De volta ao noticiário desde junho por ser foragido da operação Omertà, Fahd Jamil, o “Rei da Fronteira”, teve uma prisão na década de 80 que conseguiu a mesmo tempo ser rumorosa em veículos nacionais, mas calar a imprensa de Mato Grosso do Sul. A questão foi até parar em livro sobre a história do Estado, relatando que a revista Veja, que trazia a matéria “Rei na Cadeia”, foi interceptada no trajeto entre o aeroporto o Centro de Campo Grande.
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A reportagem publicada na revista Veja relata a prisão de Fuad Jamil George, então com 39 anos. Apesar da grafia incorreta, a narrativa é sobre uma figura que mora em mansão na cidade de Ponta Porã e tinha tanto prestígio que foi visitado na prisão, em Curitiba, pelo senador Pedro Pedrossian, antes de ser nomeado governador.
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“Um homem de 6 milhões de dólares está preso na penitenciária de Ahu, em Curitiba. Acusado de contrabandear café para o Paraguai, Fuad Jamil Georges, 39 anos, foi preso na terça-feira, dia 8, em Campo Grande por agentes da Polícia Federal. De nada valeram sua imensa fortuna pessoal e a larga influência política que há poucos meses compeliu o senador Pedro Pedrossian (PDS-MS) a sugerir seu nome para a presidência do partido do governo no Estado”, diz a abertura da matéria.
Apontado como “rei do contrabando”, ele foi recolhido a uma cela comum, mas conservava no dedo anelar da mão direita um anel com diamante puro de 1,5 centímetros. A acusação era por ter, em outubro de 1978, tentado contrabandear 1.200 sacas de café para o Paraguai. A reportagem afirma que ele negava a acusação, mas também o relacionava ao jogo do bicho em Campo Grande.
A matéria destaca que houve censura em Mato Grosso do Sul. Inclusive, emissora saiu do ar quando a prisão foi noticiada no Jornal Nacional, da Rede Globo. A TV Morena ficou 20 segundos fora do ar. Em todas as redações, teria chegado o lembrete, repassado pelo subchefe da Casa Civil do governo, que se trava da “prisão de um amigo”. Já as edições dos jornais do Rio e de São Paulo que continham a notícia foram compradas antes de chegarem às bancas.
O livro “Mato Grosso do Sul – a construção de um estado. Poder político e elites dirigentes sul-mato-grossenses”, de Marisa Bittar, destaca que todos os exemplares da Veja foram interceptados no caminho do aeroporto para o centro da capital. Apenas os assinantes receberam a revista.
Na década de 1970, antes das drogas e armas, a vocação da fronteira com o Paraguai foi o contrabando de café e whisky. Para sonegar imposto, o produto brasileiro viajava ao Paraguai. Enquanto a bebida de alto teor alcoólico fazia o caminho inverso.
No início do ano 2000, Fahd Jamil foi condenado a 20 anos de prisão por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro pelo juiz federal Odilon de Oliveira, titular da 3ª Vara Federal de Campo Grande. Na ocasião, ele ficou foragido por quase dois anos, até a prisão preventiva ser revogada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Esta sentença acabou anulada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região por suposta falta de provas. Com a decisão em segunda instância, Fuad Jamil, como é conhecido, voltou a ser inocente pela segunda vez.
No dia 18 de junho deste ano, ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal de Campo Grande. No entanto, o Gaeco e o Garras, ao cumprir o mandado na Operação Armagedom, denominação da 3ª fase da Omertà, não o encontraram na enigmática mansão de Ponta Porã.
A 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça negou habeas corpus. A defesa de Fahd Jamil apelou e aguarda análise do presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha. A esperança é de que a corte lhe salve pela segunda vez.
Neste mês, o juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal, aceitou a denúncia o Rei da Fronteira e seu filho, Flávio Correia Jamil Georges, o Flavinho, por corrupção ativa e passiva, organização criminosa, tráfico de armas e violação de sigilo. Eles ainda são investigados como mandantes de, pelo menos, nove execuções brutais ocorridas na fronteira e em Campo Grande.