Os defensores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Mato Grosso do Sul desdenharam da pandemia da Covid-19, que já matou mais de 5,9 mil pessoas no mundo, e desafiaram as autoridades de saúde ao promover mega carreata neste domingo em Campo Grande. Além de mostrar o vigor do bolsonarismo, o protesto é o mais radical já realizado contra o Congresso Nacional na cidade.
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Vestidos de verde-amarelo, marca das mobilizações desde os atos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), centenas de pessoas compareceram com faixas e bandeira do Brasil. A maioria sem máscaras para evitar a propagação do coronavírus, conforme recomendação do Ministério da Saúde.
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O ponto alto do protesto foi a carreata, convocada por seis movimentos de rua, que congestionou o trânsito na Avenida Afonso Pena, entre o Parque dos Poderes e o Shopping Campo Grande. “Com certeza foram mais de mil veículos”, estimou Fabrícia Salles, do Nas Ruas, um dos organizadores da manifestação.
O deputado estadual Capitão Contar (PSL) contabilizou mais de 400 motociclistas na moto-carreata de apoio a Bolsonaro e contra o parlamento federal. “(Foi) excelente. Demos o exemplo. Usando máscara, ao ar livre, sem tumulto, sem contato físico, sem atentar contra a segurança e integridade das pessoas”, destacou o parlamentar.
“O Congresso apoia as reformas para o Brasil e para com a chantagem, pressão e o toma lá, dá cá. Ou o Congresso virá abaixo”, ameaçou Fabrícia Salles.
Apesar da recomendação dos organizadores, um número expressivo de participantes ignorou a pandemia, que contaminou mais de 159 mil pessoas em 100 países, e não adotou as medidas de prevenção, como evitar contato físico, abraços, apertos de mãos e usar máscaras.
“Não acredito neste perigo todo, além disso foi sensato mudar a manifestação de passeata para carreata”, afirmou a educadora física Cida Bravo, 56 anos, ao Campo Grande News. “Não é o vírus que vai parar o brasileiro, o que vai parar o Brasil é o vírus da velha política”, disse a cuidadora de idosos Valdete Lemes, 42, ao TopMídiaNews.
Os campo-grandenses não foram os únicos a ignorar os protocolos de saúde pública para evitar o pior. Em Brasília, Bolsonaro deu o mau exemplo ao cumprimentar os seguidores, fazer selfies e abraçar os eleitores. Ele não usou máscara. Além disso, o presidente retornou do exterior na semana passada e sete integrantes da sua comitiva tiveram o exame confirmado para coronavírus. O capitão deveria ficar de quarentena por 14 dias.
A manifestação foi para expressar a revolta e indignação com o Congresso Nacional. Uma mulher levou cartaz para pedir a utilização do artigo 142 da Constituição Federal, que prevê o acionamento das Forças Armadas para impor a lei e a ordem.
“O Congresso está atrapalhando o presidente, por isso é necessário este apoio”, justificou José Alves Barcelos, 47, ao Campo Grande News. Ao Midiamax, Sandra Oliveira, 76, defendeu o protesto. “Não estou preocupada com o coronavírus, mas sigo os protocolos. Trouxe máscara e álcool gel e estou mantendo distância de cerca de um metro das pessoas. O nosso protesto é pelo resgate do País”, afirmou.
Outro deputado que endossou a manifestação, contrariando recomendações das autoridades, foi o deputado estadual João Henrique Catan (PL), neto do ex-governador do Estado e ex-prefeito da Capital, Marcelo Miranda Soares.
“As pessoas que vieram não estão faltando ao trabalho, não receberam incentivo nem vale gasolina, mas estão revoltadas com representantes que, ao invés de ajudar, só atrapalham”, afirmou Catan, que também faz parte do parlamento estadual.
Apesar do pânico causado pelo coronavírus em parte da população, os bolsonaristas conseguiram mostrar o vigor do movimento em Campo Grande. O protesto contra o aumento da gasolina pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) levou apenas 30 veículos à Avenida Afonso Pena.