Recebendo o 7º menor salário entre as 27 unidades da federação, os policiais militares e bombeiros de Mato Grosso do Sul vão exigir a reposição da inflação dos últimos quatro anos, que representa reajuste de 23,5%. As negociações com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) começam com o fortalecimento do movimento dos militares em todo o País, que contam com o apoio de ministros do Governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
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No Estado, 12 mil militares estão sem reajuste há quatro anos, segundo o presidente da AME-MS (Associação dos Militares Estaduais), Thiago Mônaco Marques. Como a data-base da categoria é maio, as entidades já começaram as negociações com o Governo. No ano passado, o funcionalismo público estadual não teve reajuste, apesar do salário do governador ter sido reajustado em 16,37%.
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A defasagem é muito maior na opinião do presidente da Associação dos Cabos e Soldados da PM e Corpo de Bombeiros, cabo Mário Sérgio Couto. “Só de reposição da inflação dá 27%”, afirmou. Ele defende pelo menos três pontos percentuais de ganho real, o que significa correção de 30% nos salários dos policiais.
Uma das reivindicações da entidade será a exigência de nível superior para ingressar na PM, o que poderá elevar os vencimentos em 15% com a reestruturação. Outro pedido é a atualização dos sete níveis atuais.
Outro problema é o déficit de militares para atuar na prevenção da violência em Mato Grosso do Sul. Atualmente, as viaturas ficam encostadas nos quarteis em decorrência da falta de policiais. Antigamente, conforme Couto, militares faziam ronda a pé por falta de veículos.
Até hoje faz sucesso o vídeo de Reinaldo Azambuja na campanha de 2014, quando prometia valorizar os integrantes da segurança pública. Em entrevista ao apresentador Tatá Marques, do programa O Povo na TV, do SBT MS, o tucano prometia melhores salários aos policiais militares e bombeiros.
Só que no cargo há cinco anos, Reinaldo não cumpriu a promessa. Conforme levantamento da Associação dos Cabos e Soldados de São Paulo, o salário inicial de soldado em MS, de R$ 3.352, é o 8º menor do País.
Na região Centro-Oeste, o militar sul-mato-grossense recebe a pior remuneração. Goiás paga a maior entre os 27 estados, com R$ 5.767, enquanto o Distrito Federal tem o 2º maior salário (R$ 5.245). Mato Grosso paga o 6º maior salário para soldado (R$ 4.741).
A situação já foi muito melhor para a PM no Estado. Há 14 anos, no último ano de gestão de Zeca do PT, o Governo sul-mato-grossense pagava o 2º maior salário ao policial no País. De acordo com Couto, André Puccinelli (MDB) entregou com o 7º maior. Com Reinaldo, o vencimento passou a figurar em 20º entre os maiores do País, ou seja, despencou 13 posições. Já o salário de governador passou a ser o maior do País.
Salário de soldado da PM em MS despencou de 2º para 20º maior, segundo entidade
Estado | Valor |
Goiás | R$ 5.767 |
Distrito Federal | R$ 5.245 |
Acre | R$ 5.113 |
Roraíma | R$ 5.026 |
Amapá | R$ 4.830 |
Mato Grosso | R$ 4.741 |
Tocantins | R$ 4.711 |
Rio Grande do Sul | R$ 4.689 |
Santa Catarina | R$ 4.581 |
Maranhão | R$ 4.558 |
Rondônia | R$ 4.232 |
Amazonas | R$ 4.227 |
Paraná | R$ 4.180 |
Minas Gerais | R$ 4.098 |
Alagoas | R$ 3.744 |
Pará | R$ 3.659 |
Rio de Janeiro | R$ 3.452 |
Piauí | R$ 3.371 |
Sergipe | R$ 3.370 |
Mato Grosso do Sul | R$ 3.352 |
Fonte: ACS SP |
O reajuste exigido pelos militares de MS representa quase metade do reajuste concedido pelo governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. Apesar da crise nas finanças mineiras, que vem atrasando pagamento de salários, os policiais de MG vão ter correção de 41%.
Os policiais militares do Ceará conseguiram reajuste de 40%, que elevará o salário inicial de R$ 3.253 para R$ 4,5 mil em 2022. O índice foi proposto pelo governador Camilo Santana (PT) após 13 dias de aquartelamento.
A paralisação da PM cearense teve repercussão nacional após o senador Cid Gomes (PDT) ser baleado ao avançar com uma retroescavadeira para cima dos amotinados em um quartel de Sobral (CE).
O motim dos policiais cearenses ganhou apoio do Governo de Bolsonaro. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, considerou a paralisação ilegal, mas defendeu a valorização da PM.
“O governo federal vê com preocupação a paralisação que é ilegal da Polícia Militar do Estado. Claro que o policial tem que ser valorizado, claro que o policial não pode ser tratado de maneira nenhuma como um criminoso. O que ele quer é cumprir a lei e não violar a lei, mas de fato essa paralisação é ilegal, é proibida pela Constituição. O STF (Supremo Tribunal Federal) já decidiu isso”, afirmou o ex-juiz.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, defendeu a paralisação dos policiais. “Todo mundo tem direito à greve. As categorias têm direito à greve”, afirmou a ministra durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça.
A manifestação dos ministros e o reajuste de 41% proposto por Zema acenderam o sinal de alerta entre os governadores, que temem um efeito cascata.