A Justiça condenou a vereadora de Aquidauana, Lenilda Maria Damasceno, 48 anos e do PDT, por envolvimento com quadrilha especializada no furto de gado. A parlamentar comprou 43 bezerros furtados em 2012. A sentença é do juiz Ronaldo Gonçalves Onofri, da Vara Criminal, Infância e Juventude de Aquidauana.
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Com a condenação publicada no dia 2 deste ano, a pedetista vem se somar aos casos de outros políticos condenados por envolvimento com o crime. O prefeito de Aral Moreira, Alexandrino Arévalo Garcia (PSDB), foi condenado a sete anos por envolvimento com o tráfico internacional de drogas. A 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça reduziu a pena para quatro anos e oito meses e o manteve no cargo.
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Garcia foi preso na Operação Materello, da Polícia Federal em 2016, quando vereador. Acusado de integrar a organização criminosa formado por mais de 40 pessoas, ele se candidatou a prefeito e ganhou a eleição.
Em Três Lagoas, Marisa Rocha (PSB) foi presa em operação do Gaeco acusada de chefiar o tráfico de drogas no município. Na ocasião, ela estava licenciada do mandato para comandar a Secretaria Municipal de Esportes a convite do prefeito Angelo Guerreiro (PSDB). Ela foi condenada pela polícia ter encontrado maconha escondida em seu sítio.
Agora, o sul-mato-grossense se depara com a sentença contra a vereadora de Aquidauana. Lenilda Damasceno foi acusada pelo crime em 2012, quando era vereadora de Bodoquena, também pelo PDT. Ela tinha sido eleita em 2008 com 243 votos. Ela mudou o domicílio eleitoral para Aquidauana, mas não conseguiu se eleger em 2012, quando obteve 266 votos.
Em 2016, ela se candidatou novamente, conseguiu 383 votos e acabou eleita vereadora de Aquidauana. Quatro anos depois da denúncia, o eleitorado pareceu esquecer a suspeita contra a pedetista.
No dia 2 de janeiro deste ano, o juiz Ronaldo Gonçalves Onofri publicou a sentença. O chefe da quadrilha, Ezequiel Vilalva de Andrea, o Brother, foi condenado a dez anos, sete meses e 15 dias em regime fechado. José Roberto de Araújo Valente e Leomar Onório Rodrigues foram condenados a quatro anos e nove meses no regime semiaberto. O caseiro e o filho foram condenados no regime aberto e tiveram a pena convertida em prestação de serviço.
A vereadora e o ex-marido, Rodrigo Souza Albuquerque, foram condenados a um ano no regime aberto e a suspensão dos direitos políticos pelo mesmo período. O magistrado substituiu a pena privativa pela prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, sendo uma hora por dia.
Conforme a denúncia, Ezequiel e seu bando furtaram várias fazendas entre os anos de 2011 e 2012. Em uma das ocasiões, ele vendeu 43 bezerros para Lenilda. Na época, cada animal teria custado R$ 600.
O Ministério Público Estadual sustentou a versão policial, de que a pedetista sabia do furto, tanto que o gado foi remarcado para cobrir a marca do dono anterior, substituindo a marca “CD” por “OD”. Ela não registrou o gado na agência da Iagro nem na Agenfa (Agência Fazendária).
“Os acusados confessam a aquisição das 43 reses vendidas por Ezequiel, contudo, alegam que não tinham conhecimento da origem ilícita dos animais. A acusada Lenilda Maria Damasceno disse, no inquérito, que é proprietária da fazenda “Estância Karoline’ (antiga Fazenda São Sebastião) há dois anos e que comprou 42 bezerros machos de Ezequiel, pelo valor de R$ 27.500,00 (vinte e sete mil e quinhentos reais). A interroganda não conferiu os animais antes da negociação porque conhecia e tinha confiança em Ezequiel. A compra dos bezerros não foi informada ao Iagro nem à Secretaria de Fazenda Estadual, pois Ezequiel ficou de levar mas não entregou a nota fiscal dos animais”, anotou Onofri.
A vereadora ainda tentou se livrar dos bovinos roubados. Ao saber da prisão de Ezequiel, ela chamou o funcionário, determinou o corte da cerca e mandou tocar os animais para a fazenda do vizinho.
“Após tomar conhecimento da prisão de Ezequiel, a interroganda se desesperou, imaginando que o gado comprado de Ezequiel pudesse ser roubado, por isso determinou que Daniel, funcionário da fazenda, cortasse os fios da cerca da fazenda e deixasse os animais escaparem”, escreveu o magistrado.
“A respeito da senhora Lenilda, a sua atitude de determinar a soltura do gado após o anúncio público da prisão do réu Ezequiel é a prova inequívoca de que tinha prévio e total conhecimento da origem ilícita dos bezerros”, concluiu Ronaldo Onofri.
A parlamentar e os demais condenados poderão recorrer em liberdade e só vão iniciar o cumprimento da pena após a sentença transitar em julgado.
O caso revela mais uma vez que o eleitor sul-mato-grossense não tem dado muita importância para a moralidade na hora do voto. Mato Grosso do Sul foi um poucos estados no País em que candidatos presos ou abarrotados de processos de corrupção tiveram e continuam tendo sucesso nas urnas. O mais grave é que crimes mais graves, como furto, roubo, tráfico de drogas, também passaram a ser minimizados pelo eleitorado.