Dono de um patrimônio estimado em aproximadamente R$ 20 milhões, o ex-deputado federal Edson Giroto contou, em entrevista para O Jacaré, como é a rotina no Centro de Triagem Anísio Lima, em Campo Grande. Preso há um ano e 22 dias na Operação Lama Asfáltica, o ex-secretário de Obras divide a cela sem piso e concreto com 31 internos, onde só poderiam estar alojados 24.
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Ele é réu em seis ações penais por lavagem de dinheiro e foi o primeiro a ser condenado pelo juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal de Campo Grande. Apenado a nove anos e dez meses em regime fechado por ocultar R$ 7,6 milhões na Fazenda Encantado do Rio Verde, ele vê o segundo julgamento ser concluído. A nova sentença pode vir da compra da Fazenda Maravilha, por R$ 4,385 milhões.
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Na tarde de terça-feira, ele e o fiscal de obras Wilson Roberto Mariano de Olivera, o Beto Mariano, foram interrogados pelo juiz. O advogado Valeriano Fontoura impediu que a imprensa acompanhasse os depoimentos. Em Mato Grosso do Sul, a transparência e agilidade da Operação Lava Jato ainda são sonhos.
Beto Mariano e João Amorim foram soltos no início da noite desta terça-feira por determinação da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Os desembargadores consideraram ilegal o longo período da prisão preventiva.
Sem conseguir habeas corpus, Giroto voltou para o presídio, onde divide a cela com o cunhado, o engenheiro agrônomo Flávio Henrique Garcia Scrocchio, quem considera um irmão. Eles são amigos desde a morte do irmão Ivan Giroto em um acidente em 1987.
O ex-braço direito de André Puccinelli (MDB), nos dois mandatos como prefeito e dois como governador, usa uma das 24 camas disponíveis na cela. Os excedentes dormem “na praia”, como os internos se referem ao chão do presídio. “É como um buraco, onde colocam a gente”, contou, sobre a cela. Além de lotado e pequeno, o espaço não conta com ventilação.
“A temperatura chega a 50 graus”, ressaltou Mariano. Os ventiladores usados pelos presos não são suficientes para refrescar o ambiente. Isso significa que qualquer um dos quartos da mansão cinematográfica, construída por R$ 4,8 milhões para reunir toda a família italiana, é maior do que a cela de Giroto.
Água quente para tomar banho, nem pensar. O banho é frio. Para evitar que o mau cheiro do banheiro tome conta da cela, eles dispensaram o uso de papel higiênico. Quando o preso faz o número dois, independente das baixas temperaturas, ele é obrigado a tomar banho frio para se limpar.
Giroto é conhecido por ser o cozinheiro do compartimento. Como os instrumentos da cozinha são limitados, para fazer o café, ele conta que recorre ao equipamento conhecido como “rabo de tatu” para esquentar a água. A fórmula é simples: um pedaço de madeira, coloca fios e põe na tomada até a água ferver.
Beto Mariano conta que o café é bom, apesar de ser sem açúcar. O ex-deputado federal gosta do preto amargo de manhã.
Todos os dias, os presos lavam a cela com água sanitária para tentar manter o ambiente limpo. Os internos são orientados a usar o banheiro e secar. Ontem, Giroto prometia por ordem quando retornasse da Justiça Federal, porque os companheiros não estavam torcendo o pano.
Além de colocar fim a solidão, as visitas da família são oportunas para reforçar a alimentação no decorrer da semana. Giroto sempre pede que levem carne assada aos domingos. Ele pica a carne e a armazena no óleo para conservá-la durante a semana. “Eu frito tudo e coloco no tapoer, aguenta até sábado”, explicou.
A carne incrementa as marmitas entregues diariamente pela Agepen (Agência Estadual de Gestão Penitenciária). Ele esquenta um pouco por dia e reforça a mistura. Eventualmente, faz sopa à noite para o jantar.
Para passar o tempo na prisão, Giroto contou que tem lido muito. Um dos livros que adorou foi “Médico de Almas”, que conta a história do evangelista São Lucas. Ele devorou os livros do israelense Yuval Noah Harari: “Sapiens – Uma breve história da Humanidade” e “Homo Deus – uma breve história do amanhã”.
Giroto é um dos coordenadores da turma na cela. Toda vez que chega um novo interno, ele apresenta as regras para manter a boa convivência. O consumo de drogas é vetado no local. Conforme Beto Mariano, um interno foi “expulso” por unanimidade porque quebrou a regra de não fumar maconha nem cheirar cocaína. Pedófilo também não é aceito no local.
Para o ex-secretário, as condições do presídio não recuperam ninguém. “Não tem como sair melhor daquele lugar”, sentencia.
Como terá direito a pedir progressão de regime no fim do ano, o ex-secretário finaliza que não pretende ir para a Gameleira, o semiaberto. A fama do local é de que as condições são piores em relação às apresentadas pelo Centro de Triagem.
O ex-secretário se considera injustiçado. “Não é justo com um cara que trabalhou tanto”, concluiu. A referência é aos tempos em que era secretário e acompanhava o ritmo de André, percorrendo a cidade e fiscalizando obras de madrugada até tarde da noite. “Dormia de três horas e meia a quatro horas”, relembra. Até aos domingos, ele era convocado pelo emedebista para reuniões.
No Estado, ele conta que percorria com Beto Mariano. Os dois dividiram a cela até ontem. Atrás das grades desde 8 de maio do ano passado, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, Giroto passou do ápice da carreira, em 2015, quando chegou a ser cotado para ser ministro dos Transportes na gestão de Dilma Rousseff (PT), para o ostracismo, sem amigos e longe da família.
Ele nega enfaticamente que tenha cometido os desvios apontados pela Polícia Federal. Conforme a investigação, ele seria um dos chefes da organização criminosa, que teria desviado R$ 430 milhões dos cofres públicos.
“Nunca pedi dinheiro para empreiteiro, pode perguntar. Só solicitei doação na época de campanha”, ressalta.
Oficialmente, além da mansão avaliada em R$ 5 milhões, Giroto tem fazendas e carros de luxo. Ele até vendeu um avião avaliado em R$ 2 milhões, conforme a Operação Aviões de Lama.
A esperança do ex-secretário é de que a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, use a mesma benevolência que adotou com André e lhe conceda o habeas corpus. Ele defende que a prisão só comece a ser cumprida após a condenação em segunda instância.
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