Ilhas, “ligeirinho”, ponto de ônibus no meio da rua. Com múltiplos nomes, as estações de embarque são a parte mais polêmica e controvertida dos corredores de ônibus, obra de R$ 112 milhões e 69 quilômetros que será herdada pelo próximo prefeito.
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De acordo com a diretora adjunta da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Andréa Figueiredo, apesar de o corredor estar praticamente concluído nas ruas Guia Lopes e Brilhante, a expectativa é que o da Avenida Bandeirantes fique pronto primeiro, ainda em 2020.
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Na Brilhante, que faz a ligação Centro aos bairros, há impasse com posto de combustíveis, que entrou na Justiça contra a instalação de uma estação de embarque. O posto funciona há 30 anos no local e aponta redução nas vendas com o bloqueio do acesso pela Brilhante, além de risco aos usuários do transporte coletivo.
Ao todo, a Brilhante terá quatro estações de embarque, num trajeto que pretende dar mais fluidez ao transporte coletivo, aumentando a velocidade média de 16 km/h, compatível com a de carroça, para 25 km/h.
Andréa explica que as estações, ou as “ilhas”, terão distanciamento de 600 a 800 metros, enquanto que nas vias normais, há ponto de ônibus a cada 200 metros ou 400 metros. Ou seja, a aposta é num ônibus mais veloz e sem tanto “pinga-pinga”.
Porém, em toda extensão do corredor não haverá vaga de estacionamento no lado esquerdo da via. Já nas quadras com a estação de embarque, o estacionamento fica proibidos de ambos os lados. Nesses quarteirões, também serão instalados semáforos com botoeira para os pedestres.
“Não dá para construir na calçada, no lado direito, como é hoje o ponto de ônibus porque a calçada é estreita. Somente a cobertura do ponto tem 2,5 metros de largura”, afirma a diretora adjunta da Agetran.
Para compensar os comerciantes nas vias com os corredores, uma lei aprovada no ano passado permite o rebaixamento de 100% da calçada para ser usada como estacionamento, enquanto nos demais locais é autorizado 60%.
“É preciso mudar a cultura, gostem ou não, os corredores vieram para ficar na cidade. O transporte coletivo não atrapalha, soma para a coletividade e retira de circulação o veículo de uso individual”, diz Andréa.
Os corredores vão chegar à Avenida Bandeirantes (sete estações), Rua Bahia (seis estações), Rui Barbosa, Calógeras, Afonso Pena e Mato Grosso. As duas últimas avenidas ficarão por último devido ao tombamento do patrimônio histórico, que impede redução do canteiro central e remoção de árvores.
O projeto faz parte do Plano de Mobilidade Urbana, aprovado em 2009, e independente de quem vença a eleição em novembro, não pode ser alterado. “Graças ao recurso do PAC Mobilidade, que inclui os corredores, a Prefeitura investiu no recapeamento das vias, como a Bandeirantes, que estava um retalho há décadas”, afirma Andréa.
Vagas e vidas
Como a intervenção urbana passa longe da unanimidade, as estações são chamadas de ponto de ônibus no meio da rua e ganham crítica da ala da oposição.
Presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Adelaido Vila adota um tom fatídico.
“A gente sabe que é um projeto aprovado há muito tempo e agora que chegou o recurso, mas entendemos que ainda cabe à Prefeitura fazer alguma coisa para impedir que essas ilhas no meio da pista aconteçam. Isso só vai trazer mortes, morte de empresas e morte também de pessoas por conta do estreitamento da pista”, afirma.
A CDL calcula que, apenas na Avenida Bandeirantes, serão perdidas 300 vagas de estacionamento e 300 estabelecimentos devem ser impedidos de funcionar. “Porque com o ônibus circulando do lado esquerdo, não vai ter acesso ao estabelecimento. É algo descabido. Não é razoável”, diz Adelaido Vila.
Para o vereador André Salineiro (DEM), a prioridade da administração deveria ser a melhoria do transporte, dos pontos de ônibus existentes e o recapeamento das vias.
“A celeuma está sendo em cima da criação dos corredores e os próprios terminais no meio da pista. Tanto da Brilhante, Bandeirantes, Coronel Antonino e Bahia. Com risco iminente de causar acidentes, pois as pessoas têm que atravessar a rua, e risco de os carros colidirem com esses terminais”, diz o vereador.
De acordo com Salineiros, com as vias são de mão única, o ideal é que os pontos de embarque e desembarque fiquem em determinado lado da pista, mas não no meio da rua.
“As empresas estão fechando as portas, empresas com mais de 20 anos de mercado. Isso causa desemprego enorme para a população de Campo Grande”, diz o parlamentar.
Proprietário do Picanhas Grill, na Brilhante, Thiago Pereira Andrade, 32 anos, afirma que o corredor foi mal planejado e o ponto de ônibus deveria ser mantido na calçada. “O terminal no meio da rua acaba tirando o estacionamento dos dois lados da rua e uma faixa de rolamento. E também é perigoso”, afirma.
Antes do corredor, “mão” de avenidas causou polêmica
Lembrando que “mordeu a língua” na crítica à instalação de rotatória semaforizadas, o engenheiro Aroldo Figueiró, do Crea-MS (Conselho Regional de Engenharia e de Agronomia), afirma que é preciso conhecer todos os detalhes do estudo técnico dos “ligeirinhos”.
“Tem um estudo técnico que leva a isso. Não é emocional. Você deve fazer estudo, definir os pontos de conflitos, a medição de fluxo de ciclistas, pedestres, ônibus”, diz.
Figueiró destaca que apesar de toda política de mobilidade urbana valorizar o transporte coletivo, o tema tem seus complicadores em Campo Grande, onde status social se mede pelo veículo que a pessoa tem.
“Existe a valorização pessoal pelo veículo que você usa ou quantos carros tem a família. Isso, às vezes, é uma burrice. Outra máxima é que se você andar de ônibus, você é um quebrado. Mas essas mesmas pessoas andam de ônibus quando vão para a outra cidade”, afirma.
Figueiró destaca que a Brilhante e a Bandeirantes, envolvidas hoje na polêmica dos corredores, tiveram o fluxo alterado na gestão de Albino Coimbra. Desta forma, o comércio de abastecimento, como mercados, ficou na Brilhante, que leva do Centro aos bairros. Já a Bandeirantes, por onde se faz roteiro inverso, ficou com autopeças e garagens de veículos.
“Quando o Juvêncio (César da Fonseca) entrou, eu era secretário de transporte, e ele mandou voltar ao que era antes, com a Brilhante no sentido bairro ao Centro e a Bandeirantes no sentido Centro ao bairro. Pedi um mês para tomar a decisão , fiz uma pesquisa e vi que os comerciantes iam ter que gastar tudo de novo . Não se isso foi feito agora”, afirma Figueiró , ao relatar a busca pelo caminho do diálogo.
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(Colaborou Edivaldo Bitencourt)