A automedicação é uma decisão de risco à saúde em qualquer situação e a prática não mudou, mesmo diante da pandemia de covid-19. Mesmo ainda não havendo uma substância declarada como eficiente para prevenir ou combater a doença, vários nomes de medicamentos ganharam o debate popular.
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Pedimos ajuda da farmacêutica e bioquímica Maria Costa, para responder às dúvidas sobre a medicação contra a covid-19. Maria é formada pela USP de Ribeirão Preto e revela que, entre outros riscos, a automedicação pode mascarar e agravar uma doença.
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Dúvida – Quais os riscos de uma pessoa tomar medicamento por conta própria se tiver covid?
Maria Costa – Os riscos são os mesmos de uma pessoa que pratica a automedicação, a possibilidade de mascarar uma doença preexistente por acobertamento dos sintomas, intoxicações, ocorrência de alergias, podendo chegar até choque anafilático e óbito. Pode, ainda, acontecer potencialização ou anulação do efeito de outros medicamentos utilizados pelo indivíduo, dependência química, agravamento dos sintomas da doença existente, dependendo da e o medicamento que estiver utilizando.
Dúvida – E se não tiver?
Maria Costa – Quando alguém toma medicamentos por conta própria está sentido sintomas que lhe causam desconforto. Esses sintomas, no início, podem ser semelhantes em vários tipos de doenças e a utilização de medicamentos por conta própria causará a exposição aos mesmos riscos já citados acima. O procedimento correto é procurar uma unidade de saúde que preste um atendimento humanizado e possa realizar uma avaliação e acompanhamento do seu estado de saúde e, ainda, possa orientá-lo de maneira correta.
Dúvida – Tomar ivermectina de forma preventiva todas as semanas durante seis meses vai evitar a covid-19?
Maria Costa – A ivermectina é um parasiticida utilizado, de maneira geral, para o tratamento de vermes, sarna e piolhos. Não existem estudos que comprovem eficácia do uso da ivermectina em seres humanos, apenas em animais e “in vitro”, quer dizer fora do corpo em células isoladas, só que a dose utilizada ultrapassa 50 a 100 vezes o limite considerado seguro para seres humanos. Enfim, até o presente momento inúmeras instituições de saúde (Organização Mundial da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Conselho Regional de Farmácia, Sociedade Brasileira de Infectologia, etc) desaconselham o uso da ivermectina.
Dúvida – Tomar cloroquina assim que a febre aparece ajuda a evitar que a pessoa desenvolva covid-19?
Maria Costa – Não existem comprovações científicas do efeito da cloroquina sobre a covid-19 até o presente momento inúmeras instituições de saúde (Organização Mundial da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Conselho Regional de Farmácia, Sociedade Brasileira de Infectologia, etc) desaconselham o seu uso. O uso no tratamento da covid-19 nos primeiros dias de doença, em casos leves e moderados, está sendo avaliado em pesquisas clínicas e se aguardam os resultados, porém, seu uso não é recomendado devido à falta de benefício comprovado e potencial de toxicidade.
É muito importante ficar claro que ainda não existe medicamento para o tratamento curativo ou preventivo, só se trata os sintomas da covid-19, e a melhor forma de prevenção é o distanciamento social.
Dúvida – Qual a diferença entre a cloroquina e a hidroxicloroquina? Por que esses remédios não são receitados para a gripe?
Maria Costa – A cloroquina (C18H26CIN3) e a hidroxicloroquina (C18H26CIN3O) são duas moléculas (substâncias) diferentes, porém, são indicadas para as mesmas patologias (afecções reumatológicas/dermatológicas, malária, lúpus eritematoso e condições dermatológicas provocadas ou agravadas pela luz solar). A cloroquina é um medicamento de mais baixo custo, mais eficaz, porém, apresenta mais efeitos colaterais, assim, em necessidade de uso prolongado a preferência pela hidroxicloroquina.
Não são utilizados para gripe, pois, tais medicamentos apresentaram ação sobre vírus somente em estudos “in vitro”, quer dizer fora do corpo em células isoladas, e esses resultados não se repetiram em seres vivos, sendo, portanto, não recomendado sua utilização.
Dúvida – Qualquer pessoa pode tomar dexametasona se tiver o resultado positivo para a covid?
Maria Costa – Desaconselha-se a utilização de qualquer medicamento sem orientação e acompanhamento de um profissional da área da saúde, inclusive os chás, porém, esse medicamento só deve ser utilizado com prescrição e acompanhamento médico tendo em vista que se trata de um corticóide potente e tem ação antiinflamatória e imunossupressora (diminui as defesas do organismo). Ele também pode interagir/se combinar, com vários outros tipos de medicamentos modificando/alterando a ação dos mesmos e, ainda, alterar os níveis de glicose de diabéticos. Quando em uso prolongado deve ser efetuado o monitoramento do paciente através de exames periódicos. Não se deve interromper o seu uso abruptamente ou sem orientação médica.
Fazemos o boletim covid-19 porque:
Em dezembro de 2019, as autoridades de chinesas de informaram a OMS (Organização mundial de Saúde) sobre o surto de uma nova doença, que foi nomeada posteriormente de covid-19. Em 11 de março, a OMS anunciou que as infecções atingiam proporções epidêmicas. Os dados sobre casos e mortes são fornecidos pela Universidade Johns Hopkins, mas podem não representar a totalidade por conta da subnotificação registrada em muitos países, como o Brasil, que mudou a sistemática de divulgação dos indicadores relativos à covid-19.
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