O mês de agosto deste ano está marcado pela profusão de pré-candidaturas para o executivo e legislativo municipal. Somente em setembro, após as convenções, serão conhecidos os números e reais dados relativos aos postulantes às cadeiras de prefeito e vereadores.
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No pleito deste ano, que foi adiado diante da pandemia de covid-19, a forma de fazer política, com os tradicionais comícios e reuniões migrou para a internet. Com exceção desses dois pontos, todo o resto parece igual, mas há quem deseje reforçar a necessidade de renovação dos quadros e, para este ponto, pululam pré-candidaturas de jovens que acreditam na velha máxima de que são eles os responsáveis e indutores de mudanças.
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O Jacaré quis saber o universo de pré-candidaturas de jovens com menos de 30 anos. Responderam o DEM, que conta com cinco pré-candidatos e o PDT, com três. Existem muitos mais e os dados serão divulgados após as convenções pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Tentamos, mesmo assim, conhecer as motivações de alguns desses jovens para disputar um cargo legislativo. Em comum, os pré-candidatos não querem compactuar com a inércia de “apenas reclamar” dos políticos. Querem, ainda, dar segmento a trabalhos já iniciados e que só poderão ter continuidade plena com um braço de representação ativo.
Foi assim com Camila Jara, que tem 25 anos e lançou-se pré-candidata pelo Partido dos Trabalhadores. “Sempre participei de movimentos políticos ligados às causas sociais. Este ano, a ideia de lançar a candidatura surgiu após receber pedidos de companheiros de movimentos em que participo, que entenderam que precisamos de novos quadros para representar e lutar pelos interesses de toda população e não de pequenos grupos”.
Para a jovem, que estudou Ciências Sociais na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, “a política é um instrumento de transformação social, capaz de ajudar a melhorar a vida das pessoas. Para que esse instrumento realmente funcione, nós precisamos que a população esteja de fato representada”. Hoje, enfatiza “as mulheres, por exemplo, são 52% do eleitorado, mas ocupam 12% dos cargos de poder”.
Da militância para a vereança, Camila reconhece que há um caminho a ser percorrido diante de uma eleição diferente das demais por vários motivos, até mesmo com as limitações sanitárias. “Já acompanhei eleições anteriores e esta tem tudo para ser bem diferente das outras. A internet já vinha ganhando importância no processo eleitoral desde 2016. Em 2018 ela foi decisiva. Agora, com a pandemia, nosso foco tem sido em mostrar o nosso projeto por meio da internet, até por respeito e cuidado com as pessoas. Nosso projeto é feito a muitas mãos e a internet tem sido uma grande aliada neste momento. Não é justo colocar pessoas em risco fazendo reuniões políticas neste cenário em que estamos. Então, acredito que esta eleição será de quem conseguir mostrar de fato suas ideias e projetos para a cidade. Sem prometer o que não vai cumprir, sem deturpar o papel do vereador – que, antes de tudo, é legislar e não ‘dar’ coisas – e, principalmente, estar conectado com as pessoas, o tempo todo, não só no momento do processo eleitoral e depois sumir por 4 anos”, alerta.
Se cobrar a ação política é necessário, ser um cidadão consciente e ativo tem peso igual. É o que pensa o economista Ernani de Almeida Silva Júnior, 27 anos, que decidiu participar ativamente da política depois de uma experiência na cidade do Porto, em Portugal. O, agora pré-candidato, foi contemplado com uma bolsa de estudos e conseguiu complementar o currículo com a experiência internacional. Da cidade do norte português guarda a saudade dos amigos que fez e a chacoalhada com cidadão. “As discussões dos jovens europeus sobre mercado de trabalho são muito diferentes das discussões dos jovens brasileiros. Enquanto o brasileiro avalia se vai conseguir trabalho, o europeu discute para onde vai no mercado de trabalho”, pontua.
Para além da preocupação pessoal relativa à inserção no trabalho, a consciência sobre ser um cidadão ativo, conhecedor do próprio país também intrigou o economista. “E eu quis estudar as causas das desigualdades no Brasil a partir do meio acadêmico. Hoje, o Brasil tem de tudo, terras agricultáveis e recursos humanos, o que falta mesmo é a resposta política”. Paralela à busca sobre os porquês da realidade brasileira, o rapaz, que tem 27 anos, também integrou o movimento estudantil, chegando ao posto de presidente do Centro Acadêmico de Engenharia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Dos corredores universitários para o debate político não demorou e, agora, com pré-candidato pelo PDT, Ernani quer aliar inquietação, conhecimento e vontade de transformar. “Ser militante político é algo novo para mim. Meu segundo grande start foi perceber que há um descolamento entre a sociedade a política. Os políticos são demonizados. Minha grande expectativa é tentar restabelecer quem não era militante política. A ideia é tentar trazer pessoas e compreender que, se não for pela política, as coisas não serão mudadas. Acredito que a juventude é responsável por liderar o processo e melhorar o nível do debate público”.
E, qualificar o debate também passa por reestruturação, como defende Ítalo Mikael Vaz Silva, 27, que busca no passado histórico da representação política brasileira o incentivo para levar o jovem a participar e compreender os espaços de decisão e poder. “Estamos passando por um momento de reestruturação nacional. A minha legenda, no caso, é o PDT, e o que me atraiu foi, justamente, um projeto palpável e possível. Além do afeto antigo da minha avó pelo Brizola, o qual herdei. Nesses últimos anos, percebi a dificuldade do jovem de se interessar pela política. Eu percebia que essa dificuldade estava muito relacionada com a falta de representatividade também. Enfim, a política virou sinônimo de roubalheira para o público mais jovem e, principalmente, a juventude periférica”.
De posse das percepções sobre o afastamento do jovem do debate, Ítalo começou a buscar aproximação para tentar impactar na tomada de decisões. “Comecei minha luta para convencer esses jovens de que a política é o único meio de mudança para os problemas da nossa sociedade, e que a juventude é a principal força para essas mudanças. Achei importante explicar de diversas maneiras as decisões influenciavam no dia dia deles”. Além da empatia, o discurso de componente teórico começou a incorporar a percepção de mudança da realidade. “Minha luta é voltada para a mobilidade urbana e para o incentivo à cultura popular”, resume.
Já o pré-candidato pelo Solidariedade, João Victor Medeiros dos Santos, 29, conhecido com James, escolheu disputar um cargo representativo para “sair da zona de conforto” diante do hábito, comum, do brasileiro de reclamar das atitudes dos políticos de carreira. Ex-militar da Força Aérea Brasileira, James, já foi de tudo um pouco, passou pelas carreiras de vendedor de colchão e chegou a ser bancário em Campo Grande. Integrante ativo de projetos da Igreja Católica, fundou e atuou em projetos assistenciais que o fizeram compreender a realidade da população. As necessidades das comunidades que ajudou o motivaram a buscar soluções e, assim, passou a ter contato com o legislativo e o executivo municipal. “Sempre protocolava pedidos de melhoria em meu bairro como tapa buracos e implantação de quebra molas e sinaleiros e que, em nenhuma vez, obtive retorno”, recorda.
As sucessivas negativas o instigaram a participar mais, só que agora, como alguém que poderia, de fato, mudar a situação. “Após vários pedidos e demandas para o nosso poder público e nenhum ter sido atendido, sempre um descaso com a sociedade, fazendo política como acham certo e não pela necessidade do povo, me senti na obrigação de começar a ir em manifestações de rua, encaminhar cartas com solicitações de melhorias em bairros, agir de forma que as necessidades do povo fossem atendidas e resolvi sair da minha zona de conforto e ir a campo começar a entender um pouco mais sobre o assunto, me filiando a um partido político em novembro de 2018. Acredito que é possível fazer muito com pouco, entender as necessidades do município e fazer um planejamento a longo prazo.
Também pré-candidato, João Vilela, 28, é mais um que aposta na participação ativa do cidadão para mudar a realidade política. “Sou responsável pelo abaixo-assinado que pede o fim do pagamento da verba indenizatória para os vereadores de Campo Grande, dinheiro que acredito que poderia ser empregado em necessidades mais urgentes dos campo-grandenses”, afirma.
Para o jovem psicólogo, que empunha a bandeira LBGTQIA+, os questionamentos sobre as verbas do legislativo devem partir para a ações concretas. “Assinei em cartório o compromisso com os eleitores de, se eleito, abrir mão de 30% do meu salário, que será destinado para o projeto ‘Conexão Diversidade’, de profissionalização e empoderamento de cidadãos de baixa renda”.
Por ser um homem trans, João Vilela adianta que vai atuar pela causa, mas indica que não haverá particularidades. “O que me levou a aceitar este grande desafio é poder falar por outras pessoas que acabam tendo suas lutas silenciadas, como a comunidade LGBTQIA+ e as pessoas trans. Além da bandeira da diversidade, como psicólogo, sou sensível a assuntos relacionados à saúde mental, causa que pretendo defender com afinco. Atuo ativamente também junto à causa animal, e conheço as necessidades dos protetores independentes e ONG’s”.
Quem também não quis ficar apenas no discurso foi a acadêmica Raissa Bergamaschi Lopes, com 18 anos. “Tomei a decisão quando estive na linha de frente pela renovação que eu almejo no espectro político, especialmente motivada por cidadãos comuns como eu que, exauridos de propostas furadas e desrespeito ao dinheiro público, esperam ser representados com responsabilidade no Legislativo e Executivo”.
A estudante de Direito pela UFMS concorre pelo partido Novo e, além da política, também quer atuar no campo jurídico. Para ela, o fato de ter nascido na cidade, de ter vivido em bairros da periferia gera vantagem sobre o conhecimento das necessidades do município. “Já morei no bairro Buriti, Taveirópolis e, hoje, moro no Rita Vieira. Tenho em mente que a política e a Justiça, quando bem feitas, transformam vidas. Procuro atuar com jovens. Meu grupo de voluntários, que já está pré-formado, é composto, na maioria, por universitários. A ideia principal é, por meio do exemplo, incentivar o jovem a se atentar sobre a política municipal e perceber o quanto a sua participação é importante. Somado a isso, também pretendo, junto a eles, levar ideias inovadoras à sociedade”.
Marcelo Góes, 28, do Patriotas, é outro conhecedor da periferia da cidade. Morador do bairro Canguru, chegou a servir o Exército e ingressou na Polícia Militar. Decidiu se opor ao uso e ao tráfico de drogas com forma de preservação da família, chegou ser condecorado pelo trabalho prestado como policial, mas buscou a participação popular como forma de transformação política.
“Percebi que o trabalho policial, em que pese ser de crucial relevância, por si só é ineficiente, se não vier apoiado no protagonismo popular, isto é, o apoio do povo. A aproximação com as pessoas ocorreu por meio da atuação em uma ONG que criou para dar assistência a pessoas carentes. Foi nesse trabalho que percebeu ser necessário ampliar a atuação. “Muitas demandas para atender, recorria às portas dos políticos da Capital, que na maioria das vezes me davam as costas, desprezando (talvez pela falta de contato e vivência com o povo) a dor do povo. Então eu falei um dia: terá que ser eu mesmo. Não preciso saber todas as mazelas de cada bairro, nem ter prontas todas as respostas, mas que preciso continuar sensível ao clamor do povo. O povo fala o que sente”.
O debate é do pré-candidato é baseado no eixo família. “Sou conservador. Fui convidado pelo partido a colocar meu nome à disposição de nossa Campo Grande, através dele. Defendo instituições sociais tradicionais como a família, a comunidade, e a religião”.