O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul suspendeu a assembleia geral de credores da São Bento, prevista para esta quinta-feira (30), e a recuperação da rede de farmácias segue empacada. Mesmo com apenas duas das 91 farmácias em funcionamento, os sócios sinalizaram a intenção de oferecer os próprios imóveis para quitar as dívidas, que devem superar R$ 84 milhões, e conseguir o milagre de reerguer o Grupo Buainain, fundado há 72 anos.
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O longo tempo da recuperação judicial, sem perspectiva de quitar débitos e com a perda de fôlego do grupo, levaram o juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da Vara de Falências, Recuperações e Insolvências a adiar vários pedidos para adiar a reunião marcada para hoje. Até a Real Brasil Consultoria, administradora judicial, pediu o adiamento da assembleia para o dia 10 de setembro deste ano.
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O grupo pediu recuperação judicial há cinco anos. No entanto, desde janeiro de 2015, não houve nem a aprovação do plano de recuperação judicial. As dívidas do grupo, composto por seis empresas, não tiveram redução nem foram quitadas.
A São Bento perdeu fôlego financeiro ao fechar 89 das 92 lojas e demitir praticamente todos os funcionários. Em cinco anos, a dívida saltou de R$ 73,9 milhões para R$ 84,5 milhões, considerando-se o novo plano de recuperação judicial apresentado no dia 20 deste mês. No entanto, o valor não inclui tributos fiscais e previdenciários.
No entanto, o valor total da dívida é uma incógnita, conforme o economista Fernando Abrahão, administrador judicial. Ele contou que todo dia chegam novas habilitações de crédito. “O valor deve ser atualizado na ocasião do pagamento, momento em que serão aplicados os eventuais descontos e prazos ajustados no plano “, explicou.
Para convencer os credores a não aprovarem a falência do grupo na assembleia geral, imóveis dos sócios serão oferecidos para quitar os débitos com os credores. Um dos pontos ressaltados é a intenção de repetir a trajetória do fundador, Adib Assef Buainain – que construiu uma das dez maiores redes de farmácia do Brasil a partir de uma única unidade instalada no Centro de Campo Grande em 1948.
No entanto, o desafio para os atuais sócios é missão praticamente impossível diante da atual conjuntura. Além da dívida monumental, a concorrência é acirradíssima com os gigantes do setor, que chegaram de outros estados, como Pague Menos, Drogasil, Popular e Freire.
No Plano de Recuperação, o grupo propõe a venda de terrenos, salões comerciais, apartamentos, sobrados e loteamentos. Um edifício no Centro da Capital, com 14 apartamentos e um salão comercial, está avaliado em R$ 5 milhões. Um prédio comercial na Rua Joaquim Murtinho custaria R$ 12,5 milhões e um terreno na Avenida Manoel da Costa Lima, por R$ 7,5 milhões.
No entanto, a nova proposta não tem data para ser avaliado. Na segunda-feira (27), o desembargador Júlio Roberto Siqueira Cardoso acatou pedido da recuperando e suspendeu a assembleia geral prevista para hoje. Ele considerou que credores também pediram o adiamento da reunião.
“Em juízo de cognição sumária, vislumbro os requisitos para a concessão da tutela recursal de urgência requisitada. A postergação da realização da AGC não trará prejuízos maiores aos credores que certamente aguardam o imbróglio desde 2015,quando se iniciou o processo recuperacional das empresas do Grupo Buainain”, destacou o magistrado.
“Sob outro prisma, a redução do prazo para realização da AGC constitui prejuízo irreparável às recuperandas e aos próprios credores, na medida em que dificulta as tratativas prévias para a aprovação de Novo Plano de Recuperação Judicial”, concluiu.
Inicialmente, a assembleia para deliberar pela formação do comitê de credores e até aprovar a falência da São Bento estava prevista para o dia 17 de março deste ano, mas acabou sendo adiada por causa do lockdown decreto na Capital para frear a pandemia do coronavírus.
Os sócios pediram que a assembleia ocorra após a pandemia, sem prazo para acabar, devido à complexidade das questões e do volume de credores. A recuperação judicial vem se transformando em um problema sem solução, eterno.