Contra parecer do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, revogou a prisão preventiva do delegado Márcio Shiro Obara, acusado de ajudar os grupos de extermínio chefiados por Jamil Name e Fahd Jamil. Preso desde 18 de junho deste ano na Operação Armagedom, denominação da 3ª fase da Omertà, ele voltará a trabalhar na Polícia Civil usando tornozeleira eletrônica.
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Outro que conseguiu a soltura foi segurança Flávio Narciso Morais da Silva, preso desde meados do ano passado. Ele e o delegado vão cumprir as mesmas cautelares, como recolhimento noturno e nos finais de semana, não podem ter contato com réus nem testemunhas da Operação Omertà e serão monitorados eletronicamente por 180 dias.
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De acordo com despacho do magistrado, Obara poderá voltar ao trabalho na Secretaria de Justiça e Segurança Pública, mas não poderá atuar no setor de investigação nem usar armas de fogo. No despacho do magistrado, pesou o fato do delegado não ter sido denunciado por integrar a organização criminosa chefiada pelos empresários Jamil Name, Jamil Name Filho, Fahd Jamil e Flávio Correia Jamil Georges, o Flavinho.
O habeas corpus de Jamil Name será votado na próxima terça-feira (11) pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal. O ministro Marco Aurélio tinha determinado a inclusão no julgamento virtual, de 7 a 13 deste mês, mas a defesa pediu para fazer sustentação oral e teve o pedido atendido.
Fahd Jamil continua foragido, mas aguarda pedido de revogação da prisão preventiva pelo ministro Rogério Schietti da Cruz, relator da Operação Omertà no Superior Tribunal de Justiça. No dia 31 deste mês, o pedido dele havia sido indeferido pelo presidente da corte, ministro João Otávio Noronha, porque tinha sido julgado pelo TJMS. Como a turma negou o pedido de liberdade, o rei da fronteira ingressou com novo pedido de habeas corpus nesta semana.
Seis promotores, sendo quatro do Gaeco, foram contra a revogação da prisão preventiva do delegado Márcio Obara, decretada pelo juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal. A defesa alegou dois fatos novos, a inclusão no Imposto de Renda do empréstimo feito ao policial civil Célio Rodrigues Monteiro, o Manga Rosa, e o fato dele não ter sido denunciado por integrar a organização criminosa.
Obara é acusado de receber R$ 100 mil para sumir com provas e impedir que a polícia chegasse aos mandantes das execuções do chefe da segurança da Assembleia, o policial Ilson Martins Figueiredo, ocorrida na Capital, e de Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o Betão, e um policial civil em Bela Vista.
Ele é acusado ainda de tentar interferir nos trabalhos da Força-Tarefa criada pela Polícia Civil para desvendas as execuções brutais ocorridas na Capital. Obara teria pedido para os delegados Fábio Peró e João Carlos Sartori, do Garras, para encerrarem a investigação, porque os homicídios envolviam os chefes das duas organizações criminosas mais poderosas do Estado.
“Em outras palavras, o requerente MÁRCIO SHIRO OBARA (‘OBARA’) atuou, de novo, para blindar os chefes das organizações criminosas que lhe pagavam propina, inclusive chegando a dizer para o Delegado de Polícia Fábio Peró Correa Paes que ‘estaria diante de crime envolvendo as duas Organizações Criminosas mais poderosas do Estado e que se comunicavam entre si’, referindo-se a FAHD JAMIL (‘FUAD’) e JAMIL NAME (‘JN’ e/ou ‘VELHO’)”, destacaram os promotores.
“Ou seja, desde o início, o requerente MÁRCIO SHIRO OBARA (‘OBARA’) sabia quem eram os mandantes dos homicídios investigados, fazendo de tudo para protegê-los, chegando ao ponto de questionar ‘o DPC PERÓ se não tinha interesse em deixar o inquérito policial que apurava a execução de MATHEUS COUTINHO XAVIER sob sua presidência, pois, conforme por ele dito tinha uma boa linha de investigação, o que foi rechaçado’”, ressaltaram.
Obara ainda é acusado de manter relações de amizade com Flavinho, filho de Fahd Jamil. A quebra de dados telemáticos mostrou que ambos possuíam o telefone do outro na agenda do celular. Em conversa com Frederico Maldonado Arruda, o Fred, o delegado pergunta de “Flavinho”.
“Ao contrário de confrontar e coibir a criminalidade, função prestigiosa que deveria desempenhar à frente da Polícia Civil deste Estado, aparentemente ‘mudou de lado’ e passou a colaborar com aqueles que deveria combater, o que torna sua conduta especialmente reprovável, grave e merecedora de forte censura”, concluíram os promotores, pedindo a manutenção da prisão do delegado.
No mês passado, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul manteve, pelo placar de 2 a 1, a prisão do ex-titular da Delegacia de Homicídios. O único voto pela concessão do habeas corpus foi do desembargador Ruy Celso Barbosa Florence, que acabou se declarado suspeito após descoberta de foto ao lado do conselheiro Jerson Domingos, do TCE, no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
O episódio foi revelado pelo Campo Grande News. Conforme o site, o desembargador condenou a estratégia do Gaeco, de incluir a fotografia nos autos do processo. Ele teria dito que não tem relação de amizade com o conselheiro, que chegou a ser preso na Operação Omertà, mas teve a prisão revogada pelo Tribunal de Justiça.