Os vereadores de Ladário usaram a CPI da Saúde para chantagear o prefeito Carlos Aníbal Ruso Pedrozo, o Ruso (PSDB) e obterem a Secretaria de Educação, cargos e o mensalinho de R$ 3 mil. A denúncia do procurador geral de Justiça, Paulo Cezar dos Passos, expõe, de forma cruel e revoltante, como parlamentares brasileiros usam as necessidades da população para, de forma criminosa, defender os próprios interesses e de seus familiares.
[adrotate group=”3″]
O prefeito, o secretário municipal de Educação, Helder Naulle Paes dos Santos, e sete vereadores foram afastados dos cargos e presos por determinação do desembargador Emerson Cafure, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, na segunda-feira.
Veja mais:
Tragédia de Dourados se repete em Ladário: TJ prende prefeito, secretário e sete dos 11 vereadores
Reviravolta ressuscita escândalo de 2010 e Justiça retoma ação contra “Mensalão Pantaneiro”
Coffee Break: dois anos de suspeitas, sigilo e jogo empurra mantêm crimes impunes
STJ mantém deputado e presidente da Câmara como réus na Coffee Break
Depósito de R$ 195 mil e indicações políticas pesam contra Paulo Siufi em ação
Pivô de condenação de Olarte e testemunha da Coffee Break, agiota é metralhado na Capital
Eleito com 50,09% dos votos, Ruso enfrentou a primeira crise no final do ano passado. Ex-secretária municipal de Saúde, Ana Lúcia Pereira denunciou pagamentos indevidos de salários e gratificações, escala de plantão não cumprida, ausência de atendimento médico e falta de remédios nas unidades de saúde.
Escolhidos para defender a população, os vereadores de Ladário viram na denúncia o “negócio da China”. Enquanto publicamente cobravam a apuração os males, nos bastidores, os parlamentares exigiam uma secretaria, cargos e propina para sepultar a CPI da Saúde.
Em último caso, a trupe do mal ameaça seguir o exemplo dos vereadores de Campo Grande, que cassaram o mandato de Alcides Bernal (PP) na madrugada de 13 de março de 2014. Os detalhes do golpe no progressista constam da Operação Coffee Break, que quase foi sepultada pelo Tribunal de Justiça.
Acuado, Ruso cedeu e aderiu à organização criminosa. Ele demitiu Sara Regina Santos de Almeida, considerada técnica e competente, da Secretaria Municipal de Educação no dia 29 de dezembro de 2017. Helder dos Santos assumiu a pasta com a benção dos vereadores.
A prefeitura virou uma festa, de acordo com o Ministério Público Estadual. A vereadora Lilian Maria de Moraes, a Pastora Lilian (MDB), conseguiu cargos para o irmão Dayver Magnun Vilalva Fernandes da Costa, para a filha, Brenda Ellen Moraes da Silva, e para a prima, Eliane Moraes da Silva.
O tucano Osvalmir Nunes da Silva, o Baguá, garantiu boquinhas para a sogra do filho, Elis Rosângela Ribas Flor, na Secretaria Municipal de Saúde, e para a sobrinha, Ariana Dy Andrade Salles.
André Franco Caffaro, o Dedé (PPS), emplacou a esposa, Andreya Cllejas de Assis, como gerente na Saúde. Paulo Rogério Feliciano Barbosa (PMN) colocou a irmã, Leidiane Cristina Feliciano Barbosa, e Vagner Gonçalves, o Vagner Magrela (PPS), a cunhada, Gennifer Chavez Ramalho Fernandes.
Além dos cargos, o prefeito pagavam o famoso mensalinho. Os crimes só foram descobertos porque houve colaboração do presidente da Câmara, Fábio Peixoto (PTB), que denunciou o esquema e ajudou o MPE a gravar os acusados.
A propina foi acertada pela então secretária municipal de Administração, Andressa Moreira Anjos Paraquett. No entanto, o mensalinho de R$ 3 mil para Peixoto e outros dois vereadores, Jonil Júnior Gomes Barcellos (PMN) e Daniel Benzi (MDB) foram entregues em mãos por Ruso.
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) monitorou e fotografou uma das entregas feitas pelo prefeito. Os três vereadores recebiam o mensalinho e o entregaram imediatamente ao MPE para servir como prova do inquérito.
Interceptações revelam como os vereadores se comportam mais como criminosos do que defensores dos interesses dos eleitores. Na conversa cifrada entre Augusto de Campos, o Gugu (MDB) e Vagner Magrela, eles não deixam dúvidas de que só votam mediante a propina mensal que já beneficiava os colegas.
GUGU diz: “Mas e aí, vai chover?”
VAGNER diz: “É! Essa reunião aí é para isso, né?”
GUGU diz: “É, vai ter que molhar nossamão… molhou a dos outros… é dois votos já garantido, né? Entendeu?“
Os integrantes da suposta organização criminosa instalada na Câmara e Prefeitura de Ladário desconfiam que foram descobertos em 6 de setembro deste ano. Quando retornavam de Campo Grande, quando receberam o mensalinho, eles são parados pela Polícia Federal em Miranda.
Em diálogo interceptado pelo MPE, Dedé conta ao interlocutor não identificado da suspeita e como foi a ação da PF na BR-262. O vereador estava com R$ 5 mil na mala, enquanto o colega tinha R$ 3 mil no paletó.
Vereador conta como a Polícia Federal o pegou com R$ 5 mil na mala
ANDRÉ diz: “Estava eu, o prefeito e mais dois vereadores, GUGU e (inaudível).
“HNI diz: “Uai! E você não falou nada? Olha o prefeito de Ladário, não falou nada?”
ANDRÉ diz: “Não! Os caras já vieram em cima, pô, entendeu? Barreira lá, pô! Entendeu? Aí os caras já vieram batendo, mandando nós descer do carro, revistou, revirou aqui essa porra…eu estava com três conto na minha mala né, puta! ‘E esse dinheiro aí? Não tem banco, não? Que não seio que.‘
“HNI diz: “Ué! Carrego o dinheiro onde eu quero.”
ANDRÉ diz: “É! Aí GUGU estava com cinco conto no paletó dele… aí lascou, aí fudeu!”
HNI diz: “Revistaram tudo?”
ANDRÉ diz: “Puta! Bateram tudo no carro, no negócio da parte do painel…”
Aos05min30seg ANDRÉ diz: “É,alguém dedou. Nós já tem mais ou menos quem fez isso.”
HNI diz: “Algum zoiudo.”
ANDRÉ diz: “Não, não foi não. Foi uns caras daqui mesmo…é porcaria…é vereador também mas é porcaria.”
HNI diz: “Tem que mandar dar um cassete.”
ANDRÉ diz: “Eles estavam lá em Campo Grande. Nós encontramos eles em Miranda, entendeu? Aí eles pararam. Ah! No mínimo achou que nós foi buscar dinheiro, entendeu? Em Campo Grande. E pararam em Miranda para almoçar…“
Além de pedir a prisão preventiva dos nove, o chefe do MPE já os denunciou pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e ativa.
Transferidos para o Centro de Triagem de Campo Grande, o destino dos notáveis da política regional nos últimos tempos, o grupo já foi substituído em Ladário. O prefeito em exercício é Iranil Soares, o Pastor Iranil (PSDB).
Espera-se que os sete suplentes empossados possam ter mais dó do povo de Ladário e apurem se os problemas da saúde foram resolvidos.
Os acusados pelos crimes, desde a Coffee Break, lamentam a criminalização da política. Infelizmente, é revoltante constatar que muitos vereadores eleitos para defender o povo acabam usando a política para ascender na vida. E o resto que se dane.