O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o filho, o advogado Rodrigo Souza e Silva, 30 anos, foram convocados para prestar depoimento à Polícia Federal em duas ocasiões, mas não compareceram em nenhuma. Documentos da corporação e anexados ao inquérito 1.190, que tramita em sigilo no STJ (Superior Tribunal de Justiça) mostram que o tucano não falou a verdade ao destacar que nunca tinha sido intimado a depor antes da Operação Vostok.
Reinaldo e Rodrigo só foram ouvidos no dia 12 de setembro deste ano por determinação do ministro Félix Fischer, relator da Operação Vostok no STJ. Além de considerar graves as denúncias contra o tucano, acusado de chefiar organização criminosa, de receber R$ 67,7 milhões em propinas e causar prejuízo de R$ 209,7 milhões aos cofres públicos, o ministro determinou a prisão temporária de 14 pessoas, inclusive do filho do governador.
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No dia seguinte à operação, em entrevista ao MSTV 1ª Edição, da TV Morena, o governador foi taxativo. “Nunca me deram oportunidade de falar”, afirmou, frisando o interesse em colaborar com as investigações.
Confira a entrevista do governador à TV Morena
O mesmo tom foi adotado em outra entrevista, desta vez ao Campo Grande News no dia 14 de setembro. “Depois de um ano e quatro meses da delação, tive oportunidade de falar. Depois do estardalhaço e questão midiática. Esclareci ponto a ponto, apresentei toda a documentação que tira a dúvida do Coaf”, ressaltou, citando dado do órgão, que apontou movimentação suspeita de mais de R$ 40 milhões em suas contas.
Confira a reportagem do Campo Grande News
Reinaldo repetiu o argumento no debate do Midiamax entre os candidatos a governador realizado no dia 24 do mês passado. O tucano até prometeu fornecer cópia dos inquéritos ao adversário, o candidato a governador João Alfredo (PSOL).
No entanto, documentos da Polícia Federal contrariam a versão do candidato à reeleição. A delegada Cynthia Fonseca Xavier da Silveira convocou Reinaldo e o filho para prestar depoimento no inquérito 1.190 pela primeira vez no período vespertino do dia 28 de fevereiro deste ano.
Pai e filho alegaram compromissos para não comparecer. Em petição encaminhada pelos advogados Eduarda Câmara e Marcel Versiani, no dia 23 de fevereiro passado, o tucano alegou compromissos em São Paulo no mesmo dia e pediu o adiamento do interrogatório.
Ele anexou a agenda de compromissos em São Paulo, onde tinha reuniões com o então governador Geraldo Alckimin (PSDB) e o presidente da Petrobras, Pedro Parente. Só que Reinaldo ainda apelou para que só fosse ouvido após todas as diligências. “Para além disso, a defesa vem, na presente oportunidade, requerer que o ato em questão seja o último ato processual a ser realizado, de modo a garantir, ainda que não a ampla defesa, uma defesa minimamente permitida no âmbito do procedimento inquisitório”, alegaram os advogados.
No dia 26 de fevereiro, a delegada Cynthia Silveira negou o pedido do tucano e agendou o nova data para o depoimento de Reinaldo – 3 de abril deste ano, às 14h30. Para não causar transtorno ao tucano, o filho foi agendado para o mesmo dia, às 16h30.
No entanto, conforme O Jacaré apurou novamente, o governador e Rodrigo voltaram a alegar compromissos e não compareceram ao interrogatório no início de abril deste ano.
Rodrigo Souza e Silva teve a prisão temporária decretada por cinco dias e acabou sendo ouvido durante a Operação Vostok.
Por determinação do ministro Félix Fischer, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão no apartamento de Reinaldo e na Governadoria. É a primeira vez na história que um governador é alvo de operação de combate à corrupção no cargo em 40 anos de Mato Grosso do Sul.
Reinaldo acabou comparecendo “espontaneamente” à superintendência regional da PF na Capital e prestou depoimento no período da tarde do dia 12 de setembro deste ano. Em entrevista à TV Morena, ele contou que foram 34 perguntas. Ao Campo Grande News, o tucano disse que respondeu 36 questionamentos.
Só que além de ser alvo de inquérito, a família do tucano teve os bens bloqueados para garantir eventual reparo de dano aos cofres estaduais. O montante indisponível foi de R$ 277.541.309,00.
Reinaldo tem reiterado que é vítima e vai provar a inocência. Ele condenou ainda o vazamento do documento à imprensa.
Sobre o fornecimento das cópias do inquérito a João Alfredo, ele contou que só irá fornecer se obtiver autorização do STJ.
Protegido pela maior parte dos jornais e emissoras de televisão, que não divulgam detalhes do processo, inclusive o bloqueio de R$ 277 milhões publicado ontem no Diário Oficial do STJ, o tucano aposta na vitória no primeiro turno para não correr risco de mais desgaste.