A Polícia Federal apreendeu 27,3 mil quilos de maconha que supostamente pertenciam à organização criminosa chefiada pela família do subtenente da Polícia Militar, Silvio Cezar Molina Azevedo, 47 anos. Presos na Operação Laços de Família, 19 integrantes da organização criminosa vão começar a ser julgados no dia 24 de junho deste ano na 3ª Vara Federal de Campo Grande.
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De acordo com o despacho do juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, publicado nesta sexta-feira (17), o filho do policial, Jefferson Henrique Piovezan Azevedo, agiu como executivo-chefe da organização criminosa e comandava as negociações para compra e venda de drogas. Ele foi morto a tiros no decorrer da investigação.
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A esposa do subtenente, Roseléia Teixeira Piovezan Azevedo, a filha, Jéssica Piovezan Azevedo Molina, e o genro, Douglas Alves Rocha, o Bodinho, tinham papel de destaque nas ações criminosas. O pai atuava como se fosse o “acionista-controlador”, de acordo com os policiais federais.
“A denúncia (fls. 1898/2015, v. 8 dos autos) descreve a existência de uma associação criminosa voltada ao tráfico transnacional (maconha é a substância negociada essencialmente), centralizada na cidade de Mundo Novo/MS, em região de fronteira com o Paraguai”, observa o magistrado. Conforme a PF, cinco apreensões de drogas, que somaram 27,3 toneladas, seriam do grupo.
“(A ação) descreve a exordial que o grupo era liderado pelo policial militar SILVIO CESAR MOLINA, juntamente com seu filho JEFFERSON PIOZEVAN AZEVEDO MOLINA (falecido durante as investigações) e DOUGLAS BODINHO (genro de MOLINA). Em um patamar hierárquico imediatamente inferior no esquema estavam os familiares de MOLINA, ROSELEIA (esposa), JÉSSICA (filha), LIZANDRA (nora) e JEFFERSON BODÃO (irmão de BODINHO e cunhado de JÉSSICA)”, anotou, sobre o papel dos familiares no esquema.
“Consta que o grupo era servido por agentes operacionais e logísticos, gerentes – como JAIR ROCKEMBACH CHICÃO, MAICON HENRIQUE, BONYEQUES PIOVEZAN e CLAUDIO CESAR, responsáveis pelo recrutamento de motoristas e coordenação direta das atividades delitivas; correrias – como ADRIANO, THYAGO e JOÃO CLAIR, que prestavam serviços financeiros, de segurança, de negociação de veículos; mulas responsáveis pelo transporte direto de drogas; e laranjas e empresas de fachada que auxiliavam na ocultação/ dissimulação da origem do dinheiro do tráfico, via movimentações financeiras e ocultação de propriedade, e integração do capital à atividades econômicas lícitas”, pontuou.
“É descrito como sendo discreto na liderança do grupo criminoso, articulando nos bastidores, sempre no comando do grupo criminoso, ditando os rumos dos negócios sem realizar diretamente as negociações com os compradores e os fornecedores, papel delegado a seu filho JEFFERSON. Não obstante, a peça acusatória descreve que a riqueza acumulada e a influência de SILVIO MOLINA eram evidentes para a sociedade da pequena cidade de Mundo Novo/MS, através da ostentação do patrimônio ilícito e de demonstrações de poder e influência”, afirmou, sobre o papel do subtenente.
Aliás, a investigação começou a partir da ostentação da riqueza para o servidor público com salário de policial militar. A denúncia começou a partir da casa avaliada em R$ 1 milhão e da Ferrari, avaliada em de R$ 600 mil, dirigida pelo filho.
Com as investigações, a Polícia Federal descobriu um patrimônio milionário em nome de laranjas e empresas de fachada.
Só um dos investigados na Operação Laços de Família, Kaique Mendonça Mendes teria movimentado R$ 3,3 milhões em 2014 e 2015. Em uma das mensagens interceptadas, a sua namorada procura Jéssica para mandar recado para o subtenente, porque uma das regras da organização criminosa era de que o chefe nunca poderia ser procurado diretamente pelos demais integrantes.
O juiz arquivou a denúncia contra um dos 22 réus porque ele já foi condenado a nove anos de prisão pela Justiça Estadual de Mundo Novo.
Em decorrência de habeas corpus concedido pelo desembargador Maurício Kato, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que suspendeu o prazo para apresentação das contestações, o juiz desmembrou as ações em relação a Jéssica e Roseléia.
O restante do grupo começa a ser julgado no próximo mês. As testemunhas serão ouvidas nos dias 24 e 28 de junho e 1º de julho deste ano, sempre a partir das 14h, na 3ª Vara Federal de Campo Grande.
Na quarta-feira, a PF apoiou operação da Polícia Civil de Minas Gerais que aponta o envolvimento de Silvio Cezar em um duplo homicídio na cidade de Rio Pomba (MG) em 11 de janeiro do ano passado. Na guerra de facções, foram mortos Nasser Kadri e Eneas Mateus de Assis.
O mandado de prisão foi cumprido no presídio federal de Mossoró, para onde o subtenente foi transferido no ano passado. Ele não foi expulso da PM porque ainda não foi condenado pela Justiça.
Na defesa encaminhada à Justiça, o militar pediu a anulação de todas as provas. A defesa alega que o juiz decretou a quebra do sigilo telefônico sem a apresentação de indícios mínimos de crimes pela PF. O pedido teria sido feito dois dias após a abertura da investigação.
Outra alegação é de que a investigação começou a partir de denúncia anônima.