Enquanto a cidade de Wuran, na província chinesa de Hubei retoma a rotina após três meses de quarentena, o restante do mundo ainda patina sobre a implantação de medidas eficazes para evitar a propagação do vírus SARS-Cov-2, o causador da covid-19. Europa e Estados Unidos polarizam hoje a maioria de casos, mesmo após os alertas insistentes dos serviços sanitários chineses sobre os cenários que enfrentam. Como forma de interromper o ciclo do vírus, reduzir as taxas de contaminação e, em consequência as mortes por covid-19, a Sociedade Médica de Massachusetts recomendou seis medidas com base na análise do trabalho desenvolvido em Wuran e na Coreia do Norte.
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O artigo, assinado pelo médico Ph.D Harvey Fineberg e publicado na revista New England Medical Journal of Medicine, considera a analogia da Casa Branca de que há uma guerra em curso, com evidentes riscos para a vida e a economia. O artigo revela que a recuperação econômica só deve ocorrer após o fim do ciclo e depende da agilidade na aplicação de medidas e incita que, se forem aplicadas, o prazo para quebrar o ciclo do vírus é de dez semanas.
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Usando a linguagem bélica, a que estão acostumados os norte-americanos, Fineberg aponta que é preciso ser astuto suficiente contra o inimigo (o vírus SARS-Cov-2), conhecer onde se esconde, com que velocidade se move, quais os pontos ameaçam e o que o torna vulnerável. O artigo foi publicado na primeira semana de abril e indica resultados para o início de junho, considerando que os artifícios foram aplicados na estratégia de combate em Wuran e da Coreia do Sul.
Tática 1: Comando unificado e subcomandos nos estados.
A presidência norte-americana deve nomear um comandante. Essa pessoa teria que conquistar a confiança da população e teria autoridade sobre recursos civis e militares. Na mesma linha, cada governador de estado também deve nomear um comandante local. Assim, será possível direcionar a resposta em atenção à diversidade do território. Também essa é a forma de canalizar, quando necessária, a transferência de suprimentos e recursos humanos e compartilhar experiências de sucesso.
Tática 2: Disponibilizar milhões de testes de diagnóstico de covid-19
Na avaliação do pesquisador Harvey Fineberg, não é necessária a condução de todas as pessoas para a testagem, mas todo cidadão com sintomas precisa ser submetido. A partir do teste e da avaliação dos sintomas, é possível conhecer a dimensão do surto. Os testes também contribuem para suprir pesquisadores de dados e melhoram a triagem de pacientes. Entre as formas de massificar a realização de testes, o médico sugere a disponibilidade de pontos específicos e separados dos centros de atendimento.
País | Número de casos | Mortes |
Estados Unidos | 434.791 | 14.802 |
Espanha | 152.446 | 15.238 |
Itália | 139.442 | 17.669 |
Alemanha | 113.296 | 2.280 |
França | 82.048 | 10.869 |
China | 81.865 | 3.335 |
Irã | 67.286 | 4.110 |
Reino Unido | 60.733 | 7.087 |
Turquia | 38.226 | 812 |
Bélgica | 24.983 | 2.523 |
Brasil (14º) | 16.195 | 822 |
Mundo | 1.496.055 | 88.982 |
Tática 3: Disponibilizar (EPI) Equipamentos de Proteção Individual para as equipes de saúde e implantar ventiladores
Ainda em um reforço à analogia da guerra, o pesquisador incita que os Estados Unidos não enviam soldados para as batalhas sem coletes balísticos e que profissionais na linha de frente do tratamento da covid-19 não merecem menos que o mesmo tratamento. Assim, todos os cuidadores de doentes graves necessitam de EPIs padronizados. Nessa linha, é sugerida a rápida implantação de ventiladores nos hospitais que recebem os doentes mais graves para que as equipes tenham maior sucesso na condução dos cuidados após a realização de diagnósticos.
Tática 4. Dividir a população em cinco grupos para tratamento adequado à necessidade apresentada por cada um deles
Primeiro é preciso saber quem está infectado e testou positivo. Em segundo lugar, serão separadas as pessoas que apresentam sintomas e sinais, mas inicialmente receberam um teste negativo para a covid-19. No terceiro grupo ficam as pessoas expostas e, em quarto quem não foi exposto e não chegou a ser infectado. Um quinto grupo de pessoas será formado por ex-pacientes, por quem foi infectado, desenvolveu a doença e se recuperou.
A conduta de tratamento para cada grupo vai determinar quem será monitorado, receber cuidados hospitalares para acompanhamento ou cuidados intensivos. Também essa é uma forma de reduzir os riscos de contaminação, já provada, por exemplo, por quem está assintomático.
Com o domínio das informações, as autoridades também terão recursos para impedir recontaminações no próprio ambiente hospitalar, definindo quem fica em isolamento hospitalar ou em quarentena.
Esse é o porquê do isolamento físico populacional, porque mesmo quem é assintomático, pode servir como vetor de transmissão. Já a atenção aos pacientes recuperados pode ser utilizada como instrumento de pesquisa para testes de anticorpos, o que pode favorecer a retomada da economia com rapidez e segurança.
Tática 5: Uso generalizado de máscara de proteção e aumentar a divulgação da pesquisa pela vacina
Essas medidas, na avaliação do pesquisador Harvey Fineberg são uma das formas de inspirar e mobilizar a população. O trabalho na pesquisa por vacinas, medicamentos e a aplicação de testes generalizados ajudam a aumentar a confiança no trabalho das autoridades sanitárias. Esses esforços necessitam, então, de divulgação em todos os meios de informação, já utilizados para instruir a população a seguir as medidas de prevenção e controle.
Já o uso generalizado de máscaras cirúrgicas deve ocorrer após solucionar a oferta do acessório para todos dos profissionais de saúde. Nesse ponto, a distribuição poderia ocorrer com auxílio dos correios e de voluntários que levariam máscaras e desinfetantes para todas as famílias como parte de um programa sanitário.
Tática 6: Intensificar os estudos em tempo real da pandemia
Para o médico, é preciso monitorar todas as reações dos pacientes à infecção e à resposta dos tratamentos para investigações. Esse método foi eficiente para conhecer o comportamento das infecções por HIV, vírus causador da Aids.
Observar essas condições são essenciais para definir as decisões que vão moldar cada passo da saúde pública e integram um guia científico necessário para reativar a economia.
Na proposta, Harvey Fineberg, afirma que “se descobrirmos quantas pessoas foram infectadas e quantas estão imunes, podemos determinar quando é seguro voltar ao trabalho e retomar atividades mais normais”. Como a infecção ainda está em curso, enfatiza, são necessárias respostas como: o papel das crianças como vetores de transmissão; a permanência do vírus em espaços e superfícies e materiais.
São essas as respostas necessárias para a reativação de cadeias econômicas, como a aeroviária, a hoteleira, a alimentar, e a indústria do entretenimento. Até lá, sugere o pesquisador, cabe ao estado manter o sustento de pessoas e pequenos negócios. Sem a aplicação ágil dessas medidas, a previsão de Harvey Fineberg é que haverá mais mortes, uma economia cada vez mais sobrecarregada por consumidores ansiosos e restrições comerciais.
Harvey Fineberg demarcou ainda o dia 6 de junho, como o marco para vencer o coronavírus, caso as medidas fossem tomadas da forma como sugeriu. Também seria esse um instrumento geopolítico determinante para o posicionamento do país junto à comunidade internacional e o modelo para enfrentar outras ameaças semelhantes, que passaria, claro, pelo revigoramento da saúde pública.