A farra com dinheiro público teve a adesão da ex-vereadora de Campo Grande, Carla Stephanini (MDB) e do pastor e coronel Isaías Ferreira Bittencourt (PRB), que foram empossados ontem na Câmara dos Deputados. Eles podem receber R$ 108.068,84, mais auxílio moradia, para “trabalhar” como deputado federal por 28 dias. O deputado federal Ademar Vieira Júnior, o Coringa Júnior (PSD) não vai ser o único com motivos de sobra para rir a toa com benesse – que pode ser chamada de mamata para quem leva nove anos para ganhar o mesmo valor.
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Dos oito deputados federais de Mato Grosso do Sul, quatro terão mandato relâmpago e serão muito bem remunerados com isso. O 4º integrante do staff privilegiado é Fábio Trad (PSD), que continua no lugar de Carlos Marun (MDB). O emedebista renunciou ao cargo após ser nomeado para integrar o Conselho de Administração de Itaipu.
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Para “agir” como deputado por menos de 30 dias, o quarteto tem direito a salário de R$ 33.763, cota parlamentar de R$ 40.542,84 e mais auxílio mudança de R$ 33.763. A mamata ainda inclui o pagamento de auxílio moradia no valor de até R$ 4.253. No total, o contribuinte vai pagar R$ 330.986,36 aos quatro, sem considerar os salários de eventuais assessores.
A repercussão negativa da posse festejada por ele e pelos amigos levou Coringa Júnior a renunciar ao auxílio mudança. Em carta publicada no Facebook, ele renunciou ao benefício pago no início e no final de cada mandato. A exposição deixou uma dúvida, será que ele teria direito ao auxílio mudança para voltar de Brasília a Campo Grande?
Fábio Trad rejeitou o auxílio mudança neste ano, mas ainda não sabe como vai devolver os R$ 33.763 depositados em sua conta. Ele explicou que o legislativo está estudando se estorna o valor ou será feita a devolução.
O irmão do prefeito Marquinhos Trad (PSD) recusou o benefício porque já recebeu o auxílio mudança em dezembro de 2017, quando assumiu o mandato no lugar de Marun. Desde então, o parlamentar ainda recebe auxílio moradia em espécie para bancar a estadia no Distrito Federal.
A festa dos deputados com mandato relâmpago só não está sendo completa devido à indignação da população com o desperdício do dinheiro público. Eles vão receber até R$ 112.321,84 para interpretar o papel de deputado federal, já que o legislativo está de recesso, fechado.
O mais sensato e que merece louvor público é o vereador e radialista de Dourados, Marçal Filho (PSDB). Em respeito aos 39.852 votos obtidos em 2014, ele renunciou ao cargo de segundo suplente. “Eu sei como funciona, nada acontece em janeiro e se tiver atividade, tem os outros parlamentares que estão terminando o mandato e tiram férias em janeiro, mas trabalharam os quatro anos”, explicou Marçal Filho, ao jornal Correio do Estado.
“Todos deviam abrir mão, mas cada cabeça uma sentença”, afirmou o tucano, que renunciou ao cargo, abrindo a vaga para o Coronel Bittencourt, que ficou como terceiro suplente ao conquistar 35.034 votos em 2014. Ele assumiu a vaga de Geraldo Resende (PSDB), que renunciou para assumir a Secretaria Estadual de Saúde.
Com 15.505 votos e 4ª suplente, Carla assumiu a vaga de Tereza Cristina, empossada como ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Advogada e ex-vereadora da Capital, ela era subsecretaria municipal da Mulher na gestão de Marquinhos.
Coringa Júnior, era segundo suplente e conquistou a vaga graças aos 15.734 votos obtidos em 2014. Ele assumiu a vaga de Luiz Henrique Mandetta (DEM), que foi nomeado ministro da Saúde.
É ou não é mamata?
O trabalhador comum vai precisar trabalhar nove anos e quatro meses para acumular R$ 112,3 mil a ser pago ao deputado federal com mandato relâmpago de um mês. Para diminuir o impacto do salário mínimo na previdência, o Governo reduziu o aumento do salário mínimo de R$ 1.006 para R$ 998.
Confira os valores pagos aos deputados:
- Dias de trabalho: 22 úteis
- Salário: R$ 33.763
- Auxilio-mudança: R$ 33.763 *
- Cota-parlamentar MS: R$ 40.542,84
- Auxílio-moradia: R$ 4.253
- Total: R$ 112.321.84
(*) Fábio Trad e Coringa entregaram ofício renunciando ao auxílio neste ano.
Dos oito deputados eleitos em 2014, só três chegam ao final do mandato: Dagoberto Nogueira (PDT), Vander Loubet (PT) e Zeca do PT. Elizeu Dionizio (PSB) era suplente e assumiu a vaga de Márcio Monteiro (PSDB), que se afastou para assumir a Secretaria de Fazenda e depois a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas.
O mandato tampão sempre existiu e tem amparo legal, inclusive as mordomias e mamatas do cargo. Além da ampla divulgação, o que difere o atual momento do passado é que os deputados e senadores querem impor sacrifícios ao funcionalismo público e aos demais brasileiros para reduzir os gastos públicos.
O problema é que querem manter e até aumentar os próprios privilégios, a mamata. Enquanto em países civilizados, parlamentares dividem o ônibus com o cidadão comum, no Brasil, eles querem andar de carro blindado e com seguranças para afastá-los dos eleitores depois do compromisso para garantir o mandato a cada quatro anos.
A sociedade quer o fim da corrupção e do mandato ostentação. Os políticos, que querem continuar na ativa, deveriam ouvir esse clamor para não perder o bonde da história.