A demissão do investigador da Polícia Civil, Tiago Henrique Vargas, 32 anos, foi condenada por sindicatos e federações de servidores públicos de Mato Grosso do Sul e de vários estados brasileiros. Até o polêmico apresentador Sikêra Júnior, do programa Alerta Nacional, da Rede TV, criticou a punição aplicada ao policial famoso por criticar o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e políticos corruptos.
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O vídeo de Tiago, no qual ele fala da demissão e desabafa sobre o fim do sonho de ser policial civil, teve mais de 5 milhões de visualizações nas redes sociais. No Facebook do policial, a postagem teve 3,5 milhões de acessos, com 139 mil curtidas e 93 mil compartilhamentos. No Instagram, foram mais 209 mil visualizações.
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“E a injustiça continua no Brasil!”, postou o apresentador Sikêra Jr, que compartilhou o vídeo de Tiago, onde houve mais 1,3 milhão de acessos. A equipe do amazonense chegou a ligar para o ex-policial para prestar solidariedade.
Ignorado pela maior parte dos jornais, sites e emissoras de televisão regionais, que se silenciam ou reagem para apresentar a versão governista, o vídeo causou comoção nacional. Deputados ligados à segurança pública divulgaram vídeos e mensagens para condenar Reinaldo pela demissão.
O Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul) divulgou nota de repúdio contra a demissão e anunciou apoio a Vargas para tentar reverter a decisão na Justiça. O primeiro pedido de tutela foi negado pelo juiz Ricardo Galbiati, em substituição na 3ª Vara de Fazenda Pública.
“É inadmissível que, em um estado democrático de direito, policiais civis que são formadores de opinião que defendem sua família e sua categoria por melhores salários venham a ser demitidos por opiniões contrários à dos governantes”, afirmou, em nota, o presidente em exercício do Sinpol-MS, Pablo Rodrigo Pael. “Foi um ato covarde do Governador do Estado que demitiu o policial Tiago Vargas. Tal ato nos faz acreditar em perseguição, já que muitos policiais civis também participaram dos protestos e opinam em redes sociais sobre política”, acusou.
Houve nota de repúdio ao governador e de apoio a Tiago Vargas dos sindicatos dos policiais civis de Alagoas, Piauí, Pará e Rio Grande do Norte. A Federação dos Policiais Civis das Regiões Norte e Centro-Oeste também endossou as duras críticas ao tucano e teve o apoio das unidades das demais regiões do País.
“Inadmissível que, em um estado democrático de direito, policiais civis, que são formados de opinião… venham a ser demitidos por opiniões contrárias aos governantes”, anotou o Sindicato dos Policiais Civis do Piauí.
Em MS, outras entidades também lamentaram a demissão do policial civil, que já tinha sido transferido para Pedro Gomes após criticar o então deputado federal Elizeu Dionízio (PSB), que se dizia representante dos evangélicos. O parlamentar ficou furioso ao ter a coerência questionada. Em 2017, Dionízio defendeu o impeachment, mas mudou de opinião e votou contra a investigação do presidente Michel Temer (MDB) flagrado comprando o silêncio de Eduardo Cunha e acusado de receber propina milionária da JBS.
“O Estado Democrático de Direito deve ser preservado e respeitado especialmente pelas instituições públicas e seus agentes efetivos ou temporários, sob pena do Governo de Mato Grosso do Sul: investigar da forma que lhe interessa, acusar politicamente, condenar sem conceder o amplo direito de defesa, e por fim executar a pena aos requintes do prazer de autoridade política que não quer ser criticada”, alertou o Fórum dos Servidores Públicos de Mato Grosso do Sul, em nota de apoio a Vargas.
“Ressaltamos que vários presidentes de entidades representativas que integram o Fórum sofreram ou sofrem implacáveis retaliações administrativas que visam silenciá-los e afetá-los em suas carreiras”, afirmou.
“Do exposto, o Fórum dos Servidores Públicos de Mato Grosso do Sul, manifesta apoio ao servidor demitido Tiago Henrique Vargas e repudia o ato de sua demissão pelas estranhas circunstâncias e parcialidade administrativas no âmbito do Governo de Reinaldo Azambuja (PSDB)”, criticou. “Acreditamos que a justiça possa prevalecer neste caso e garantir, na medida da lei, que o servidor público possa ter a liberdade de expressão garantida e seu emprego de volta”, destacou.
O Sintss (Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social) condenou a demissão em outra nota. “A direção do SintssMS é contra a perseguição política de servidores públicos e de qualquer cidadão, nosso sindicato defende os concursos públicos e a estabilidade do serviço público, para garantir um Estado mais eficiente no atendimento à população, sem amarras com governantes passageiros”, pontuou a entidade, presidida por Ricardo Bueno.
Também houve notas de apoio da AME-MS (Associação dos Militares Estaduais) e do Sindetran (Sindicato dos Servidores do Detran). “Somos contra qualquer perseguição política de servidores públicos e de qualquer cidadão, por isso hoje, mais que nunca, defendemos os concursos públicos e a estabilidade, que são as únicas garantias de um Estado mais eficiente no atendimento à população e sem os vícios de governos transitórios”, destacou o Sindetran.
Tiago estava na Polícia Civil há quase seis anos, desde 1º de agosto de 2014, e não possui condenação da Justiça. Ele foi demitido a partir da sindicância aberta após o vereador Dr. Lívio (PSDB) ter registrado boletim de ocorrência, em que o acusou de coação, ameaça e ofensa durante perícia feita pela junta da Ageprev (Agência Previdenciária). A Justiça marcou o julgamento para o dia 21 de maio de 2021.
Já outros condenados por corrupção, organização criminosa e até dar apoio ao crime organizado foram contemplados com aposentadoria ou ainda ganham salário de quase R$ 24 mil.
Vídeo viralizou nas redes sociais e já visto por mais 3,5 milhões de pessoas (Foto: Reprodução)