A instabilidade política na Bolívia pode custar caro à economia sul-mato-grossense. Devido à saída de Evo Morales do cargo de presidente da Bolívia, a Rússia desistiu da compra da mega fábrica de fertilizantes em Três Lagoas, que estava praticamente fechado, e os investimentos de R$ 9,2 bilhões empacam em Mato Grosso do Sul.
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Lançada em 2011 pela presidente Dilma Rousseff (PT) para reduzir a dependência externa do Brasil de fertilizantes, a fábrica da Petrobras começou a ser construída em 2011 e estava 83% concluída quando houve a paralisação da obra. A Queiroz Engenharia, integrante do consórcio, acabou atingida pela Operação Lava Jato, que apontou esquema bilionário de corrupção na petrolífera.
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Com a mudança de Governo, a Petrobras desistiu de concluir a indústria e lançou o edital para vender a planta da UFN3 (Unidade de Fertilizantes III), que teria investimento de R$ 4 bilhões na ocasião. Mato Grosso do Sul disputou com outros dez estados e acabou sendo escolhido para receber a fábrica com capacidade para produzir 70 mil toneladas de amônia e 1,2 milhão de toneladas de ureia.
A instalação da fábrica foi uma espécie de prêmio da loteria para MS, já que deveria gerar 5 mil empregos na construção e 2 mil, contabilizando os 510 diretos e 1,5 mil indiretos, durante a operação. O PIB (Produto Interno de Bruto) de Três Lagoas poderia ser multiplicado por três, enquanto o estadual teria acréscimo de 3%.
A esperança do Estado e de Três Lagoas passou a ser a venda da fábrica. Em maio de 2018, a Petrobras anunciou que abriu negociação com o grupo russo Acron. A previsão era do pagamento de US$ 1 bilhão (R$ 4,2 bilhões) pela aquisição da obra e mais R$ 5 bilhões na conclusão da obra. A expectativa era de que a fábrica iniciasse as atividades em 2024.
O presidente russo Vladimir Putin até assinou acordo com o então homônimo boliviano, Evo Morales, para o fornecimento de 2,3 milhões de metros cúbicos de gás boliviano. A estatal YPFB (Yacimetos Petrolífera Fiscales Boliviana) ficaria com 13% das ações da fábrica de fertilizantes.
A efetivação do negócio não só geraria mais empregos, como elevaria a receita do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de Mato Grosso do Sul com o gás boliviano. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) não escondia o otimismo com o negócio e o investimento dos russos.
No entanto, a certeza fez água nesta terça-feira (26) com um sucinto e lacônico comunicado ao mercado da Petrobras. “A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que, em relação à venda de 100% de sua participação acionária na Araucária Nitrogenados S.A. (ANSA) e da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III), foram encerradas as negociações em curso com a Acron Group, sem a efetivação do negócio”, informou.
No entanto, a diretoria da companhia mantém a política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de vender os ativos. “Não obstante, a Petrobras informa que permanece seu posicionamentro (sic) o estratégico de sair integralmente dos negócios de fertilizantes, visando à otimização do portfólio e à melhora de alocação do capital da companhia”, ressaltou no comunicado de sete linhas.
Único sensato em admitir o problema, o secretário municipal de Desenvolvimento de Três Lagoas, José Moraes, atribuiu à crise política na Bolívia o fracasso na negociação com os russos. “Voltamos à estaca zero”, afirmou, em entrevista ao Campo Grande.
O governador tratou de minimizar o comunicado feito ao mercado pela Petrobras, de que as negociações foram encerradas sem sucesso. Para Reinaldo Azambuja, conforme registro feito pelo Campo Grande News, o grupo russo pediu prazo até março do ano que vem, em razão da crise boliviana.
O Estado investiu pesado para atrair a indústria, como a doação da área de 4,2 milhões de metros quadrados e isenções fiscais de R$ 2,2 bilhões.