Com investimento de R$ 60 milhões, o projeto Reviva Centro repagina a Rua 14 de Julho, impõe nova cultura na via e dá fôlego ao comércio central na disputa com os shoppings. Ao marcar a retomada do investimento na região central após 40 anos, a obra deve valorizar os imóveis em 50% e concretiza, após três décadas, o sonho dos lojistas de implantar “shopping a céu aberto”.
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Ao idealizar a revitalização da 14 de julho, a equipe do escritório Conceitos Inteligentes em Arquitetura buscou dar mais conforto ao pedestre ao longo dos 1.500 metros entre as avenidas Fernando Corrêa da Costa e Mato Grosso. As calçadas ficaram mais largas. Os veículos perderam espaço para o tráfego – redução de três para duas faixas – e 120 vagas de estacionamento.
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O arquiteto César da Silva Fernandes, o Caju, explica que o objetivo é dar conforto para quem quiser andar, apreciar as vitrines e fazer compra na via. Além dos bancos, houve o plantio de 180 mudas de árvores para dar conforto térmico ao consumidor.
De acordo com a coordenadora do Reviva Centro e diretora de Projetos Estratégicos do município, Catiana Sabadin, a região central não tinha investimentos há mais de quatro décadas. Além de redesenhar a Rua 14 de Julho, a prefeitura refez toda a infraestrutura, inclusive as redes de esgoto e de água, retirou 121 postes e acabou com o emaranhado de fios de energia, telefonia e internet.
O prefeito Marquinho Trad (PSD) tirou do papel o projeto idealizado no início dos anos 90, na gestão de Juvêncio César da Fonseca (MDB). Na época, lojistas e a prefeitura ampliaram a calçada e instalaram climatizadores na via para dar a sensação de “shopping” aos consumidores.
No entanto, o sonho começou a ser colocado no papel em 2010, na gestão de Nelsinho Trad (PSD), quando técnicos começaram a desenhar o Reviva Centro. O projeto se manteve nas gestões seguintes, de Alcides Bernal (PP) e Gilmar Olarte (sem partido), com a busca do financiamento.
Com a liberação de US$ 56 milhões pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Marquinhos conseguiu concluir a primeira etapa do projeto com a inauguração da nova 14 de Julho na tarde desta sexta-feira (29).
Criticada no início pelos comerciantes, a obra dará fôlego ao comércio central na guerra por clientes com os cinco shoppings instalados na Capital. Com design moderno e Wi-Fi gratuito, com capacidade para mais de 300 pessoas simultaneamente, o “coração do comércio” ganha ares de primeiro mundo na Capital.
Antes das obras, 15 mil pessoas passavam por dia na Rua 14 de Julho, segundo levantamento realizado pelo município. Na região central, houve queda 33% no público no quadrilátero central, de 300 mil para 200 mil pessoas por dia, segundo o presidente da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas), Adelaido Vila. Ele crê na recuperação deste contingente com a modernização da 14 de Julho.
A 14 de Julho em números
Árvores | 180 |
Postes retirados | 121 |
Postes novos | 206 |
Lâmpadas de LED | 412 |
Dutos | 85 mil m |
Cabos | 78 mil m |
Funcionários | 470 |
Terra transportada | 45 mil m³ |
Extensão da obra | 1.500 m |
“Ficou muito bonita, mudou o conceito de trânsito de veículos para gerar mais conforto para o pedestre”, rendeu-se o dirigente, que ficou famoso como um dos principais críticos das obras do programa Reviva Centro.
Na opinião do presidente da CDL, a prefeitura não conseguiu resolver um problema: a falta de vagas de estacionamento. Ele estima que o déficit é de mil vagas por hora na região central. A situação ficou pior com a retirada de vagas de estacionamento na Avenida Afonso Pena, para dar maior fluidez ao tráfego de veículos, e, agora, com a eliminação de vagas em três quarteirões da 14 de Julho.
Para a administração municipal, este não é problema. Segundo Catiana, 70% dos consumidores do Centro usam o transporte coletivo. Sobre o déficit de vagas, ela aposta que o problema será resolvido pela iniciativa privada. A prefeitura oferece incentivos para quem investir em estacionamentos verticais.
Adeilado defende a intervenção do poder público, como chegou a ser discutido na gestão de Nelsinho. Na época, a prefeitura cogitou construir espaços para estacionamento perto da Feira Central ou subterrâneos sob a Praça Ary Coelho e o Mercadão.
Como as propostas não vingaram, a CDL defende que a Orla Ferroviária seja liberada para estacionamento de veículos, já que o projeto de R$ 4,9 milhões fracassou. O trecho entre as avenidas Mato Grosso e Afonso Pena voltou a ser palco de moradores de rua, viciados e traficantes. “Comportaria 500 veículos e resolveria metade do déficit”, defendeu Vila.
Caju aponta que o transporte por meio de aplicativos vai facilitar a vida do consumidor. Ele enumera as vantagens para o campo-grandense seguir uma tendência mundial de deixar o carro em caso e ir a pé até o centro. Ao recorrer ao Uber, o morador não gasta com estacionamento, não corre risco de ter o veículo risco e ainda tem a comodidade de descer e subir do veículo onde for mais conveniente.
Por outro lado, a obra deve valorizar os imóveis. O preço do aluguel estaria sofrendo reajuste de 50% nos últimos dias com a expectativa da transformação na via. Estima-se que o preço do metro quadrado para locação deve oscilar entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil.
Após a 14 de Julho, de acordo com Catiana Sabadim, a prefeitura dará continuidade ao projeto do Reviva Centro com a requalificação e melhorias no quadrilátero formado pelas ruas Padre João Crippa, Mato Grosso, Fernando Corrêa da Costa e Calógeras. Haverá melhoria na pavimentação e acessibilidade.
Como parte da estratégia de resgatar a região central, dois projetos preveem a construção de mil unidades habitacionais.
Abaixo, o fotógrafo Denilson Secreta mostra mais detalhes da revitalização da Rua 14 de Julho