O tenente coronel Luís Antônio Sá Braga foi punido pelo Governo do Estado em decorrência de ter desvendado o roubo da propina de R$ 300 mil destinada ao corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco. A história acabou respingando no advogado Rodrigo Souza e Silva, 30 anos, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que virou réu por ser o mandante do assalto.
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Na época, ao tomar conhecimento da prisão a suposta quadrilha e da recuperação de parte do dinheiro, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública puniu o policial com a exoneração do cargo de comandante do Policiamento Especializado. Além disso, ele acabou excluído de todas as oportunidades para ser promovido a coronel, a mais alta patente da Polícia Militar.
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O Jacaré acompanhou na época toda a pressão da cúpula da segurança sobre os policiais envolvidos na prisão do grupo. A principal queixa da equipe de Reinaldo era o encaminhamento dos criminosos para serem ouvidos pelo promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, que ganhou projeção como “xerife do MPE”. No entanto, como nenhum policial queria confirmar a história oficialmente, o site optou por aguardar o momento oportuno.
Nesta semana, em entrevista ao programa MS Urgente, da TV Interativa, o tenente coronel Sá Braga falou pela primeira vez sobre a exoneração. Ele contou que foi chamado para uma reunião com o então adjunto da Sejusp na época e atual secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, delegado Antônio Carlos Videira. Ele foi duramente questionado porque a equipe encaminhou os suspeitos do crime ao MPE.
“Nunca tinha visto este interesse em prejudicar e pressionar policiais militares porque fizeram a coisa certa”, lamentou-se o militar. Em seguida, ele foi exonerado do cargo de comandante de Policiamento Especializado.
Há seis anos, ele está com a patente de tenente coronel e poderia ser promovido a coronel há três anos. No entanto, em decorrência do episódio, o militar passou a ser preterido em todas as ocasiões pelo governador.
A prisão feita pelo Batalhão de Choque resultou na denúncia contra o grupo na Justiça. A juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal, aceitou a denúncia pelo roubo da propina de Polaco. São réus na ação o primo de Reinaldo, o sargento da PM, Hilarino Silva Ferreira, o Lino, o despachante David Cloky Hoffman, e o aposentado Luiz Carlos Vareiro, o Véio, entre outros (veja aqui).
No dia 27 de setembro deste ano, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça aceitou, por unanimidade, a denúncia contra Rodrigo Souza e Silva por ter contratado o grupo para roubar a propina. Os promotores apontaram indícios e provas contra o advogado, coletados por meio de depoimentos, quebra de sigilo telefônico e de mensagens.
O filho do tucano já tinha sido preso na Operação Vostok, por determinação do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, pela mesma suspeita. Na ocasião, o magistrado até destacou que o plano não era só roubar a propina, mas matar Polaco para evitar delação premiada.
A perseguição contra Sá Braga uniu as entidades militares e o Fórum dos Servidores de Mato Grosso do Sul. “Sá Braga foi o primeiro Policial Militar do Estado a se especializar em operações especiais, comandou a antiga CIGCOE – Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais, foi chefe da Agência Central de Inteligência, chefiou a inteligência do GAECO, integrou o Departamento de Operações de Fronteira – DOF, comandou o Batalhão de Operações Policiais Especiais e por fim, exercia a função de Comandante de Policiamento Especializado da PMMS”, diz nota das entidades, em solidariedade o tenente coronel.
“(Ele) Atuou fortemente no enfrentamento ao crime organizado e ao crime violento, sendo um dos grandes ícones da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul”, ressaltaram. “Não se pode aceitar que homens e mulheres que dedicam a sua vida a proteger o cidadão e seu patrimônio, possam ser penalizados por cumprirem a lei, por mero capricho ou interesse pessoal. O policial militar que age em defesa da sociedade, é o primeiro guardião das leis e da cidadania, merece total respeito em razão de suas atividades”, destacaram, em nota publicada ontem à tarde.
“Neste contexto, as entidades que integram o Fórum se solidarizam e apoiam integralmente a postura profissional reta do Tenente Coronel Luís Antônio Sá Braga que de forma implacável sofre retaliações administrativas que visam silenciá-lo e afetar sua carreira profissional”, alertam.
Secretaria nega represaria e diz que corregedoria apurará os fatos
A Secretaria de Justiça e Segurança Pública negou ter praticado represália ao trabalho do tenente coronel Sá Braga pela prisão do grupo envolvido no roubo da propina. Em nota, encaminhada pela assessoria, o órgão informa que a corregedoria vai investigar os fatos.
“A Sejusp informa que em relação as alegações feitas pelo oficial da PMMS, a corregedoria apurará os fatos, e que em nenhum momento houve represália quanto a sua conduta, tanto que permaneceu como tenente-coronel em um cargo de coronel por mais de três meses”, informou.
De acordo com o delegado Antônio Carlos Videira, Sá Braga foi substituído após as promoções da Polícia Militar. “Um novo coronel recém promovido passou a exercer a função”, destacou, sobre a substituição no Comando de Policiamento Especializado.
O governador Reinaldo Azambuja deverá recorrer à Justiça contra a veiculação das denúncias. “O Governo está tomando as providências cabíveis”, informou a assessoria de imprensa. O Governo considera que o assunto está sendo requentado, apesar da decisão do Tribunal de Justiça ter sido tomada no dia 27 do mês passado.