As duras estatísticas da covid-19, doença que tem número até no nome, trouxeram para a Saúde de Campo Grande crescimento de quase 170% no total de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
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Grande gargalo, a alta complexidade viu o número de leitos aumentarem de 116 em janeiro para 312 no mês de agosto. Nessa corida contra o colapso do sistema público de saúde, a expansão deixa um desafio para o próximo prefeito: manter os leitos ativos como um legado da pandemia ou reduzir a oferta para cortar gastos, devolvendo à cidade o “velho normal” da falta de UTI? Ou seja, o dilema entre a “bolsa ou a vida” deve ser analisado pelos 16 pré-candidatos a prefeito de Campo Grande.
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De acordo com dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), o mapa das UTIs em janeiro mostrava os leitos distribuídos por quatro unidades: Santa Casa (57), Hospital Regional Rosa Pedrossian (39), Hospital Universitário (16) e Hospital de Câncer Alfredo Abrão (4).
Em oito meses, a rede teve acréscimo de 196 leitos para pacientes graves. Agora, a os leitos são ofertados em oito hospitais: Santa Casa (87), Hospital Universitário (26), Hospital Regional Rosa Pedrossian (118), Hospital de Câncer (28), Hospital Adventista do Pênfigo (16), Proncor (20), Clínica Campo Grande (10) e El Kadri (7).
“Temos 312 leitos de UTI adulto considerando hospitais da rede complementar e os privados contratados somente para covid, que não são leitos totalmente à disposição do SUS e são pagos conforme produção”, informa a secretaria. O valor da diária paga aos hospitais particulares pelo leito de UTI é de R$ 2.750.
O Jacaré questionou se a Sesau considera manter a ampliação dos leitos num cenário de pós-pandemia. Segundo a secretaria, a manutenção, de forma integral ou parcial, dos leitos de UTI adquiridos durante o período da pandemia ainda será avaliada, considerando a capacidade financeira do município e operacional dos hospitais.
De acordo com a pasta, existe a perspectiva de utilizar a estrutura disponibilizada para atacar outros gargalos existentes, como a necessidade de ampliação de cirurgias eletivas.
À espera do legado – A questão já é levantada pelo Conselho Municipal de Saúde. “Vamos lutar para que os leitos fiquem. Não digo todo, mas a maioria. Estamos discutindo essa situação. A gente espera que fique como um legado, junto com todos os equipamentos e respiradores que estão vindo do Ministério da Saúde”, afirma a coordenadora da mesa-diretora do conselho, Maria Auxiliadora Ribeiro Vilalba Fortunato.
Desde 2015, por exemplo, o Conselho Municipal de Saúde tinha deliberação para contratualização de leitos com o Pênfigo. Com a falta de vagas, a realidade era de pacientes internados em UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou pedidos de vagas de UTI à Justiça.
“A UPA é só para estabilizar o paciente e encaminhar para vaga no hospital, mas isso não estava acontecendo. A UPA era um mini-hospital. O Ministério Público também tem que bater em cima para que a secretaria mantenha esse legado”, afirma.
Autora dos muitos pedidos judiciais por vagas de UTI, a Defensoria Pública informou que ainda vai avaliar questões do pós-pandemia como essa de quantidade de leitos.
O Jacaré também solicitou posicionamento do Ministério Público, mas ainda não obteve retorno.