Incensados no mundo inteiro pelo trabalho de combate à Covid-19, os médicos não estão recebendo o mesmo tratamento em Mato Grosso do Sul, onde a pandemia começa a ganhar força, chegando a 1.925 casos confirmados. Em Aquidauana, a 130 quilômetros da Capital, os heróis da saúde estão sem receber quatro meses de salário. Caso precisem ir à luta contra o coronavírus, que só fez duas vítimas na região, os profissionais vão se arriscar, praticamente, de graça na luta para salvar vidas.
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O prefeito da cidade, Odilon Ribeiro (PSDB), admitiu o atraso no pagamento dos salários. No entanto, ele atribuiu o problema a herança do antecessor, José Henrique Trindade. No entanto, situação piorou. Conforme o tucano, ele assumiu com três folhas atrasadas. Agora, os médicos estão sem receber quatro meses – dezembro de 2016 e os meses de fevereiro, março e abril deste ano.
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“Não tem como trabalhar com quatro meses de atraso”, lamenta Marcelo Santana, presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul. Em plena pandemia, cerca de 40 médicos ameaçam entregar a escala – suspender a prestação de serviço no Hospital Regional de Aquidauana.
Referência para seis municípios, o HR de Aquidauana conta com 96 leitos e será fundamental no atendimento à população caso a pandemia do coronavírus chegue à região. Atualmente, só dois casos confirmados, em Anastácio e Miranda. Ribeiro reclama da falta de ajuda das prefeituras vizinhas, que encaminham os pacientes para o município: Anastácio, Bodoquena, Dois Irmãos do Buriti, Miranda e Nioaque.
“Apesar do momento em que estamos vivendo (da pandemia), não estão nem aí”, criticou Santana, sobre o descaso do município com os profissionais da saúde. Ele foi a Aquidauana nesta quinta-feira (4) para conversar com o prefeito e conversar com os médicos. O sindicato é contra a paralisação das atividades no atual momento.
Aquidauana é a cidade onde o prefeito contratou a mulher do ex-secretário de Governo, Wezer Lucarelli. A advogada Cintia Carla Lemos foi contratada com salário de R$ 8 mil logo após Odilon Ribeiro dispensar 300 professores da rede municipal de ensino como parte da estratégia para reduzir os gastos da prefeitura.
Prefeito diz que fará empréstimo para pagar médicos
Em reunião com os médicos na tarde de hoje (4), o prefeito Odilon Ribeiro prometeu quitar as quatro folhas atrasadas até o fim deste mês. No entanto, ele precisará obter empréstimo de R$ 2 milhões para colocar os salários em dia.
De acordo com Marcelo Santana, os médicos vão aguardar até o dia 30. Eles vão dar um voto de confiança a Ribeiro.
Por outro lado, caso o prefeito não cumpra a promessa, os profissionais podem discutir paralisação do atendimento a partir do segundo semestre deste ano.
A cidade famosa por ser o portal do Pantanal parece ser a única no mundo em que os heróis da saúde não recebem aplausos pelo combate à pandemia. Muito pior, o município parece estar disposto a castiga-los por atuarem na linha de frente ao coronavírus.
A situação ocorre no momento em que a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 123 novos casos no Estado, com o número total passando de 1.802 para 1.925. O maior crescimento continua sendo na região de Dourados, o epicentro da pandemia em MS.
Dourados passou a barreira dos 400 casos com a confirmação de mais 41 testes positivos. O município lidera o ranking estadual com 419 pacientes da Covid-19. De acordo com a médica infectologista Mariana Croda, o índice positividade no drive thru douradense passou de 22% para 24,3%.
O coronavírus segue se propagando rapidamente em Fátima do Sul (138 casos), Rio Brilhante (77), Douradina (67), Itaporã (63) e Vicentina (39).
Houve a confirmação de 12 novos casos na Capital, que segue em segundo com 341 infectados. Guia Lopes da Laguna teve um caso novo, chegando a 239. Mesma situação ocorreu em Bonito, que passou a contar com 49 casos.
Hoje, houve aumento no número de hospitalizados, de 38 para 48. O número não considera pacientes internados com os sintomas da doença, cujo resultado de exame ainda não foi divulgado. Catorze estão na UTI. Vinte pessoas já morreram no Estado.