A advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva, mulher do juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior, pagou R$ 5 mil para um homem assumir a procuração e transferir R$ 1,5 milhão. A revelação consta do depoimento de Delcinei de Souza Custódio, acusado de integrar a quadrilha presa por dar golpe de R$ 5,3 milhões em um aposentado do Rio de Janeiro.
Como o processo tramita em sigilo na 3ª Vara Criminal de Campo Grande, novos detalhes só foram tornados públicos em despacho do vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Humberto Martins. Ele negou o pedido de habeas corpus de Delcinei em 27 de julho deste ano.
Veja mais:
Mulher de juiz, advogada é presa acusada de dar golpe de R$ 5,3 milhões em aposentado
Na mira do CNJ, juiz nega privilégio e diz que advogada, esposa de magistrado, enganou Justiça
O ministro descreve trechos da análise da Justiça estadual, na qual o acusado dá detalhes do seu envolvimento no golpe. Dois policiais civis afirmam ter ouvido o suposto golpista revelar que recebeu o dinheiro para fornecer os dados e assumir a procuração para representar João Nascimento dos Santos, personagem fictício usado para dar o golpe no aposentado de 72 anos.
Em interrogatório, conforme o ministro, Delcinei confirmou que Emmanuelle pegou seus dados para providenciar a procuração em nome do correntista do Banco Santander. Os comparsas teriam lhe informado de que o pecuarista estava acamado e não poderia comparecer ao banco.
Ele contou que foi orientado a ir ao Santander e fazer quatro TEDs (transferência eletrônica) no valor de R$ 375 mil cada. Pelo serviço de transferir R$ 1,5 milhão, Delcinei recebeu R$ 5 mil.
Além da advogada e de Delcinei, a Dedfaz (Delegacia Especializada em Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários) prendeu Ronei Oliveira Pécora e José Geraldo Tadeu de Oliveira.
Para conseguir dar o golpe, o grupo usou documento falso e convenceu o juiz Paulo Afonso Oliveira, da 2ª Vara Cível de Campo Grande, a bloquear os R$ 5,317 milhões da conta do idoso de Petrópolis. Apesar de ter sido alertado pela advogada do aposentado, de que se tratava de um golpe e a assinatura era falsa, o magistrado liberou o dinheiro para saque.
Os golpistas sacaram o dinheiro e fizeram transferência para várias contas. Ao ser alertado pela Dedfaz do golpe, o magistrado recuou e determinou que a suposta quadrilha devolvesse o dinheiro ao aposentado.
Segundo despacho do ministro Humberto Martins, o quarteto responde pelos crimes de estelionato, falsificação de documento particular, falsidade ideológica e uso de documento falso.
A juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal, decretou sigilo absoluto do caso. A justificativa é porque envolve dados fiscais e bancários dos suspeitos e da vítima.
A princípio, o fato de o caso tramitar na surdina não tem nada a ver com o envolvimento da esposa de um magistrado sul-mato-grossense.
Juíza impõe medidas cautelares e determina soltura de acusados
Com base em determinação do ministro Sebastião Reis, do STJ, a juíza Eucélia Moreira Cassal determinou a soltura dos três homens presos acusados de ajudar a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva a dar o golpe de R$ 5,3 milhões. Eles serão colocados em liberdade mediante o cumprimento de medidas cautelares.
Ronei Pécora, Delcinei Custódio e José Geraldo Tadeu de Oliveira estão presos desde o início de julho deste ano. Eles deverão comparecer quinzenalmente ao juízo, não se ausentar da comarca sem autorização e obrigados ao recolhimento noturno.
Ao Campo Grande News, o advogado Wilson Tavares, que defende os acusados, contou que o habeas corpus foi concedido pelo ministro Sebastião Reis na quinta-feira. No entanto, o benefício não consta no site do STJ. A última movimentação publicada é de que o processo tinha sido encaminhado para parecer do MPF.
O advogado está otimista quanto ao pedido de Emmanuelle, que será analisado pelo ministro Antônio Saldanha Palheiro.
1 comentário
Pingback: Juíza mantém tornozeleira e marca julgamento de mulher de juiz por golpe de R$ 5,3 milhões – O Jacaré