A poucos dias da assembleia geral dos credores, a rede de farmácias São Bento agoniza e fica em situação ainda mais delicada. Os sócios não devolveram R$ 5 milhões, que teriam sido sacados sem autorização judicial. Além disso, a empresa estaria sonegando informações contábeis e financeiras dos credores. A dívida milionária do grupo também se tornou um mistério.
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Fracassou a tentativa dos sócios, liderados pelo ex-presidente do grupo e ex-secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Luiz Fernando Buainain, de ganhar tempo para recuperar a São Bento. O desembargador Alexandre Bastos, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, negou pedido de liminar para adiar a assembleia geral do dia 30 deste mês para o dia 10 de setembro deste ano.
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Após fechar 89 das 92 farmácias em Mato Grosso do Sul, a São Bento fechou mais uma unidade em Campo Grande. Em meio à agonia da rede fundada em 1948, só duas unidades estão funcionando, nas avenidas Ceará, na Vila Rica, e Guairucus, no Bairro Universitário. A unidade do Bairro Mata do Jacinto também fechou as portas.
De acordo com a Real Brasil, administradora judicial, os sócios não cumpriram a promessa de devolver os R$ 6 milhões sacados indevidamente da São Bento. Após a Justiça identificar as retiradas indevidas, a título de empréstimo, os empresários se comprometeram, em juízo, devolver o dinheiro.
“Os valores desviados são de expressiva monta, e devem ser restituídos imediatamente ao caixa das recuperandas, ou se melhor entender, devem ser depositados em juízo, a bem de preservar os interesses dos credores e o uso prudente destes recursos, uma vez que as devedoras vêm reduzindo vertiginosamente sua posição de caixa e sua operação no curso da Recuperação, e ainda, negando-se a prestar contas de suas atividades”, pontuou o economista Fernando Abrahão, da Real Brasil.
A retirada foi considerada grave porque a São Bento está em recuperação judicial desde janeiro de 2015 e não vem pagando contas com os credores. Neste período, a dívida com o poder público disparou e chegou a R$ 31,2 milhões. O montante não considera débitos com fornecedores, alugueis, indenizações trabalhistas, energia, água, etc.
Outro ponto grave é a falta de informações financeiras e contábeis da real situação do grupo. “Sonegar, ocultar ou negligenciar o dever de apresentar tais informações ao longa manus do Juízo, pressupõe um voo cego na verificação da eventual recuperação da empresa, bem como um descumprimento tácito dos princípios homenageados pelo Art. 22, e um desrespeito a relação de transparência para com os Credores e demais sujeitos do processo recuperacional”, alertou o administrador judicial.
“Ora Excelência, com toda vênia, a contabilidade é peça chave do processo de fiscalização do Administrador Judicial, e a não entrega regular e tempestiva da mesma lança sobras sobre o processo e dúvidas sobre o comportamento das Devedoras”, alertou.
“O que se assiste nestes autos é que, com o decorrer da Recuperação Judicial e com o passar do tempo, as Recuperandas cada vez mais se tornaram mais esquivas e reticentes em prestar informações contábeis, gerenciais e cumprir seu dever nestes autos”, lamentou.
Em nova manifestação à Justiça, dois credores voltaram a pedir a falência da São Bento. O assunto deverá ser discutido na reunião dos credores, que deveria ocorrer no Clube Estoril, mas deverá ser transferido para videoconferência em decorrência da pandemia da covid-19.
Além de não devolver o dinheiro desviado e não apresentar informações da real situação do grupo, os sócios da São Bento ainda não apresentaram o novo plano de recuperação. Desde o início do processo de recuperação, o grupo perdeu ainda mais o vigor econômico, fechando praticamente todas as lojas e vendo a dívida crescer de exponencial. Só milagre livra a São Bento da falência.