Apesar da superlotação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com o avanço a pandemia na Capital, o Governo do Estado mantém vazios 144 leitos vazios no Hospital de Campanha, construído para receber as vítimas da covid-19. Apesar de ter custado uma fortuna aos cofres públicos, a unidade foi mal planejada e não terá condições para atender os pacientes infectados pelo coronavírus, como alardeou o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
[adrotate group=”3″]
Nesta terça-feira (4), o tucano elevou a pressão sobre o prefeito Marquinhos Trad (PSD) para decretar lockdown em Campo Grande. “Acredito que as atividades não essenciais suspensas podem diminuir a circulação viral”, defendeu o governador. O pedido de isolamento total foi protocolado na Justiça pela Defensoria Pública e deverá ser decidido até sexta-feira pelo juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos.
Veja mais:
Risco de colapso: promotora recomenda lei seca e fechamento de bares e restaurantes às 17h
Boletim Covid O Jacaré: vidas na Argentina são prioridade “antes mesmo da recuperação do PIB”
Com UTIs lotadas, Defensoria pede à Justiça 14 dias de lockdown em Campo Grande
O cenário é de calamidade e Campo Grande caminha, infelizmente, para repetir cenas de colapso, como ocorreram em Manaus (AM), Belém (PA) e Natal (RN), onde doentes morreram a espera de vaga em UTI. Ontem, dos 234 leitos na rede pública, 95% estavam ocupados, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
O agravamento da situação ocorreu porque o hospital de campanha, que utilizou recursos da covid-19, não foi idealizado corretamente. A Secretaria Estadual de Saúde preparou a unidade para receber pacientes menos graves. Apesar dos efeitos gravíssimos do coronavírus serem propagados desde o início do ano, quando o surto saiu do controle na China, a gestão tucana não construiu o hospital de campanha para receber pacientes com covid-19, como ocorreu em outros estados brasileiros.
Reinaldo e o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, aproveitaram para apresentar o hospital de campanha, construído no estacionamento do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, como exemplo de ação efetiva de combate à pandemia.
No dia 2 de abril deste ano, o governador visitou a unidade de reforço. “Reinaldo Azambuja disse também que os 130 leitos de apoio que estão sendo montados no estacionamento do Hospital Regional, em Campo Grande, para atender pacientes da Covid-19, devem ser entregues ainda nesta semana”, relatou a assessoria do Governo.
Só a locação dos contêineres custou R$ 1,793 milhão aos cofres públicos, conforme o Portal da Transparência. A empresa Ekobox Locações foi contratada sem licitação por R$ 1,243 milhão para fornecer 36 contêineres. O custo não inclui a compra das camas, ventiladores e outros equipamentos para montar os 144 leitos.
No dia 24 de junho deste ano, quando houve a explosão no número de casos na Capital, o HR anunciou com pompa a ativação dos leitos do hospital de campanha. Até houve denúncia de que havia goteira no local.
Ontem, conforme a diretora geral do HR, Rosana Leite Melo, os 144 leitos do hospital de campanha estão vazios desde junho. Enquanto a instituição transfere pacientes para hospitais particulares, a unidade de reforço segue vazia. A revelação é do Campo Grande News.
“O hospital está ativo. Todo dia é feita limpeza, se hoje precisasse transferir pacientes de ortopedia, por exemplo, poderia ser feito”, contou a dirigente. Ela admitiu que o hospital de campanha, construído com recursos destinados à covid-19, não foi preparado para atender as vítimas da doença.
Ao ser procurado por meio da assessoria, Resende admitiu o erro estratégico da gestão tucana. “Quando o hospital de campanha foi idealizado em março ainda não se conhecia a patologia do coronavírus e se esperava um alto número de pacientes suspeitso de coronavírus e com coronavírus de baixa complexidade”, destacou assessoria.
“O Hospital Regional de Mato Grosso do Sul se tornou referência estadual no tratamento de coronavírus. O perfil dos pacientes com COVID recebidos pelo HRMS é de pacientes de alta complexidade. Com o aumento do número de pacientes de alta complexidade com covid-19 que precisavam de internação, em 24 de maio se inaugurou o Hospital de Campanha transferindo pacientes Não Covid para a estrutura com o objetivo de liberar leitos no prédio do HRMS para pacientes COVID”, informou.
No entanto, a Secretaria Estadual de Saúde rebateu a informação da diretora do HR, Rosana Melo, de que a unidade está sem receber pacientes desde junho. “A unidade está há cinco dias sem receber pacientes”, destacou, informando que já foram atendidos “1.100 pacientes de outras especialidades médicas não relacionadas ao coronavírus”.
Em abril deste ano, o Governo chegou a informar que o hospital de campanha tinha condições de oferecer 120 leitos de UTI para receber os pacientes com covid-19. Caso a propaganda fosse real, a oferta de leitos de UTI na Capital poderia ter aumento de 50%, dos atuais 234 para 354.
Caso a unidade de campanha, construída com recursos destinados ao combate à pandemia e destinada aos pacientes com coronavírus, tivesse funcionando, Campo Grande não estaria discutindo o lockdown ou o que é mais importante, a vida ou a economia.
Não é a primeira vez que isso ocorre em Mato Grosso do Sul. Em 2018, o tucano fez propaganda do Hospital do Trauma, com 100 leitos, mas a unidade ficou fechada após as eleições por falta de repasse do Governo do Estado.