Reeleita para o segundo mandato como deputada federal nas eleições deste ano, a engenheira agrônoma Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, 64 anos,do DEM, foi anunciada futura ministra da Agricultura pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Ela será a primeira mulher sul-mato-grossense a ocupar o cargo de ministra e o quarto na história do Estado a ocupar cargo no primeiro escalão do Governo federal.
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Tereza começou na política de forma tímida e militando em entidades ligadas ao setor rural. Ela foi diretora da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) entre 2001 e 2003 e superintendente do Senar (Serviço Nacional de Apredizagem Rural) em 2006.
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Ela ingressou na administração pública como secretária estadual da Produção, Desenvolvimento Agrário e Turismo (Seprotur) em 2007, na gestão de André Puccinelli (MDB). Indicada para o cargo pelo PSDB, ela acabou deixando o partido para não deixar a pasta e se tornou em técnica de confiança do ex-governador, atualmente preso na Operação Lama Asfáltica.
Secretária por praticamente durante todo o mandado do emedebista, Tereza só deixou o cargo para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014. Financiada por produtores rurais, empresários e donos de usinas, ela fez a campanha mais cara e conseguiu se eleger deputada federal gastando R$ 4,298 milhões.
Eleita pelo PSB, a parlamentar conquistou os socialistas e se tornou líder da bancada na Câmara dos Deputados. Defensora desde o primeiro momento da gestão do presidente Michel Temer (MDB), ela entrou em atrito com o partido ao orientar a bancada a votar contra a reforma trabalhista, mas votar a favor das mudanças.
Em quatro anos na Câmara, o patrimônio da deputada teve um salto expressivo, conforme as declarações feitas à Justiça Eleitoral, saltando de R$ 10.360 em 2014 para R$ 5,1 milhões neste ano.
Outra polêmica foi a defesa intransigente da liberação dos agrotóxicos no País, bandeira que causou a fúria de ambientalistas e artistas. Por outro lado, esta mesma pauta levou a sul-mato-grossense a líder da bancada ruralista no Congresso, que a apelidou de “Musa do Veneno”.
A atividade pecuária da futura ministra é alvo de controvérsias. Em 27 de junho de 2017, O Jacaré revelou ações judiciais da JBS que cobram o pagamento de dívida de R$ 4,5 milhões da deputada federal.
O grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista obteve incentivo do Governo estadual quando Tereza era secretária estadual da Produção, justamente a pasta responsável pelas isenções fiscais. Eles reativaram o frigorífico em Terenos.
Na época, a democrata indicou a Fazenda Santa Eliza, em nome de sua mãe, Maria Manoelita Alves de Lima Corrêa, falecida em 27 de outubro de 2010. A propriedade tinha capacidade para confinamento de 12 mil bois.
A JBS e Tereza Cristina não concordaram sobre a forma do pagamento do investimento feito na propriedade e o caso virou guerra na Justiça de Campo Grande. Agora, o processo tramita em segredo de Justiça.
Nesta quinta-feira, a deputada falou sobre a polêmica em entrevista coletiva. “Eu tenho uma propriedade, um condomínio com meus irmãos, sou inventariante e minha família arrenda um confinamento para a JBS, que é do lado da nossa propriedade. Isso há muitos anos”, afirmou.
A futura ministra destacou que não vê conflito com o cargo a ser desempenhado na gestão de Bolsonaro. “Só se eu fizesse alguma coisa escondida. Está tudo dentro da lei, com contrato assinado, não vejo nenhum problema”, ressaltou.
Neste ano, a deputada foi reeleita para novo mandato com 75.068 votos. O investimento caiu em relação há quatro anos, porque a lei eleitoral limitou o máximo a ser gasto pelos candidatos a deputado federal a R$ 2,5 milhões. Ela gastou R$ 2,239 milhões, novamente a dona da campanha mais cara para conquistar uma das oito vagas no parlamento federal por Mato Grosso do Sul.
Com a nomeação de Tereza Cristina para o Ministério da Agricultura, Bolsonaro agrada o PSDB, que consegue garantir a vaga de Geraldo Resende, que tinha ficado como primeiro suplente na coligação. O presidente resolve um problema do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que terá um trabalho a menos para acomodar os derrotados nas eleições deste ano.
O feito de Tereza Cristina é raro na política regional. Em 40 anos, Mato Grosso do Sul só conseguiu emplacar três ministros. Delcídio do Amaral (PTC) foi ministro das Minas e Energia na gestão de Itamar Franco.
O ex-senador Ramez Tebet (MDB) chegou a ser ministro da Integração Nacional na era Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O deputado federal Carlos Marun assumiu, no final do ano passado, o caro de ministro chefe da Secretaria de Governo na atual gestão de Temer.
Ramez ainda foi presidente do Senado, cargo almejado pela sua filha, a senadora Simone Tebet (MDB) em 2019. José Fragelli foi presidente do Senado e assumiu o cargo de presidente da República na gestão de José Sarney.
O primeiro seria Jânio Quadros, que nasceu em Mato Grosso do Sul, mas fez carreira em São Paulo e chegou a ser eleito presidente nos anos 60 do século passado, mas renunciou ao mandato após sete meses.
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