As denúncias de corrupção, a precariedade no transporte coletivo e as queixas dos usuários são ignoradas por 22 dos 29 vereadores de Campo Grande. Só sete parlamentares assinaram a CPI para investigar o Consórcio Guaicurus, grupo de quatro empresas controladas pela poderosa família Constantino na Capital.
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Além de ter os problemas ignorados pela maior parte do parlamento, os passageiros devem pagar mais caro pela passagem de ônibus ainda neste mês. O último reajuste ocorreu no dia 3 de dezembro do ano passado. A expectativa é repor o investimento feito na compra de ônibus novos, o reajuste de 6,3% no combustível e a correção nos salários dos trabalhadores.
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Somente sete vereadores não ignoraram o clamor popular e assinaram a CPI: Vinícius Siqueira (DEM), André Salineiro (PSDB), Enfermeira Cida Amaral (PROS), Dr. Lívio (PSDB), Papy (SD), Dr. Loester e Dr. Wilson Sami, ambos do MDB.
De acordo com Vinicius Siqueira, para a CPI do Transporte Coletivo ser instalada são necessárias, no mínimo, 10 assinaturas. Desde junho deste ano, apesar das denúncias e da indignação popular, 22 parlamentares continuam contrários à investigação – e acabam protegendo, direta ou indiretamente – as empresas de ônibus (Viação Cidade Morena, Campo Grande, São Francisco e Jaguar).
Na semana passada, o presidente do diretório municipal Yves Drosghic, anunciou a suspensão das atividades partidárias de Odilon e Ademir. Além disso, o segundo enfrentará pedido de expulsão no Conselho de Ética do PDT.
A situação é tão surreal que até o PT, que já foi combativo na Capital há muitas décadas, não endossou a investigação contra o Consórcio Guaicurus, que fatura R$ 13,7 milhões por mês na Capital. O único vereador do Partido dos Trabalhadores é Ayrton Araújo.
Apesar de já ter dado declarações de que o poderoso grupo familiar ignora a Câmara, o presidente da Comissão de Transporte, Júnior Longo (PSB), também não assinou a CPI. Mesma postura foi adotada por Eduardo Romero, único integrante da Rede na Capital, a combativa sigla da ex-ministra Marina Silva.
Veja quem não assinou a CPI do Transporte Coletivo na Câmara Municipal
1 – Ademir Santana (PDT) | 12 – Fritz (PSD) |
2 – Ayrton Araújo (PT) | 13 – Gilmar da Cruz (Republicanos) |
3 – Betinho (Republicanos) | 14 – João César Matogrosso (PSDB) |
4 – Carlão (PSB) | 15 – Júnior Longo (PSB) |
5 – Cazuza (PP) | 16 – Odilon Oliveira Júnior (PDT) |
6 – Dharleng Campos (PP) | 17 – Otávio Trad (PTB) |
7 – Chiquinho Telles (PSD) | 18 – Pastor Jeremias Flores (Avante) |
8 – Delegado Wellington (PSDB) | 19 – João Rocha (PSDB) |
9 – Dr. Antônio Cruz (PSDB) | 20 – Valdir Gomes (PP) |
10 – Dr. Cury (sem partido) | 21 – Veterinário Francisco (PSB) |
11 – Eduardo Romero (Rede) | 22 – William Maksoud (PMN) |
Enquanto os vereadores ignoram o problema, no dia-a-dia, o usuário pena para andar de ônibus em Campo Grande. Só no mês passado, o Midiamax contabilizou oito veículos quebrados (veja aqui). Os passageiros foram obrigados a cumprir o restante do itinerário a pé ou obrigado a esperar pela substituição de outro veículo.
A truculência da Guarda Municipal contra o protesto de mulheres no Terminal Morenão causou perplexidade na sociedade, menos nos parlamentares campo-grandenses. Na ocasião, houve atraso de 35 minutos em uma das linhas e as trabalhadoras se revoltaram porque a maior parte não teria a clemência do chefe por chegar atrasada no serviço.
O Consórcio Guaicurus não vem cumprindo o contrato de concessão, firmado no apagar das luzes do mandato de Nelsinho Trad (PSD) em 2012. Aliás, uma delação premiada no Paraná, feita pelo consultor do certame, revelou que houve manipulação e direcionamento no certame para favorecer as empresas da família Constantino. Uma empresa de Curitiba (PR) foi “convidada” a participar para simular concorrência.
Enquanto a maior parte dos vereadores fecha os olhos para as graves denúncias e problemas do transporte coletivo, até o Procon anunciou disposição de multar as empresas por má prestação de serviço.
No sábado, motoristas protestaram no Centro da Capital por reajuste salarial. Eles são dissidentes. A situação é tão inusitada, que o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo saiu em defesa das empresas e se juntou ao coro de que a paralisação de duas horas era ilegal.
As negociações devem continuar nesta semana, mas dois motoristas foram demitidos porque foram identificados como líderes do movimento grevista.
O grupo de vereadores a favor do transporte coletivo é praticamente o mesmo que aprovou regras que devem encarecer o transporte por aplicativo a partir de janeiro na Capital.