédia pantaneira é muito maior, infelizmente. De acordo com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), só neste ano, ocorreram 15.756 focos de calor na planície, o maior da história. O número supera em 56% o recorde anterior, de 10 mil focos, registrado em 2005, considerando-se que o instituto monitora a área desde 1998.
De acordo com o diretor-presidente da organização não governamental “Ecoa – Ecologia e Ação”, André Luiz Siqueira, o fogo já consumiu 3 milhões de hectares neste ano. A área representa 12% do Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Só no estado vizinho, a área destruída chega a 22%.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, foram 12,73% da área em MS e de 37,31%, no Mato Grosso. “Somente neste mês de setembro, tivemos 1 milhão de hectares de área queimada no Pantanal. A maior parte, 855 mil hectares, está no Mato Grosso e 144 mil hectares no Pantanal em Mato Grosso do Sul. Ao todo, 19,31% de todo o Bioma Pantanal foi atingido pelo fogo”, informou o tenente-coronel Moreira.
Com o clima favorável – calor infernal, tempo seco e vento – o fogo continua fora de controle na região, apesar dos esforços empreendidos pelo poder público, como o Governo do Estado e a União nos últimos dias. O secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, causou polêmica ao insinuar, em entrevista à BBC, que os ribeirinhos eram culpados pelos incêndios.
A ofensiva chegou a culpar até as organizações não-governamentais por propagar a tragédia no mundo. Em artigo raro, o jornalista Lucimar Couto, sócio do Campo Grande News, foi taxativo em acusar as ONGs de semear o caos. (veja aqui)
“Em tempo de seca e incêndios no bioma, os agentes da manipulação pseudocientífica contra-atacam semeando o pior”, acusou. “‘O Pantanal vive a maior tragédia’, divulga a BBC Brasil após ouvir as organizações”, anotou, sobre reportagem do meio de comunicação da Inglaterra.
“‘Quem põe fogo no Pantanal é o homem’, sentencia André Luiz Siqueira, da Ecoa”, registrou, sobre entrevista do dirigente da ONG. ” Sua palavra ecoa na única direção: transformar o bioma em uma grande reserva. O fogo que consome a maior RPPN, do SESC Pantanal, em Poconé (MT), é causa humana?”, questionou o empresário.
No entanto, a comoção mundial causada pela tragédia mudou a percepção sobre o incêndio histórico no Pantanal. Para se defender o ataque, Siqueira recorre à Operação Matáá, da PF, para reforçar que os grandes produtores podem estar por trás da destruição do Pantanal. Ele cita levantamento feito no MT de que 55% dos focos de calor foram causados pelos produtores rurais.
O ambientalista ressaltou que apenas 5,7% da planície pantaneira se transformou em reserva. Há dias, o incêndio, que começou no Mato Grosso, vem destruindo o Parque Estadual da Nascente do Taquari. Até baianos já se prontificaram para atuar como voluntários na região para combater o fogo e salvar os animais.
Além da ação humana, outro fator agravou a situação pantaneira. Pela primeira vez em 45 anos, em 2020 não ocorreu o famoso ciclo da cheia no Pantanal, quando os rios sobem e alagam milhares de hectares. As chuvas de outubro não ocorreram em 2019.
O prolongamento da estiagem já fez estragos no ano passado, quando o fogo destruiu 2,5 milhões de hectares. O maior temor, de que a situação não poderia piorar, confirmou-se neste ano.
A tragédia sem precedentes passou a ocupar as manchetes dos jornais brasileiros e entrou na agenda mundial. Veículos de comunicação da Europa, Estados Unidos e da América Latina passaram a destinar espaços generosos para a destruição do Pantanal. (veja matéria do New York Times)
A maior esperança para acabar com os incêndios está no céu, na chuva. Só ela pode fazer em horas o que milhares de voluntários, bombeiros e militares não conseguem há dias.