Preso na Operação Armagedom, denominação da 3ª fase da Omertà, o delegado Márcio Shiro Obara é acusado de estar a serviço do crime organizado. Com salário de R$ 32,2 mil por mês e profissional de primeira classe, ele sumiu com dossiê, impediu investigações e assediou delegados do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) para manter a impunidade de quatro execuções e livrar os chefes de duas organizações criminosas com alto poder financeiro e bélico.
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As revelações feitas pelo Garras e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) levaram o juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal, a decretar a prisão preventiva de Obara e também esclarecem a razão da impunidade dos crimes brutais, com grande repercussão na sociedade sul-mato-grossense.
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Obara não era um delegado qualquer. Ele comandou o Garras, foi titular da DEH (Delegacia Especializada na Repressão de Homicídios) e ainda integrou a Força-Tarefa constituída para desvendar as execuções com tiros de fuzil em praça pública na Capital. Só que ao invés de cumprir o dever funcional de esclarecer os crimes, conforme o Gaeco, ele atuava para impedir as investigações.
De acordo com o Gaeco, ele seria o delegado beneficiado com a propina de R$ 100 mil entregue pelo guarda municipal Marcelo Rios. O pagamento teria sido feito para proteger Fahd Jamil, que teria ordenado parte das execuções para vingar a morte do filho, Daniel Alvarez Georges, após sumir de dentro do Shopping Campo Grande.
A denúncia descreve nos mínimos detalhes como Obara, tido como delegado conceituado e tranquilo, atuou para proteger os grupos de extermínio. No caso do brutal assassinato do sargento da Polícia Militar, Ilson Martins Figueiredo, atingido por 35 tiros de fuzil na Avenida Guaicurus, o delegado sumiu com um dossiê considerado estratégico para esclarecer o crime.
Figueiredo sabia que seria morto e passou a andar com um dossiê, no qual havia prints de conversas de aplicativos sobre sua execução. O homem identificado como “padrinho” lhe avisou que reunião em Ponta Porã selou sua morte.
Obara é acusado de ter sumido com dossiê, caneta espiã e cartões de memória em poder da vítima. Ele ainda teria ignorando indícios de que o crime tinha ligação com o fuzilamento de Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o Betão, em Bela Vista. Ele e Anderson Celin Gonçalves da Silva foram metralhados e queimados.
Como titular da DEH, ele ainda comandou as investigações do duplo homicídio em Bela Vista. Segundo a denúncia, ele impediu o avanço das investigações e ignorou pedidos para quebra do sigilo dos telefones celulares dos pistoleiros envolvidos nas execuções. Apesar de ser notório o envolvimento de Fahd Jamil com os crimes, Obara nem citou o nome do rei da fronteira no relatório final, que não apontou nenhum culpado pelas mortes.
Ao fazer parte da Força-Tarefa para desvendas as execuções de Ilson, do universitário Matheus Coutinho Xavier, do segurança Orlando da Silva Fernandes e do Marcel Colombo, o Playboy da Mansão, ele passou pressionar os colegas do Garras, os delegados Fábio Peró e João Paulo Sartori, para encerrar as investigações e se limitar à apreensão do arsenal de guerra na casa do Jardim Monte Líbano.
“Em outras palavras, o Delegado de Polícia MÁRCIO SHIRO OBARA atuou no sentido de blindar os chefes das organizações criminosas que lhe pagaram a propina de R$ 100.000,00, inclusive chegando a dizer ao Delegado de Polícia Fábio Peró que este ‘estaria diante de crime envolvendo as duas Organizações Criminosas mais poderosas do Estado e que se comunicavam entre si’, referindo-se às organizações criminosas comandadas por FAHD JAMIL e por JAMIL NAME”, pontuaram os promotores do Gaeco.
“Consta das investigações, também, que o Delegado de Polícia MÁRCIO SHIRO OBARA sabia quem eram os mandantes dos homicídios investigados, fazendo de tudo para protegê-los, chegando a questionar o Delegado de Polícia Fabio Peró ‘se não tinha interesse em deixar o inquérito policial que apurava a execução Matheus Coutinho Xavier sob sua presidência’, bem como chegou a questionar o Delegado João Paulo Sartori para saber ‘até onde ele queria chegar’, demonstrando preocupação em resguardar os líderes das organizações criminosas”, frisaram.
Obara também foi um dos delegados responsáveis em desvendar o brutal assassinato do delegado aposentado Paulo Magalhães. Apesar da suspeita de ligação do crime com o jogo do bicho, a Polícia Civil concluiu a investigação apenas identificando os executores, entre os quais estava o guarda municipal José Moreira Freires, o Zezinho, único condenado a 15 anos de prisão pelo assassinato.
Em abril deste ano, o juiz Carlos Alberto Garcete, em substituição na 2ª Vara do Tribunal do Júri, determinou a reabertura do inquérito para apurar quem foram os mandantes da execução de Magalhães. O Garras acredita ter encontrado novos indícios com a Operação Omertà.