Prefeito de Coxim por dois mandatos, deputado estadual por três e atual presidente da Assembleia Legislativa, o advogado Júnior Mochi, 56 anos, foi a última esperança do MDB para disputar o Governo. Apesar de esconder o apoio do ex-governador André Puccinelli, preso na Operação Lama Asfáltica e presidente licenciado da sigla, ele admite pedir conselhos caso seja eleito governador nas eleições deste ano.
Mochi explica a omissão do “mito” da propaganda partidária, que chegou a liderar as pesquisas para a sucessão estadual. “O Governo será do Júnior Mochi. A campanha é minha. O governador serei eu”, justifica-se. “Eu tenho relação de amizade, posso e devo pedir conselhos”, admite sobre o ex-governador, acusado de chefiar organização criminosa e desviar mais de R$ 300 milhões dos cofres públicos.
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No entanto, ele acredita na inocência de Puccinelli. “Ele disse para mim que perícias vão demonstrar que não houve superfaturamento”, contou. Mochi criticou a prisão do emedebista durante a investigação. “Ele não era réu e não tinha ação”, enfatiza. No entanto, o ex-governador já era réu em ação penal acusado de causar prejuízo de R$ 142 milhões aos cofres estaduais quando foi preso pela segunda vez.
Aliás, Mochi virou candidato graças à prisão do amigo. Puccinelli desistiu da candidatura após ser preso no dia 20 de julho deste ano e ter dois pedidos de habeas corpus negado. A candidatura natura do partido era a senadora Simone Tebet (MDB), que já foi prefeita de Três Lagoas por dois mandatos e vice-goverandora. No entanto, na reta final, ela alegou problemas pessoais e renunciou.
Com a reeleição garantida, Mochi diz que aceitou o desafio de disputar a sucessão do então ex-aliado, Reinaldo Azambuja (PSDB) após ouvir apelo de todos os companheiros do partido, ao qual é filiado há 37 anos. O MDB só perde em estrutura para o PSDB, com 19 prefeitos, 140 vereadores, dois senadores e um ministro.
O “sim” do deputado foi transmitido ao ex-governador pelo seu filho, o advogado Lucas Mochi. O candidato chegou a realizar várias reuniões com André no Centro de Triagem Anísio Lima, mas as reuniões dos emedebistas foram proibidas pelo juiz Alexandre Antunes da Silva. Conforme o parlamentar, o ex-governador abraçou seu filho e disse: “não esperava de teu pai outra atitude”.
Mal virou candidato, Mochi viu o Tribunal Regional Federal da 3ª Região concluir julgamento e negar recurso contra a multa pelo aterro sanitário de Coxim ter se transformado em ruínas. Ele pode ser obrigado a desembolsar R$ 2,4 milhões. No entanto, o parlamentar acabou se livrando das penalidades por improbidade administrativa e na área criminal, porque o aterro foi concluído.
O nó da discórdia é a transformação do aterro em lixão. Mochi aponta a demora na licença ambiental de operação e o furto da manta como causa dos problemas apontados pelo Ministério Público Federal. Ele responsabiliza o sucessor, Moacir Kohl, pelo não cumprimento do acordo firmado com o MPE para viabilizar o projeto.
Sem outra ação ou denúncia no currículo, o deputado acabou até entrando com ação na Justiça contra jornalista por ter reproduzido matéria do MPF sobre o recurso contra a absolvição no aterro. Em abril deste ano, a Justiça livrou o jornalista e acabou condenado o candidato a pagar custas do processo.
Como prefeito de Coxim, Mochi gaba-se de ter sido transparente, com a colocação das informações sobre receita e despesa do município em um painel na praça da cidade. Na época, em 1997, não havia a internet acessível como nos dias de hoje.
No entanto, como presidente da Assembleia não cumpriu na íntegra as leis do Acesso à Informação e da Transparência. O poder legislativo é o único que não publica os salários nominais de todos os servidores. Todos os demais poderes cumprem a medida.
“Não tem lei que exige a divulgação desta forma”, defende-se. No entanto, os tribunais de Justiça e de Contas, o Ministério Público e o Governo do Estado disponibilizam os salários nominais de todos os servidores. O Poder Judiciário até sofre o desgaste quando os jornais revelam o montante pago aos magistrados, que chegam a superar R$ 150 mil em um mês.
Por outro lado, Mochi fez história ao promover o primeiro concurso público na história da Assembleia Legislativa em 40 anos. A medida põe fim à efetivação de servidores nomeados por políticos sem concurso público, entre os quais estão o mais notório deles, o prefeito da Capital, Marquinhos Trad (PSD), efetivado e promovido depois de ser nomeado no gabinete do pai, Nelson Trad.
Outra medida exaltado é a adoção de ponto eletrônico desde fevereiro de 2017. No entanto, a exigência não atinge os comissionados nomeados pelos deputados. Desde então, quatro servidores e dois deputados foram denunciados por MPF pelo pagamento de salários a funcionários fantasmas.
Mochi garante que apurou a denúncias e encaminhou para o Ministério Público. Contudo, nenhum deputado estadual foi punido, nem ao menos advertido pela prática.
O atual presidente cita como méritos no legislativo o fim da verba de representação, que causou economia de R$ 2 milhões aos cofres públicos, e o Plano de Aposentadoria Incentivada, que contou com a adesão de 200 servidores.
Um dos projetos de lei propostos e aprovados em 12 anos mandatos é o que implantou o programa “Ver e Ouvir para aprender” nas escolas, com a finalidade de identificar estudantes nas séries iniciais com problemas auditivos e visuais. De acordo com o emedebista, 20% da evasão é decorrente desses problemas.
Como deputado, Junior Mochi não se opôs ao aumento na carga tributária nas gestões de André e Reinaldo, que inclui o aumento do ITC, do ICMS e até do Fundersul, com a inclusão de novas taxas. Ele justifica que não era Governo para impedir o aumento dos tributos.
“A primeira lei é que não haverá aumento da carga tributária”, promete. Uma das medidas será a redução gradual da alíquota do IPVA de 3,5% para 2,5%. No entanto, o emedebista promete refazer o aumento de 40% aplicado pelo tucano em uma canetada em quatro parcelas – de 3,5% para 3,25%, depois para 3%, para 2,75% e, no último ano, 2,5%.
Uma das principais críticas de Mochi ao atual governador é de que não houve diálogo nem negociação com os servidores. “Vamos fazer política salarial permanente. Não tem governo bom com servidor insatisfeito”, garante.
Outro ponto polêmica é o Aquário do Pantanal, inconcluso e envolto em denúncias de corrupção após consumir R$ 230 milhões dos cofres públicos. Para evitar o abandono da obra, André fez os deputados aprovarem uma lei que garantia R$ 34 milhões das compensações ambientais para concluir projeto.
No entanto, o parlamento nunca cobrou publicamente o cumprimento da lei por Reinaldo. Nem a comissão criada para acompanhar a obra viu os desvios apontados pela Polícia Federal e Controladoria Geral da União.
Mochi pretende usar esse dinheiro e seguir a lei, ou seja, realizar nova licitação, para concluir o Aquário. Ele cita levantamento do trade turístico, de que o projeto poderá gerar de 3 mil a 4 mil empregos ao segurar o turista a caminho do Pantanal por apenas um dia na Capital.
O candidato do MDB promete não estender a terceirização dos hospitais públicos, apesar de lei aprovada pelo legislativo permitindo o repasse para as Organizações Sociais. Para tirar a propagada regionalização da saúde, uma promessa repetida a exaustão desde 1998, ele aposta nos consórcios municipais. O Governo repassaria um percentual e as prefeituras se uniriam para administrar os hospitais regionais.
“Não vou reinventar a roda”, pontua. Ele diz que pedirá conselhos a André Puccinelli porque ele fez um bom governo. “Posso pedir conselhos até ao Zeca do PT”, conta, explicando que o objetivo é adotar um perfil diferente.
A candidata a vice-governadora é a ex-secretária estadual de Assistência Social, Tânia Garib, a qual aponta como fiadora da política social de sua eventual administração.